segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Máquinas de lavar podem esconder superbactérias, diz estudo

A equipe de um hospital pediátrico da Alemanha se esforçava para redobrar os cuidados com a higiene da ala neonatal. Ainda assim, continuavam com o mesmo problema: um tipo de bactéria super-resistente continuava a aparecer na pele de alguns bebês prematuros, que viviam na unidade de tratamento intensivo. 

Ainda que os profissionais monitorassem as incubadoras e exigissem um asseio cada vez maior de quem trabalhava ali, nada adiantava. Foi quando alguém teve a ideia de analisar itens de vestuário como gorros e meias, usados para manter os pequenos aquecidos. Dito e feito. A culpa era das peças de roupa que, mesmo após lavadas, permaneciam contaminadas. 

A tal bactéria intrusa era a Klebsiella oxytoca, capaz de causar infecções gastrointestinais e respiratórias severas. A forma de contágio, no entanto, era a parte mais curiosa de toda a história. Abrigada no depósito de sabão e na porta da máquina de lavar do hospital (e também em duas pias), a bactéria acabava migrando para as roupas dos bebês durante a lavagem. 

Os testes com os recém-nascidos foram feitos por cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, entre abril de 2012 e maio de 2013. Mas os resultados só foram publicados em um estudo científico da revista Applied and Environmental Microbiology, divulgado na última semana.

Depois de identificar a origem do problema, os pesquisadores descobriram que essa contaminação era fruto de um erro grave. Em vez de higienizar as peças de roupa usando uma máquina de lavar ultra-potente, apta para esterilizar os itens e eliminar qualquer traço de micróbios, o hospital recorria à uma lavadora comum – dessas que usamos em casa – localizada fora da lavanderia do hospital.

O uso de máquinas de lavar industriais, que aquecem a altas temperaturas, minimiza ao máximo o risco de bactérias. Segundo dizem os cientistas no estudo, só temperaturas acima dos 60 ºC são capazes de matar esse tipo específico de micróbio. Equipamentos convencionais, projetados para economizar energia, por outro lado, eram o local perfeito para Klebsiella oxytoca dar as caras. Depois que a máquina contaminada foi removida do hospital, as infecções pararam. Como a super-bactéria foi parar lá, no entanto, segue sendo um mistério.

Antes de que você, leitor, comece a fazer o orçamento de uma máquina de lavar industrial para a sua residência, vale a pena observar alguns pontos. O primeiro é que a contaminação que estudo descreve aconteceu em uma única máquina de lavar. Outro fator importante é que o equipamento estava em um hospital, local onde, tradicionalmente, há uma variedade maior de bactérias e um maior risco de contaminação.

De acordo com pesquisadores, cuidados como lavar roupas a temperaturas altas ou com desinfetantes mais potentes só são recomendados em casos específicos. Um exemplo são casas de repouso ou lares de idosos nas quais existam “idosos que demandam acompanhamento médico e têm feridas abertas ou cateteres da bexiga”, disse em comunicado Martin Exner, pesquisador que liderou o estudo. Para os mais jovens, os cuidados extras também podem ser necessários em caso de deficiência imunológica grave ou cortes abertos.

Felizmente, porém, a maioria das bactérias presentes em nosso corpo e roupas não são nocivas à saúde – e uma parte considerável da sujeira comum é levada embora com a ação de uma máquina de lavar comum. E outra: uma vez que micróbios estão por todo canto, o cuidado com as roupas deve ser apenas mais uma etapa dos hábitos de higiene. De nada vale manter o figurino em dia se sua casa for mal ventilada, úmida e escura, por exemplo.


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