Os egípcios eram obcecados pela arte da mumificação. Além de seres humanos, sabe-se que gatos, raposas, macacos, cavalos, leões e outros bichos também foram habilmente preservados graças a essa técnica.
A lógica era a mesma para todos: acontecia porque a sociedade do Antigo Egito acreditava na vida após a morte. De acordo com a crença, um dia o espírito iria voltar ao corpo, e, por isso, o “receptáculo” precisaria estar plenamente preservado. A tradição era tão forte na cultura que abrangia qualquer um. Um plebeu não era mumificado da mesma foram que o Imperador, é claro – existiam técnicas mais avançadas para os nobres e técnicas mais simples para a plebe – mas absolutamente todos zelavam pelos corpos de seus entes queridos.
E pelos corpos dos bichos. Para os egípcios, muitos animais representavam intermediários entre mortais e deuses, ou até mesmo encarnações de diferentes deidades. Por isso mumificá-los e guardar essas espécies nos túmulos era algo muito valorizado.
Você, leitor, pode estar se perguntando agora: “Ok, SUPER, mas se existe um monte de bicho mumificado, o que tem de especial o fato de crocodilos também serem?”.
Na verdade, a questão não é nem o animal mumificado, mas a forma com que ele era obtido. Em um certo momento, o embalsamamento de bichos acabou virando uma certa “indústria” do Egito Antigo. Como não dava pra sempre esperar uma morte natural do bicho para produzir uma múmia dele, o jeito era garantir um suprimento constante.
Surgiram, então, os fabricantes de bichos embalsamados. Eles contavam com uma série de estratégias de obtenção – desde recuperação de carcaças de animais selvagens até a criação de animais com o único objetivo de garantir múmias no futuro.
Agora, cientistas da Universidade Paul Valéry, de Montpellier, na França, atestaram que também havia uma outra opção, um pouco mais cruel: a caça. Egípcios matavam animais selvagens em seu habitat natural só para mumificar. De acordo com os pesquisadores, essa é a primeira evidência concreta da caça de animais com esse fim.
O grupo chegou a essa conclusão a partir de uma “autópsia virtual” em uma múmia de crocodilo com cerca de 2.000 anos. A peça foi descoberta por arqueólogos que escavaram a cidade de Kom Ombo, no Egito, no início do século 20.
No estudo, os autores relatam ter se surpreendido ao encontrar uma lesão grave na cabeça do réptil. “A causa mais provável de morte é uma séria fratura no crânio que causou um trauma direto no cérebro”, escrevem. “O tamanho da fratura, bem como sua direção e forma, sugerem que ela foi feita por um único golpe, provavelmente com um grosso taco de madeira”.
Hoje, o tal crocodilo é uma das 2.500 múmias de animais expostas no Museu das Confluências, em Lyon, na França. Com base nos resultados da nova análise, o animal, um crocodilo macho com cerca de um metro e meio de comprimento, tinha de 3 a 4 anos de idade no momento em que foi sacrificado. Segundo as crenças egípcias, os crocodilos estavam associados a Sobek, deus da fertilidade que tinha cabeça de um réptil e corpo de homem.
O estudo foi publicado na revista científica Journal of Archaeological Science.
Egípcios caçavam crocodilos só para transformá-los em múmias Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
Nenhum comentário:
Postar um comentário