Quem trabalha na SUPER assistiu El Camino com o bloco de notas na mão, já de olho nos pedacinhos mais misteriosos do filme que pudessem merecer uma explicação ou investigação a mais.
Não deu outra: nos primeiros minutos do filme, quando Jesse Pinkman manobra o carro e acaba batendo numa caixa de correio, que marca o número da casa: 212. A caixa cai e a câmera foca por tempo demais nela. Cheirinho de easter egg.
Mais tarde, uma sequência de imagens mostra lugares da cidade de Albuquerque, no Novo México – especialmente um shopping e um restaurante chamado Twisters. De novo, a cenas duram tempo demais para não terem importância nenhuma.
Sabendo que El Camino é um presente do criador Vince Gilligan e do elenco para os fãs de Breaking Bad, fomos descobrir o significado dos recados discretos que eles deixaram para o público, e encontramos um número enorme de referências. Veja aqui as melhores.
(Obs: não vamos falar aqui de coisas óbvias, tipo “a primeira cena se passa no lugar onde o Mike morreu logo depois!” Isso não conta como easter egg, porque não é uma referência disfarçada.)
1) 212: A tal caixa de correio
Ela realmente não estava lá à toa! O número 212 faz referência a um episódio específico de Breaking Bad, que está entre os mais essenciais para o desenvolvimento do Jesse como personagem.
O episódio em questão se chama Phoenix, e é o 12º da segunda temporada (Temporada 02, Ep. 12; ou 2×12, sacou?). É nele que acontece a primeira experiência realmente trágica da vida do jovem Pinkman: sua namorada Jane morre de overdose, num acidente que Walter White se recusa a evitar. A importância da Jane para o filme fica óbvia nas cenas finais, mas já aparece escondida bem no comecinho do longa.
2) Lugares do passado
A cena de transição que passa por vários cenários de Albuquerque está lá para fazer sua memória se esforçar. Aparece o lugar onde costumava ficar o escritório de Saul Goodman (agora refugiado em Nebraska), substituído por um bar de esportes chamado Duke City.
Um pouco depois, vemos o restaurante Los Pollos Hermanos, também “substituído” por outro estabelecimento. O legal aqui, porém, é que o Twisters existe de verdade – é o restaurante onde todas as cenas do Pollos foram gravadas em Breaking Bad.
Além das referências discretas, a cena ficou como um agradecimento aos lugares de Albuquerque que receberam a produção da série ao longo dos anos.
3) O quarto dos easter eggs
Essa é mais uma piada metalinguística do que uma referência em si. Todd apresenta seu apartamento e pergunta para Jesse o que ele achou da decoração. A resposta: “Gostei dos tons pastéis”.
Aí vem a gracinha de duplo sentido do Todd: “É, eu me inspirei em ovos de páscoa [easter eggs]”. O sentido literal da piada já é difícil de entender: ele não está falando de ovos de páscoa de chocolate, e sim nos ovos decorados e coloridos que são tradição na gringa. As crianças “caçam” os ovinhos na Páscoa do mesmo jeito que nós caçamos easter eggs nos filmes. Essa é a “graça” da fala do Todd – ele está avisando que a decoração do apartamento está cheia de referências escondidas.
4) Exterminador do passado
Quando os falsos policiais vão dar uma volta pelo apê todo destruído, se deparam com uma roupa que só quem tem Breaking Bad fresco na cabeça ia reconhecer: o uniforme de Todd de quando ele trabalhava com vermifugação. Walt, Jesse e Mike comprar a empresa para esconder a operação de tráfico e é aí que Todd entra em cena na série.
5) O globo de neve
Uma das coisas mais “Breaking Badísticas” do filme é a demonstração progressiva do quão perturbada é a mente de Todd. A casa dele é uma testemunha silenciosa disso.
Ele guarda uma coleção personalizada de globos de neve, por exemplo. Quando um dos “policiais” analisa um deles de perto, dá para ver que as pessoas eternizadas dentro do globo de neve são conhecidas: o próprio Todd e Lydia, a chefe de logística da Madrigal que desviava matéria-prima para a produção de metanfetamina de Walter White.
Todd sempre teve uma fascinação bizarra por Lydia, e a cereja no bojo é o fato da bonequinha que a representa estar sentada em uma xícara gigante. Para quem não se lembra, no último episódio Lydia bebe de uma xícara envenenada com ricinina. Em El Camino, ficamos sabendo que ela está viva e em estado grave, com poucas chances de se recuperar.
6) Tarântula
Daqui a pouco paramos de falar do Todd, mas o animal de estimação dele também é um easter egg especial. Quando, em Breaking Bad, Walt, Jesse e Todd se preparam para atacar um trem no meio do deserto, acabam vistos por um garotinho. Ele não entende o que viu, mas acaba assassinado por Todd mesmo assim. É a primeira vez que Todd mostra uma faceta mais maligna, e Jesse fica indignado. Na cena de abertura do episódio, o mesmo garoto aparece capturando uma tarântula num pote de vidro.
Ninguém garante que Todd faz daquela tarântula seu bicho de estimação, mas as cenas estão tão conectadas que a aranha até mora em um cenário de deserto. A mesma preocupação que Jesse teve com o garotinho ele tem com a própria aranha, já que decide alimentá-la sabendo que Todd não vai voltar.
Bônus: todas as cenas onde Jesse interage com um animal estão ali para mostrar que ele tem um “bom coração”. Em Breaking Bad, ele passa um bom tempo admirando um besouro no chão, até que o bicho é pisado sem dó por Skinny Pete. Em El Camino, Jesse brinca um besouro logo antes de assassinar Neil, o soldador. A mensagem, claro, é que cada um esmaga o tipo de inseto que lhe convém.
7) Cruzamento da Holly Avenue com a Arroz Road
O nome “Holly” chama a atenção por ser o mesmo da filha bebê de Walter White – mas existe uma outra Holly por traz do universo Breaking Bad. O nome da mulher com quem Vince Gilligan (criador da série) namora há anos é Holly Rice. Ele sempre coloca alguma referência a ela quando escreve um roteiro.
Curiosamente, existe uma avenida chamada Holly em Albuquerque (que não cruza com nenhuma Arroz Road). Na vida real, não é o nome de ninguém: holly é uma planta, conhecida em português como azevinho. É a Avenida dos Azevinhos, do mesmo jeito que existem Avenida das Palmeiras em várias cidades.
(Para os muito nerds, azevinho também é a madeira da qual é feita a varinha do Harry Potter. Mas aí já estamos entrando em outro fandom).
8) “Imãs!!!”
Uma das vezes marcantes em que Jesse é mais esperto que Walt é quando o computador de Gus Fring é apreendido pela polícia. Para limpar as evidências criminais que eles encontrariam ali, Jesse sugere que eles usem imãs gigantes para desmagnetizar o aparelho sem ter que roubá-lo.
Esse favorzinho eles pedem a um senhorzinho chamado Joe, que cuida de um ferro-velho e usa magnetismo para mover os carros que ficam por lá. Joe aparece em El Camino (nenhum mistério aqui), e assim que encontra Jesse ele grita “Magnets!“, comemorando. É uma imitação da própria reação do Jesse quando a ideia dá certo, lá na quinta temporada.
Foi o jeito de trazer de volta as frases clássicas de um Jesse mais jovem, tagarela e sem tanto estresse pós-traumático. A outra vez que você vê isso é no flashback entre Jesse e Walt, quando ele solta o famoso “Yeah, bitch!“. E falando nessa cena…
9) Bromo
Na participação especial mais antecipada do episódio, vemos Jesse e Walt juntos, nos primeiros capítulos da parceria da dupla. Jesse ataca o buffet de salada e lota o prato de abacaxi. Walt não vê graça na fruta, e Jesse tenta fazer propaganda: “Abacaxi é bom para a saúde. É cheio de bromine [bromo, em português]”. Mr. White corrige: “Bromelaína”.
A bromelaína é um conjunto de enzimas do abacaxi. Já bromo é um elemento químico cujo símbolo é… Br. Aquele mesmo símbolo da tabela periódica que compõe o logo do Breaking Bad. Yeah, science!
El Camino: 9 easter eggs que você não pescou no filme de Breaking Bad Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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