A vida começa a ficar sem graça, sem brilho. Às vezes, bate uma sensação de culpa ou falta prazer naquela atividade que antes era divertida. O sono fica instável: algumas pessoas passam noites em claro, outras dormem demais. Quase sempre há falta de disposição, de motivação, de energia.
Esses são alguns dos sintomas da depressão, doença que afeta 5,8% das pessoas no Brasil, ou seja, 12 milhões de indivíduos – o equivalente ao total de habitantes da cidade de São Paulo, a mais populosa do país. Em casos mais graves, se não houver diagnóstico e tratamento, ela pode levar ao suicídio. Aqui os números também são elevados: anualmente, há mais de 1 milhão de suicídios no mundo, 11 000 só no Brasil.
Acolher para tratar: o Movimento Falar Inspira Vida
Divulgar informações, conversar abertamente sobre a depressão e ter uma escuta acolhedora são passos fundamentais para desconstruir preconceitos e estimular a busca por ajuda especializada.
Essa é a base do Movimento Falar Inspira Vida, uma iniciativa liderada pela Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, que acaba de ser lançada em parceria com instituições que defendem a causa da saúde mental: Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), associação Crônicos do Dia a Dia (CDD), Centro de Valorização da Vida (CVV), Instituto Vita Alere, Vitalk e VejaSAÚDE.
“A busca por apoio multidisciplinar faz parte da jornada que pode transformar a vida de milhões de pacientes, mas depende do engajamento de todos ao redor”, comenta Fábio Lawson, diretor médico da Janssen. O movimento tem como objetivo requalificar, por meio do conhecimento, a maneira como dialogamos sobre a depressão e estimular a construção de um ambiente no qual o paciente se sinta acolhido e engajado a procurar ajuda especializada. “O Movimento Falar Inspira Vida é essencial para abrir o diálogo sobre a saúde mental. Conversar a respeito e buscar tratamento multidisciplinar realmente salva vidas”, completa Ines Hungerbühler, chefe do Departamento de Psicologia da Vitalk.
Para cumprir com essa missão, o movimento criou um guia que explica como falar da maneira mais adequada sobre depressão e suicídio, utilizando como base expressões e comentários corriqueiros. O material é resultado de um trabalho coletivo entre os membros do movimento e trata dos desafios da depressão com uma linguagem informal e acessível ao público leigo. Ao final, exemplifica situações comuns vivenciadas no dia a dia, quando lidamos com pessoas que podem estar com depressão, sugerindo diálogos mais acolhedores e estimulando a busca de orientação médica. A ideia é que o guia seja compartilhado por qualquer pessoa que queira ajudar a transformar a realidade dos transtornos mentais.
“Esse movimento é fundamental para entendermos que compartilhar experiências, sejam alegres ou tristes, nos torna mais humanos. É dessa forma que nos conectamos com os outros e criamos relações. É desse compartilhamento que nasce o respeito, o entendimento e o caminho para que sigamos com saúde e qualidade de vida. Ter o entendimento correto sobre a doença e conversar sobre nossas condições ajuda a quem fala e a quem escuta. Falar realmente inspira vidas”, diz Bruna Rocha, gerente-geral da Crônicos do Dia a Dia (CDD).
É preciso desmitificar
Considerada o mal do século e ocupando a quarta posição entre as principais causas de incapacitação, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é caracterizada por angústia, ansiedade exacerbada, baixa autoestima, insônia (ou excesso de sono), falta de interesse por atividades que antes davam prazer, pensamentos pessimistas, às vezes sobre a morte, comportamentos compulsivos, dificuldade para se concentrar, problemas ou disfunções sexuais, sensação de impotência ou incapacidade para os afazeres do dia a dia. A lista é extensa, e, para quem nunca teve a doença, entender o que se passa com quem sofre do transtorno pode ser difícil.
Ao contrário do que alguns pensam, a depressão não é coisa de rico ou de quem não tem mais o que fazer. Muito menos é sinal de fraqueza. Quem sofre do transtorno não se faz de vítima nem consegue, simplesmente, “dar uma animada”. Essas e outras crenças, infelizmente, reforçam estigmas em torno da saúde mental, muitas vezes decorrentes da falta de entendimento. Com medo do julgamento, de ser um fardo ou de não ser acolhido, há quem evite expor o que está sentindo. O pedido de ajuda passa despercebido por familiares e amigos.
De acordo com Bruna, várias hipóteses procuram justificar o preconceito em relação à depressão. “A nossa cultura tem extrema dificuldade em falar sobre seus sentimentos e emoções. Além disso, vivemos em uma sociedade que hipervaloriza a demonstração de produtividade, felicidade e que, por outro lado, vê como fraqueza as pessoas que demonstram sua condição real de saúde mental”, explica.
Já Ines alerta para a necessidade de reconhecer que a depressão não é uma fraqueza moral ou falta de caráter. “Trata-se de uma doença psiquiátrica que precisa ser tratada adequadamente – do mesmo jeito como tratamos qualquer doença física séria. O que ajuda a diminuir o estigma social é a informação, a conscientização, a conversa e uma cultura aberta para falar sobre o emocional, inclusive no ambiente de trabalho”, conta a psicóloga.
Falar Inspira Vida: uma conversa sobre a depressão Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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