quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Bactérias podem sobreviver 3 anos no espaço, mostra experimento japonês

Bactérias extremófilas são capazes de sobreviver em ambientes completamente inóspitos. Existem, por exemplo, as que se dão muito bem no frio ou conseguem se multiplicar em regiões escaldantes. Há, ainda, as que não se importam com um ambiente super ácido ou as que, por se esconderem no leito dos oceanos, vivem sob uma pressão altíssima.

Na lista de micróbios com habilidades extremas, porém, um tipo se destaca: as bactérias do gênero Deinococcus. Não existe na Terra um local radioativo o suficiente para fazer frente a elas. Por suportarem doses de radiação 3.000 vezes maiores que os humanos, já foram encontradas vivendo numa boa em áreas que foram palco de acidentes nucleares, como Chernobyl e Fukushima.

Essa habilidade incomum fez cientistas japoneses questionarem se as Deinococcus estariam aptas a viver numa região onde a radiação pode ser ainda mais intensa: o espaço. Em maio de 2017, eles descobriram que sim, tais bactérias não apenas sobrevivem na órbita da Terra como permanecem vivas por pelo menos um ano.

Agora, a mesma equipe tem evidências para afirmar que essa meta de vida pode ser ainda maior. Bactérias do gênero Deinococcus, durante um experimento, resistiram por mais de 3 anos no espaço. O estudo que comenta a descoberta foi publicado na revista científica Frontiers of Microbiology.

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A descoberta é assinada pela missão Tanpopo, lançada em 2015 e mantida por pesquisadores de universidades do Japão e pela Jaxa, a Nasa japonesa. Seu objetivo é investigar, usando as instalações da ISS (Estação Espacial Internacional), a chamada teoria da panspermia.

Trata-se de uma teoria controversa, que sugere que micróbios são capazes de migrar de um planeta para o outro grudados em asteroides e cometas. Assim, podem dar origem a vida em locais antes inóspitos. Mas para saber se isso é mesmo uma possibilidade é preciso entender, primeiro, a tolerância que micróbios possuem a mudanças drásticas de temperatura e altos níveis de radiação, condições que eles encontrariam em viagens espaciais.

No mais novo estudo, iniciado em 2018, cientistas reuniram colônias de bactérias desidratadas de três espécies do gênero Deinococcus, e as posicionaram em placas de alumínio. Essas placas, depois, foram colocadas do lado de fora da ISS, e acompanhadas ao longo dos últimos 3 anos.

Após trazerem as amostras de volta à Terra e hidratarem as bactérias, cientistas perceberam que os micróbios que estavam na superfície da colônia morreram por conta da radiação. Mas aquelas que estavam em camadas inferiores, porém, tiveram seu DNA protegido – e ainda estavam intactas depois de 3 anos.

E, de acordo com estimativas dos cientistas, sua expectativa de vida fora da Terra pode ser ainda maior. Em colônias com espessura maior que 0,5 milímetro, bactérias poderiam viver mais de 8 anos no espaço – um tempo suficiente para sobreviver a uma eventual mudança interplanetária, argumentam os pesquisadores.

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“Os resultados sugerem que as Deinococcus poderiam sobreviver à viagem entre Terra e Marte e vice-versa, uma missão que poderia durar meses ou até anos”, disse em comunicado Akihiko Yamagishi, professor da Universidade de Tóquio que lidera a missão Tanpopo. “Se a panspermia é mesmo possível, a vida pode existir com uma frequência muito maior do que imaginávamos”.

Ainda é cedo para cravar que a vida na Terra tenha começado com um micróbio alienígena que veio parar por aqui na cauda de um cometa, é claro. Segue sendo mais provável que as primeiras formas de vida terrestre tenham despontado com a combinação de moléculas orgânicas da chamada “sopa primordial”.

Mesmo assim, o que a missão Tanpopo mostra é que humanos precisam ter cuidado redobrado em viagens espaciais futuras. Vai que, ao colocar os pés em outro planeta, levamos de carona um micróbio terrestre ultra-resistente?


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