quarta-feira, 27 de maio de 2020

Abelhas “mordem” plantas para estimular florescimento, indica estudo

Que abelhas e plantas se dão bem, todo mundo sabe: no processo conhecido como polinização, abelhas voam de flor em flor para se alimentar do pólen, transferindo células reprodutivas de uma planta para outra. Mas algo novo acaba de ser descoberto sobre o processo: as abelhas têm um truque para quando há poucas flores no ambiente. Um estudo de pesquisadores suíços descobriu que abelhas do gênero Bombus “mordiscam” folhas de plantas que ainda não deram flores, o que faz com que o processo de florescimento aconteça mais rapidamente do que o normal. 

Tudo começou quando os pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique observaram o comportamento de abelhas em estufas de laboratório. Eles perceberam que os insetos frequentemente faziam pequenas perfurações nas folhas das plantas, mas não pareciam estar se alimentando delas. Os cientistas também perceberam que o comportamento era mais frequente em colônias com menos acesso à comida, o que levou a equipe a se questionar se haveria alguma relação com o pólen.

Estudos anteriores já haviam mostrado que uma variedade de estressores ambientais, como doenças ou períodos de seca, podem levar ao aparecimento de flores mais rapidamente em algumas espécies, o que fez a equipe teorizar se o mesmo poderia estar por trás do comportamento das abelhas. Para testar, a equipe preparou três estufas com plantas de tomate e de mostarda-preta. Em uma delas, as plantas tinham contato com abelhas propositalmente esfomeadas, que faziam as pequenas perfurações em suas folhas; na segunda estufa, usada como controle, o florescimento acontecia sem qualquer interferência; e, na terceira, os próprios pesquisadores fizeram pequenos furos nas plantas com agulhas e outros equipamentos para simular as perfurações feitas por abelhas.

Os resultados, publicados na revista Science, foram chocantes: as plantas que haviam sido levemente danificadas pelas abelhas floresceram em média 16 dias antes em relação ao grupo de controle no caso da mostarda-preta, e até um mês antes no caso dos tomates. Ou seja, as perfurações das abelhas realmente parecem levar a um florescimento mais rápido nestas espécies.

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Mas o que intrigou mais os pesquisadores foram as plantas do terceiro grupo (aquelas que eles mesmos haviam furado). Neste caso, as plantas também deram flores antes do grupo de controle, mas a diferença foi muito menor: cerca de 5 a 8 dias antes, apenas. Ainda não se sabe ao certo o porquê: pode ser que, por mais que os humanos tentem imitar as perfurações das abelhas, o resultado final nunca é 100% igual. Ou pode ser que as abelhas liberem algum tipo de substância química no processo que estimule o florescimento – mas isso é apenas uma hipótese e não há nenhuma evidência concreta apontando para esse caminho.

A pesquisa também constatou que esse tipo de comportamento das abelhas é mais frequente quando há escassez de pólen no ambiente, o que leva os insetos famintos a estimular o surgimento de novas flores para se alimentar no futuro. Um dos momentos em que a estratégia é mais usada é quando abelhas acordam da hibernação antes do esperado – nestes casos, há menos flores disponíveis devido à época do ano. Além disso, duas espécies diferentes participaram do estudo e tiveram resultados similares, sugerindo que o comportamento não é específico e parece ser generalizado pelo menos para o gênero Bombus (o tipo mais comum de abelha na Europa). Por fim, a equipe repetiu o experimento com abelhas criadas fora de laboratório, para se certificar que não era algo específico daquelas espécimes, e o resultado continuou igual.

Os pesquisadores também acreditam que a estratégia é uma resposta às mudanças climáticas de causa antrópica, que desregulam os ciclos de florescimento natural das plantas devido ao aumento da temperatura, fazendo com que o florescimento aconteça durante épocas em que abelhas estão hibernando, por exemplo. “A demonstração de que o dano causado pelas abelhas tem fortes efeitos no tempo da florescimento pode ter implicações ecológicas importantes, inclusive para a resiliência das interações planta-polinizador contra as mudanças ambientais antropogênicas”, escreveram os autores no estudo.


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