quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Hubble faz 1ª foto detalhada do cometa Borisov – que veio de outra estrela

Sistemas solares são ambientes muito caóticos, principalmente quando estão em formação. Enquanto a ação do tempo e da gravidade vão fazendo surgir planetas, luas, asteroides e cometas, a configuração inicial de suas órbitas fica bem bagunçada e colisões ocorrem com frequência. Corpos menores podem facilmente ser arremessados para fora.
Calhou que um desses objetos perdidos veio parar no Sistema Solar. É a segunda vez que detectamos uma pedrinha de origem interestelar passeando por aqui. 

Descoberto sem querer em agosto por Gennady Borisov, astrônomo amador da Crimeia, o cometa Borisov virou alvo de uma intensa campanha internacional de observações para confirmar se ele havia de fato se formado em outra estrela. Não demorou para que o Minor Planet Center, órgão vinculado à União Astronômica Internacional (IAU) que cataloga as órbitas de asteroides e cometas, atestasse sua origem interestelar. Agora, o Hubble acaba de fotografá-lo.

O telescópio espacial obteve a imagem com nitidez inédita no último sábado (12), quando o Borisov passava a 418 milhões de quilômetros da Terra. Um dos fatores que entregaram sua identidade de forasteiro foi a velocidade absurda na qual transita pelo Sistema Solar: 177 mil quilômetros por hora. “Viaja tão rápido que quase não se importa com o Sol”, disse em comunicado David Jewitt, líder da equipe que observou-o com o Hubble.

Mesmo tendo sido a foto com melhor resolução obtida do visitante cósmico até agora, ainda assim não foi possível distinguir seu núcleo — só a nuvem de poeira e gás que o circunda e forma a grandiosa cauda. Nem o Hubble, um dos instrumentos astronômicos mais avançados em operação, é capaz de enxergar direito corpos tão pequenos. Isso explica algo que um estudo recente previu: há milhares de objetos interestelares no Sistema Solar. Nós só não conseguimos detectá-los.

Antes do Borisov, teve o Oumuamua, um asteroide bem mais discreto que viajou pela Via Láctea e deu as caras por essas bandas em 2017. Era diferente do viajante galáctico da vez. “Enquanto o Oumuamua aparentava ser uma pedra, o Borisov é realmente ativo, mais como um cometa normal. É um quebra-cabeça por que esses dois são tão diferentes”, afirma Jewitt. Para os cientistas, isso é ótimo.

Quanto mais ativo é o alvo da observação, mais fácil é estudar sua composição química e descobrir detalhes sobre sua estrutura interna. O material que está se desprendendo do Borisov graças ao calor do Sol nada é uma versão derretida dos blocos que um dia participaram da construção de outro sistema planetário, muito distante daqui. Eles pertencem a uma estrela alienígena. Dá para entender o porquê de tamanha empolgação para investigá-lo melhor.

Sobretudo quando se pensa nas contribuições e possíveis insights de uma abordagem comparativa com os cometas de nosso próprio Sistema Solar. Por incrível que pareça, de acordo com as revelações dos estudos realizados até agora, o objeto é bastante parecido com os nativos daqui, de regiões gélidas como o Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort, bem nos limites territoriais do reino do Sol.  E isso já é uma constatação interessante.

O Borisov, assim como outros visitantes interestelares que por acaso cruzam a fronteira solar, são como ciganos nômades: não se demoram muito por onde passam. Após fazer sua máxima aproximação com o Sol no dia 7 de dezembro, ele volta a engatar a primeira para no meio de 2020 retornar às estrelas. Deve, contudo, levar milhões de anos para cruzar com outro Sol em seu caminho. Ainda bem que sua rota o trouxe até aqui.


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