sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Filósofos respondem: eu devo fazer mais uma compra impulsiva na internet?

Platão (428 a.C. – 348 a.C.)

Vai com calma. Para o grego, uma alma saudável não deixa o apetite reinar sobre a razão. As concessões ao apetite devem ser poucas e bem pensadas, para não viciar o consumista que há em todos nós. Poucos são os que têm o privilégio de viver dessa maneira comedida, pois ela é a combinação de uma personalidade e uma criação raras.

Detalhando um pouco melhor: Platão formulou a chamada Teoria Tripartite da Alma, e as três partes em questão são a razão, o espírito e o apetite. Em grego, isso fica logos, thymos eros. O logos fica na cabeça e regula os outros dois. Na linguagem dos memes contemporâneos, ele seria algo como cérebro, que tenta (às vezes sem sucesso) explicar ao coração e ao estômago o que eles não devem fazer.

thymos mora no peito. É a parte da alma que entra em ação quando você, em bom português, pu%# da vida. O eros mora na barriga e o cara que quer comer sobremesa, ou comprar algo na Amazon. Para Platão, todos nós temos potencial para expressar essas três partes em equilíbrio, mas sempre vai ter um divertidamente que prevalece.

Arthur Schopenhauer (1788 – 1860)

Faça. Ou não. Tanto faz: você continuará tão infeliz quanto era antes. Somos cronicamente incapazes de satisfazer a nós mesmos. Desejamos coisas que não temos e, quando as conseguimos, passamos a desejar outras coisas, em um ciclo sem fim. A grama do vizinho está fadada a ser mais verde.

É assim porque a vida de todo animal – não só a nossa, ainda que especialmente a nossa – é guiada pelo movimento rumo a um objetivo, e não pela permanência. Se você alcançasse todas as suas metas e se considerasse plenamente satisfeito com o que possui, a existência cessaria de ter sentido. Uma vida realizada não pode ser, ao mesmo tempo, prazerosa de se viver.

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“Até o prazer sensual”, escreve nosso pessimista, “consiste em um esforço árduo e cessa no momento em que o objetivo é alcançado. Toda vez que não estamos envolvidos em algo e nos deparamos com a existência por si só, nós somos tomados por sua vaidade e inutilidade. Essa é sensação chamada tédio.”

Jean-Paul Sartre (1905 – 1980)

Depende: você quer mesmo o novo iPhone? Ou está agindo como um autômato, em resposta à publicidade e ao seu vizinho, que tem um igual? Podemos escolher entre atender às expectativas dos outros ou se impor para construir um “eu” autêntico, com vontade própria. O que leva a uma questão além: quem realmente decide a compra?

Para Sartre, os indivíduos são responsáveis não só por construir a própria identidade, mas também pela maneira como mundo se apresenta para eles durante suas experiências. Mesmo as pessoas que cruzam sua vida são oportunidades de decidir como você vai exercer sua liberdade: você pode permitir que elas tenham papéis em sua vida e importem para você de várias maneiras diferentes.

 

 

 

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