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Olhe bem para o seu braço. Ele é uma maravilha da engenharia. O problema é que você provavelmente nunca parou para prestar atenção na eficácia que esse naco de carne, osso e tendões é capaz de alcançar em uma gama de tarefas muito variada – que vai de tocar a piano a talhar uma escultura, passando pelo desafio falsamente banal de digitar no computador. Em geral, só notamos nosso próprio corpo quando há algo de errado com ele.
Para que você dê a devida atenção ao milagre da engenharia que é você mesmo, o psicólogo Steven Pinker, de Harvard, propõe o seguinte experimento: Sabe aquela lâmpada basculante da Pixar, que pode ser puxada para lá e para cá graças a um sistema de molas e dobradiças? Talvez você tenha uma dessas em casa. Vá até ela e mexa a dita-cuja. Perceba que, conforme você move o soquete da lâmpada, todas aquelas dobradiças e molas fazem uma dança sutil para acomodar a força que você exerceu.
Agora imagine que não há força. Que a lâmpada fosse um robozinho autônomo, capaz de executar o movimento sem uma força externa para guiá-lo. Esse robozinho precisaria fazer engenharia reversa: calcular exatamente quanto ele precisaria mover cada mola e dobradiça para alcançar o resultado desejado.
Com exceção da pequena porcentagem de pessoas formadas em engenheira mecatrônica no planeta, ninguém saberia fazer essas contas. Mesmo assim, seu cérebro faz contas similares, mas ainda mais difíceis, toda vez que você se move. Para todas as articulações do seu corpo. E você nem fica sabendo – é tudo inconsciente.
Essa é só a ponta do iceberg. No livro Como a Mente Funciona, Pinker nos leva para um passeio por todas as coisas verdadeiramente impressionantes que acontecem dentro da nossa cabeça sem percebermos.
Alguns exemplos: um pedaço de carvão em uma sala iluminada reflete mais luz que um bola de neve em uma sala escura; mesmo assim, seu cérebro sabe que um dos objetos é preto, e o outro, branco. Esse computador de carne distingue a letra F, ou G, ou C, em bold e itálico em qualquer uma das centenas de fontes disponíveis no Word, e reconhece o rosto de pessoas familiares de qualquer ângulo.
O impressionante é que, enquanto realizavam esses feitos cotidianos, as massas cinzentas de vários humanos brilhantes foram capazes de criar a Relatividade Geral, a Nona Sinfonia, a Ilíada e a Odisseia, desvendar a estrutura da molécula de DNA e descobrir a seleção natural. Tudo isso para manipular as emoções e virar de ponta-cabeça a compreensão do mundo de outros humanos.
Ou seja: faz 300 mil anos de Homo sapiens que o cérebro é o auge da modinha do multitasking. Para separar as coisas que você quer rodar em primeiro plano – como fazer ciência e arte de altíssima qualidade – e as coisas que você prefere não perceber que faz, como respirar, digerir mover seus braços ou reconhecer letras, cores e rostos, seu cérebro usa um recurso chamado consciência. Ele gera esse aí “eu” aí dentro, que inclusive é capaz de decidir ler um livro de Steven Pinker para satisfazer sua curiosidade sobre si mesmo.
A satisfação exige um pouco de esforço, é claro: Como a Mente Funciona tem 672 das páginas mais cabeçudas já publicadas no Brasil. Mas a dificuldade dos assuntos abordados é compensada pela elegância do autor, que navega entre o edifício de mármore teoria da evolução de Darwin e os experimentos engenhosos neurociência contemporânea para fornecer uma perspectiva renovada sobre a mente humana. Se você estava atrás de autoconhecimento, acabou de encontrar.
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Livro da Semana: “Como a Mente Funciona”, de Steven Pinker Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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