Foi divulgado, em homenagem ao Dia Mundial do Diabetes (14 de novembro), a nona edição do Atlas de Diabetes. O documento, produzido a cada dois anos pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), mapeia a dimensão da doença em 138 países. Infelizmente, os resultados não são muito animadores, especialmente no Brasil.
“A principal informação que o Atlas traz é um crescimento importante da doença, principalmente aqui”, comenta o endocrinologista Laércio Joel Franco, professor da Universidade de São Paulo (USP) que participou do comitê organizador do levantamento.
A pesquisa calcula que, atualmente, 463 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos no mundo possuem diabetes, 38 milhões a mais em comparação com 2017. O tipo 2 — versão muito associada a um estilo de vida não saudável — é responsável por quase 90% dos casos.
Nesse ritmo, a IDF calcula que, em 2030, serão 578 milhões de diabéticos no mundo e, em 2045, 700 milhões
Franco lembra que essas estimativas se baseiam em indivíduos já diagnosticados. No entanto, há muita gente por aí com essa encrenca e nem sabe — em outras palavras, os números reais podem ser maiores.
“A questão é que, sem diagnóstico, as pessoas não se cuidam. Futuramente, elas podem ter complicações graves”, alerta o endocrinologista. Para quem não sabe, o diabetes é caracterizado por níveis elevados de açúcar no sangue, e causa de infarto a amputações.
A situação no Brasil
Em relação ao último Atlas, nosso país teve um crescimento de 31% na população com diabetes. A título de comparação, no resto do mundo essa taxa ficou em 9%. Nesse quesito, perdemos apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
Atualmente, 11,4% dos adultos brasileiros sofrem com a glicemia alta. Franco conta que, nas últimas décadas, houve um aumento na incidência do problema nas nações de baixa e média renda, que estão se desenvolvendo agora. “Isso ocorre porque as pessoas estão vivendo mais, mudando os hábitos e engordando”, explica.
Já os países desenvolvidos passaram por esse fenômeno décadas atrás. “Na Europa, o diabetes está quase se estabilizando”, exemplifica Franco. Por outro lado, a América Central e a do Sul estão numa curva ascendente.
Outro ponto que chama a atenção está relacionado ao diabetes tipo 1. Hoje, o Brasil sedia a terceira maior população de crianças e adolescentes no mundo (95 800 jovens abaixo dos 20 anos) com essa versão da doença, marcada por um ataque do próprio sistema imunológico ao pâncreas. Estados Unidos e Índia ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente.
Apesar do aumento, o especialista não acredita que haja maior risco de desenvolver essa modalidade de diabetes por aqui. “O que realmente preocupa é o fato de o tipo 2 estar surgindo nas idades mais baixas, em geral por excesso de peso. Isso é algo que pode ser evitado”, opina.
O Atlas também mostra que 24,2% do gasto com saúde pública no nosso país está relacionado à enfermidade. Aqui, cada diabético custa, em média, 3 117 dólares por ano. São aproximadamente 13 mil reais, no câmbio do dia 14 de novembro de 2019.
“É um problema que consome uma parcela considerável da renda pública. Se ele não for tratado direito, os portadores vão apresentar complicações e, com isso, buscarão mais o sistema de saúde”, analisa Franco.
Para controlar e mesmo prevenir o diabetes, é fundamental ajustar a alimentação, fazer exercício físico e adotar um estilo de vida mais saudável como um todo. “Essa é uma mensagem importante para a população. É uma doença silenciosa e os fatores de risco estão cada vez mais presentes em nosso meio”, conclui Franco.
Número de brasileiros com diabetes aumentou 31% nos últimos dois anos Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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