Estudos apresentados no Congresso da Associação Americana do Coração, realizado em novembro na Filadélfia (EUA), podem contribuir para a prática médica e a melhoria da vida dos pacientes. Um dos mais relevantes refere-se ao tratamento da insuficiência cardíaca com dapagliflozina, um medicamento originalmente usado para o diabetes.
O fármaco foi testado em pacientes com e sem a doença. Os resultados surpreenderam: reduziram-se as hospitalizações por insuficiência cardíaca também naqueles que não são diabéticos. Cabe destacar que as internações frequentes reduzem a expectativa de vida dessas pessoas.
A dapagliflozina é um remédio tomado por via oral, que tem ação diurética, baixa a pressão arterial, protege o rim e melhora o controle glicêmico. Surge, assim, uma opção adicional e segura para tratar a insuficiência cardíaca em pacientes sem diabetes.
Outra pesquisa importante constatou não haver diferença na eficácia dos resultados entre o tratamento com medicamentos e a realização de cateterismo em indivíduos com obstruções nas artérias coronárias. Porém, o tratamento clínico não invasivo só se aplica a pacientes que estejam em condição estável e não tenham lesões no tronco da coronária esquerda. A vantagem do tratamento medicamentoso é que se reduz a necessidade de internações e implante de stents.
Algo relevante destacado em outra pesquisa: levar os níveis sanguíneos da lipoproteína de baixa densidade (LDL), conhecida como “colesterol ruim”, para valores abaixo de 70 mg/dL diminuiu a ocorrências de eventos cardiovasculares (infarto, AVC ou morte) em pacientes que já sofreram um acidente vascular cerebral, sem apresentar outros efeitos indesejáveis.
A medicina tem evoluído no desenvolvimento de novos remédios para controlar o colesterol. Uma área de grande interesse é a de biotecnologia. Nesse sentido, está sendo avaliada uma molécula que, injetada a cada seis meses e associada ao tratamento clínico convencional, reduziu em até 58% os níveis de LDL. Isso ocorreu de modo duradouro, em pacientes com doença cardiovascular.
Trata-se de uma nova perspectiva para que haja maior número de pacientes controlados com uma única aplicação semestral. Estudos avaliando se esse medicamento reduz eventos cardiovasculares estão em curso. Se mostrarem benefícios, essa opção poderá ser incorporada ao tratamento dos quadros mais graves, contribuindo inclusive para uma maior adesão medicamentosa.
Também se destaca uma pesquisa que avaliou o uso de colchicina em dose baixa (0,5 mg), um medicamento anti-inflamatório que, neste caso, foi utilizado para controlar a inflamação em pessoas após uma recente síndrome coronariana aguda (infarto do miocárdio ou angina instável). Foi feita uma comparação com o uso de placebo, além do tratamento global dos fatores de risco.
As conclusões, ao final de dois anos, foram de que houve redução do risco de morte cardiovascular, parada cardíaca ressuscitada, infarto do miocárdio, AVC, angina requerendo hospitalização ou necessidade de revascularização. É uma ótima notícia.
Temos, enfim, boas as perspectivas de que novas terapias sejam incorporadas à prática clínica, visando à redução dos eventos cardiovasculares, melhora da sobrevida e da comodidade de tratamento.
*Dra. Maria Cristina Oliveira Izar é cardiologista e diretora científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Os grandes avanços da cardiologia Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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