domingo, 7 de junho de 2020

Hospitais de transição podem aliviar o caos na saúde brasileira

Os números da pandemia do novo coronavírus — que já não é mais novo de tanto que se fala no assunto e de como mudou nossas vidas — não param de assombrar. Nas últimas semanas, várias regiões do país sofreram com a falta, ou o temor da falta, de leitos de UTI em hospitais.

Em Minas Gerais, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a taxa de ocupação ultrapassou os 60%. Na Grande São Paulo, chegou a 90%, de acordo com o governo do estado. No Amazonas, a situação é de colapso: 96% de ocupação.

Em meio a tantos questionamentos que a Covid-19 provoca, a sustentabilidade do sistema de saúde se destaca. Temos hospitais e equipes de assistência suficientes? Uma estrutura adequada para lidar com uma situação como esta? Se criticar o cenário durante o furacão parece fácil, ignorar o aprendizado que ele traz é difícil. E ele traz muitos.

No atual sistema brasileiro formado para cuidar da saúde da população, existem formas de não sobrecarregar os hospitais emergenciais. Mas falta conhecimento sobre isso… e mais unidades. Um exemplo dessa alternativa são os chamados hospitais de transição. Eles são indicados a pessoas que estiveram (ou estão) internadas por um tempo e ainda precisam de cuidados médicos essenciais, mas não demandam intervenções de alta complexidade ou terapia intensiva (fornecidas pelos hospitais gerais).

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Em uma população com expectativa de vida cada vez mais alta, que nos leva automaticamente a um novo perfil epidemiológico de doenças prevalentes, essas instituições aparecem como uma boa opção para pacientes com enfermidades crônicas ou degenerativas.

Essas pessoas requerem tratamento especial e cuidados prolongados que visem a reabilitação, readaptação e reinserção social, garantindo maior autonomia e melhor qualidade de vida. São cuidados continuados e integrados que, ainda mais com a pandemia, os hospitais emergenciais não têm como ofertar.

Os hospitais de transição contam com equipes médicas e multiprofissionais treinadas, sólidas medidas de segurança assistencial e menores taxas de infecção. É tudo que um paciente se recuperando de Covid-19 e ainda não apto a voltar para casa, por exemplo, precisa.

E bastaria a transferência para uma unidade de transição para que aquele leito, até então ocupado no hospital geral, pudesse servir a alguém em fase aguda de tratamento e com necessidade de maior suporte tecnológico, cirúrgico e monitoramento intensivo.

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Os hospitais de transição podem ajudar (e muito) em casos de tragédias envolvendo grande número de pessoas. Mas falta organizar melhor o sistema. Se a quantidade de instituições desse tipo fosse maior, teríamos mais profissionais e leitos disponíveis para as vítimas do coronavírus. E, pensando além da pandemia, podemos visualizar como esses locais auxiliam a promover uma medicina mais personalizada, preventiva e integrada.

Se as unidades básicas de saúde (UBS), as unidades de pronto atendimento (UPA, os hospitais de transição e os centros especializados cumprirem seus papéis, os hospitais emergenciais conseguirão atender mais e melhor. Mas, para isso, é preciso esquecer a ideia de que agora não há mais nada o que se possa fazer. Pelo contrário. Mais do que nunca, temos que fazer e sabemos o que fazer.

* Carlos Costa é presidente da Rede Paulo de Tarso de Cuidados Continuados e Integrados


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