quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Como é o futuro distópico de Laranja Mecânica?

FICHA TÉCNICA

Autor Anthony Burgess (1917-1993)

Publicação 1962

Sinopse O jovem Alex passa as noites com uma gangue de amigos violentos. Depois que é preso, se submete a uma técnica de modificação de comportamento para poder ganhar a liberdade.


Violência até o caroço

Nessa sociedade, o grande problema de segurança pública não são os assaltantes ou os terroristas. São os delinquentes juvenis, sobretudo os da  classe média. Esses jovens se reúnem em gangues para usar drogas e cometer atos de “ultraviolência”, como espancamentos e estupros coletivos. Ninguém é poupado, mas idosos e crianças são as principais vítimas.

Distopia diferente

Apesar de um governo totalitário e constantes tensões políticas, a economia caminha normalmente. Comparada a outras distopias literárias, não há nada de especialmente perigoso nesta aqui. O único desafio são os jovens rebeldes. Em parte, a culpa é dos pais, que transferiram a responsabilidade de educá-los ao Estado, tornando-se cada vez mais ausentes.

Burgess escreveu esse e outros quatro livros em apenas um ano, porque havia sido erroneamente diagnosticado com um câncer no cérebro.

Pretérito do futuro

Quando acontece a trama? Não se sabe. Alguns detalhes políticos e sociais indicam que ela se passa numa Inglaterra futurista. Mas a tecnologia às vezes parece moderna, às vezes parece antiga. Beethoven e Elvis Presley são citados pelos personagens. No filme de Stanley Kubrick inspirado pelo livro, uma loja de discos chega a expor obras dos Beatles como novidade.

Leite com pera

Como a venda de álcool é restrita, popularizaram-se os lactobares – lugares onde, teoricamente, os jovens vão para beber leite! Parece inocente, mas a bebida costuma ser batizada com os mais poderosos alucinógenos disponíveis, sendo apelidada de “leite-com-tudo” e “mais-alguma-coisa”. No livro, o leitor é apresentado a um desses bares, o Korova.

Se não vai por bem…

Os delinquentes pegos pela polícia são enviados para escolas correcionais, especialmente projetadas para tentar reeducá-los e reintegrá-los à sociedade. Mesmo depois de saírem de lá, ainda recebem o acompanhamento constante dos consultores pós-correcionais. Esses funcionários do governo deveriam orientá-los, mas são mal pagos e vivem sobrecarregados de trabalho.

… vai por mal

Com o visível fracasso das escolas correcionais, o governo apelou para um projeto de recuperação chamado Método Ludovico. Nessa terapia de choque, os adolescentes são obrigados a assistir a horas e horas de cenas violentíssimas, como linchamentos e estupros, enquanto são submetidos a uma droga que causa mal-estar e sensação de quase-morte.

O alto custo da paz

O Método Ludovico tem bons resultados? Depende. Quem participa nunca mais volta a cometer um crime e cria aversão à violência. Mas também  vive quase como um zumbi, perdendo a personalidade, a individualidade e a capacidade de se defender ou de apreciar obras de arte. Do ponto de vista legal, é um cidadão recuperado. Do ponto de vista humanitário, não é cidadão algum.

Dialeto das ruas

Autor criou gírias próprias para a trama

Não adianta procurar no dicionário por expressões como “britva” ou “poogly”. Elas fazem parte do nadsat, uma mistura do idioma russo com o inglês, bolada por Anthony Burgess para ser a “língua própria” dos jovens. E os personagens usam e abusam: certos diálogos do livro chegam a ser incompreensíveis. Confira a tradução de alguns termos:

Videar: Observar

BITVAB: Luta, batalha

Horrorshow: Ótimo, excelente, legal

Veshka: Coisa

Vek: Sujeito

Denji: Dinheiro

Estica: Mulher

Poogly: Assustado

Cluve: Bico


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