segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Poeira de asteroides pode ter mudado o rumo da vida na Terra há 470 milhões de anos

A Terra é um oásis azul de vida pulsante que destoa totalmente do sem-fim de mundos estéreis que vemos ao nosso redor. Disso todo mundo sabe. Por outro lado, também sabemos que nosso planeta não é um ambiente isolado. Muito pelo contrário: a Nasa estima que mais de 100 toneladas de poeira cósmica caiam aqui todos os dias trazidas por meteoros.

Mas uma descoberta recente traz um novo paradigma sobre essa questão.
Um estudo liderado por Birger Schmitz, da Universidade de Lund, na Suécia, demonstrou que eventos no meio interplanetário podem ter efeitos muito mais profundos na evolução de nosso planeta (e da vida nele) do que se pensava. Schmitz e colegas descobriram que uma colisão colossal entre dois asteroides, um deles 3 mil vezes maior que o matador dos dinos, produziu uma nuvem de poeira tão enorme que engoliu a Terra por completo.

E o choque titânico não aconteceu “logo ali” — foi além da órbita de Marte. Há 470 milhões de anos, o Sistema Solar foi invadido por uma avalanche de pó criado pelo incidente. Essa nuvem obscureceu a luz do sol e impediu que boa parte dela chegasse à superfície terrestre. O resultado foi um significativo resfriamento do clima, que disparou uma série de eras do gelo. Foi, literalmente, um divisor de águas. Muita coisa mudou depois disso.

Com mais água congelada, formaram-se calotas polares e o nível do mar baixou. A combinação de mares mais rasos e águas mais frias, com maior concentração de oxigênio, forneceu as condições ideais para um verdadeiro boom na evolução de seres vivos. Novas espécies surgiram aos borbotões, em um episódio conhecido pelos cientistas como grande evento de biodiversificação do Ordoviciano — ou Gobe, na sigla em inglês.

Foi nesse período da era Paleozoica, que durou entre 488 e 443 milhões de anos atrás, que começaram a aparecer os primeiros recifes de corais e predadores com tentáculos do grupo dos nautiloides, cefalópodes ancestrais dos atuais polvos e lulas. Até então, algumas peças do quebra-cabeça já estavam encaixadas para os cientistas. Sabiam que alguns elementos centrais do Gobe eram o grande aumento de biodiversidade nos mares e as eras do gelo.

Mas ainda faltava ligar alguns pontos. E a pesquisa de Schmitz veio para conectar essas pontas soltas. Estudando partículas de poeira do período depositadas em sedimentos do leito oceânico, sua equipe achou vestígio da poeira daqueles asteroides que colidiram. Ficou claro que sua origem era extraterrestre pois continham muito hélio-3: isótopo que só ocorre no meio espacial. As coisas passaram a fazer um pouco mais de sentido.

Mesmo que ainda haja questões em aberto sobre o Gobe que os resultados publicados em setembro no periódico Science Advances não explicam, cientistas receberam a ideia com interesse e entusiasmo. Ela explica melhor os mecanismos que fizeram a Terra esfriar, além de deixar bastante claro como o destino do nosso planeta está intimamente entrelaçado com o do cosmos a nossa volta. Bem mais do que podíamos imaginar.


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