As formigas vivem em sociedades extremamente organizadas. Em seu sistema de castas, cada um dos subgrupos têm funções muito bem definidas. A rainha, como o nome sugere, tem uma importância central, pois é a única fêmea fértil, capaz de gerar novos indivíduos para o formigueiro. Os machos, por outro lado, estão ali apenas para inseminar as rainhas, morrendo pouco tempo depois de cumprir seu papel. Por fim, temos as operárias, todas fêmeas inférteis, que são maioria nos formigueiros. Essas realmente pegam no batente, sendo responsáveis por buscar comida, manter a limpeza e cuidar da rainha e de seus filhotes.
Um formigueiro pode ter várias rainhas ou uma só, dependendo da espécie. Em algumas espécies, quando há apenas uma matriarca e ela morre sem uma sucessora, a colônia se desfaz lentamente. Afinal, conforme a população bate as botas, não há ninguém para repor os indivíduos perdidos. A taxa de natalidade cai a zero. Para evitar o colapso, as operárias precisam fornecer uma alimentação especial a algumas larvas, de maneira que elas cresçam e deem origem a novas rainhas. Assim, o formigueiro ganha uma nova monarca.
Na maioria das espécies de formigas, a sociedade é estratificada. A formiga nasce pertencente a um dos subgrupos e morre dessa mesma forma. Porém, sempre há exceções. Quando a rainha morre no formigueiro das formigas-saltadoras-de-jerdon (nome científico Harpegnathos saltator), elas não precisam se preocupar se há ovos de uma possível nova rainha em desenvolvimento. Porque as operárias conseguem mudar seu status. Sim, formigas inférteis se tornam férteis em um passe de mágica biológico.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, analisaram o comportamento da espécie e perceberam que, após a morte da monarca, as operárias se tornam gamergates. Oi? O termo gamergate foi cunhado em 1983 a partir das palavras gregas “gámos” e “ergátēs”, que juntas significam algo como “operária casada”. Quando uma operária se torna gamergate, ela ganha benefícios. Por exemplo: sua expectativa de vida sobe de sete meses para três anos, uma vida útil mais condizente com suas funções.
Você deve estar se perguntando: como é feita essa transição? Afinal, adquirir um comportamento reprodutivo totalmente distinto do anterior – e conquistar, de quebra, um anabolizante de longevidade – não é algo que se resolve simplesmente colocando uma coroa na cabeça. Para descobrir o truque por trás da ilusão, os biólogos compararam a distribuição das populações de dois tipos de células do cérebro das operárias (as neuronais e gliais) antes e depois da transição.
Eles perceberam que, a medida em que as operárias se tornavam gamergates, as células da glia se multiplicavam – e isso parece impactar a personalidade dos bichinhos. As células da glia são parecidas com a equipe de enfermeiros, carinhas do Gatorade e fisioterapeutas que presta auxílio aos jogadores nas laterais do campo. Elas nutrem e apoiam os neurônios, que são os protagonistas. Apesar dos cientistas terem divulgado detalhes sobre a mudança de comportamento, ainda não está claro como a formiga tem seus ovários ativados. Essa é uma outra história.
Os pesquisadores queriam confirmar se a expansão da glia também tem relação com a longevidade do animal. Então, cutucaram o cérebro de várias formigas com um alfinete minúsculo para ver como o corpo reagiria às lesões. O cérebro das gamergates ativou o gene Mmp1, ligado a remodelação de tecidos, com mais intensidade do que ocorre com o resto das operárias. Isso significa que estas formigas podem reparar possíveis lesões cerebrais mais facilmente e, consequentemente, viver mais. Para a formiga malandra, perder sua líder tem lá suas vantagens.
Nesta espécie, as formigas operárias podem passar para o status de rainha Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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