Saber se um paciente terá um quadro leve ou grave de covid-19 é a pergunta de um milhão de dólares desta pandemia. Conhecemos alguns agravantes, como a obesidade, idade avançada e doenças crônicas, mas ainda não há como prever como o corpo de cada pessoa vai reagir ao vírus.
O mesmo vale para a dengue. A doença saiu das atenções da mídia gracas à pandemia, mas continua deixando 400 milhões de pessoas doentes por ano em todo o mundo. Enquanto alguns pacientes apresentam sintomas leves, outros desenvolvem quadros gravíssimos, que podem levar à morte. A que se deve essa diferença? Não tanto ao vírus em si, mas à maneira como lidamos com ele.
Quando alguém é infectado por um vírus, espera-se que organismo reaja para eliminar a ameaça. Essa é a tal da resposta inflamatória – que possui intensisdades diferentes em cada indivíduo e se manifesta na forma de alguns sintomas clássicos, como a febre (pois é: a febre não é algo causado pelo agente infeccioso. Na verdade, é uma tentativa do seu corpo de transformá-lo em torrada).
Nosso corpo é capaz de nos curar sem auxílio de remédios na maioria dos causos – mas precisa saber a hora de apertar o freio da inflamação. Se a reação passar dos limites, nossas células de defesa acabam danificando órgãos e tecidos saudáveis, que não têm nada a ver com a história.
A pesquisadora Vivian Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), usa a analogia do freio para descrever as chamadas moléculas pró-resolutivas. Elas são produzidas por nosso próprio organismo e cuidam de não deixar a inflamação alcanar níveis exacerbados, que piorem o quadro de saúde em vez de melhorá-lo.
No mundo ideal, a quantidade de moléculas pró-resolutivas produzidas por nós deveria bastar para manter a reação inflamatória na rédea curta. Mas há variáveis que podem diminuir a presença delas – e o próprio vírus têm meios de interromper sua produção.
Vivian analisou o plasma sanguíneo de pessoas com quadros leves e graves de dengue para tentar descobrir algumas dessas variáveis. Sua equipe percebeu que pacientes com formas mais danosas da doença produziam uma quantidade menor de Anexina A1, nome de uma das moléculas pró-resolutivas.
O próximo passo foi sintetizar a Anexina A1 em laboratório e introduzir a molécula como um medicamento em camundongos infectados pelo vírus. Dessa forma, está sendo possível verificar se a molécula cumpre seu papel de freio em modelos animais, diminuindo a inflamação no organismo. Se der certo, teremos uma molécula promissora para futuros testes em humanos.
Um diferencial da pesquisa de Vivian é que ela utiliza camundongos manipulados com engenharia genética para expressar certas partes do genoma de maneira semelhante a nós. Isso é importante porque aproximadamente 40% dos medicamentos aprovados nos testes em animais comuns acabam não funcionando em humanos. Usar um organismo humanizado – esse é o nome da prática no jargão – diminui as chances de um falso positivo.
Outra vantagem é que, como essas moléculas são produzidas pelo corpo naturalmente – o problema é só a quantidade –, há bem menos chance de haver efeitos colaterais.
Vivian Costa é docente da UFMG. Com a pandemia, ela voltou seus estudos à Covid-19 também. A pesquisadora pretende avaliar quais moléculas pró-resolutivas podem estar associadas ao agravamento da doença. O trabalho rendeu a ela o Prêmio Para Mulheres na Ciência de 2020, concedido pela L´Oréal, Academia Brasileira de Ciências e Unesco.
Vivian Costa pesquisa moléculas com potencial para tratar dengue Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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