Há décadas a fusão nuclear tem sido prometida como a “fonte de energia do futuro”. Não há como negar seu imenso potencial: ela é, afinal, a reação que mantém as estrelas do cosmo queimando por bilhões e bilhões de anos. Replicar o processo aqui na Terra, contudo, é um tanto complicado, já que atingir a temperatura necessária para a fusão de moléculas, que é de milhões de graus Celsius, exige um gasto absurdo de energia – mais energia do que a própria fusão produziria.
Neste mês, porém, o Reino Unido anunciou planos ambiciosos para construir a primeira usina elétrica de fusão. O projeto atraiu investimento pesado do governo britânico: 200 milhões de libras, equivalente a mais de R$ 1 bilhão.
Mesmo se tratando de uma quantia considerável, ela só arca com os custos necessários para a produção do design do reator compacto experimental – ele é que terá a dura responsabilidade de gerar mais energia do que consome para esquentar o plasma. Se o design for funcional e o governo der sinal verde para a usina em si, terá de desembolsar mais bilhões de libras.
Ao longo dos próximos quatro anos, o projeto da máquina vai ser desenhado por cientistas nucleares do Centro Culham para a Energia de Fusão, laboratório de pesquisa da Autoridade de Energia Atômica do Reino Unido. Ela, no entanto, já tem nome: STEP — sigla em inglês de Tokamak Esférico para a Produção de Energia. Tokamak, vale lembrar, é o termo russo que se refere ao reator com forma de rosquinha.
Dentro do aparelho é que se pretende gerar as tão promissoras reações de fusão nuclear, em que dois átomos de hidrogênio se fundem para criar um de hélio, liberando farta energia no processo. Campos magnéticos intensos mantêm o gás em estado de plasma confinado no interior e evitam que o material danifique a parede do reator.
De acordo com os cientistas britânicos, o plano é que a usina produza centenas de megawatts de energia já no início dos anos 2040. É algo que décadas de pesquisas ainda não conseguiram viabilizar. Diversos experimentos na área já demonstraram a produção de energia a partir da fusão de átomos de hidrogênio em laboratório. Esse não é o problema. O desafio é deixar a balança no azul: obter mais energia do que se coloca. E ainda dar um jeito de injetá-la na rede elétrica.
Nesse sentido, o STEP já é um projeto mais avançado que o ITER, máquina de fusão em construção no sul da França. Ela já custou pelo menos US$ 20 bilhões, e seu objetivo é gerar dez vezes mais eletricidade do que ela gasta. É assim tão caro por ser um design maior, mais testado e garantido. O formato de tokamak do ITER é o mainstream da pesquisa em fusão, tendo sido usado na maioria dos experimentos até agora.
A previsão é que a ITER comece a funcionar em 2035. Mas vai ficar só na demonstração – não existe nenhum plano de efetivamente colocar energia na rede elétrica.
Já o STEP aposta em protótipos compactos, criados por startups que já imaginam as necessidades que uma eventual usina vai precisar para viabilizar a energia de fusão no mercado. O custo-benefício de uma máquina menor tende a torná-la mais atraente num futuro distante – mas, hoje, é um design arriscado. Antes de dizer que é mais “econômico”, os britânicos vão precisar provar que funciona.
Reino Unido anuncia planos para criar a primeira usina de fusão nuclear Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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