sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Coronavírus melhorou ou piorou a alimentação? Depende do seu grupo social

O coronavírus virou a vida do brasileiro de cabeça pra baixo — e a alimentação não é exceção. Só que, enquanto dois estudos sugerem melhorias nos hábitos à mesa no Brasil, outro aponta pioras. Por que conclusões tão discrepantes? E o que tirar de cada levantamento?

Comecemos pela pesquisa NutriNet, conduzida no Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP). Os experts colheram respostas sobre a dieta de brasileiros entre os dias 6 de janeiro e 15 de fevereiro de 2020 e, depois, repetiram o processo entre o 10 e o 19 de maio. Ou seja, há informações de antes e depois da pandemia.

A investigação revela aumentos pequenos, mas significativos, no consumo de verduras e legumes (de 87,3% para 89,1%), frutas (de 78,3% para 81,8%) e leguminosas (de 53,5% para 55,3%).

Essa tendência positiva é reforçada por uma enquete mais recente (feita de 22 de setembro a 6 de outubro), encomendada pela Herbalife Nutrition e conduzida pela One Poll. A “Pesquisa Global Sobre Hábitos Alimentares na Pandemia” abordou 28 mil pessoas de 30 países (mil são daqui) e indica que 50% dos brasileiros afirmaram estar consumindo mais frutas e verduras após a chegada da Covid-19. Já 45% disseram que vem ingerindo mais itens à base de plantas e 43% alegaram reduzir o espaço da carne no cardápio.

O outro lado da dieta nacional

Já um terceiro estudo, a ConVid Pesquisa de Comportamentos, traz conclusões diferentes. A partir de questionários preenchidos por 44 mil brasileiros, os cientistas notaram uma maior dificuldade de consumir alimentos saudáveis cinco vezes ou mais por semana. O trabalho, conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Minas Gerais, conclui:

• 33% das pessoas afirmaram consumir legumes e verduras cinco vezes ou mais na semana durante a pandemia, contra 37,3% antes dessa crise
• No caso das frutas, o número caiu de 32,8% para 31,9%
• Quanto às leguminosas, 31,9% disseram comê-las cinco vezes ou mais por semana durante a pandemia. Mas 32,8% alegaram que tinham esse hábito positivo antes do desembarque do coronavírus

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Além disso, a pesquisa revela um crescimento no consumo de alimentos ultraprocessados, que são ligados a diferentes problemas de saúde:

• 10% dos voluntários admitiram ingerir congelados (como pizzas, lasanhas e pratos prontos) em dois ou mais dias na semana antes da pandemia. A taxa aumentou para 14,6% durante a pandemia
• Quando o assunto são salgadinhos de pacote, o índice subiu de 9,5% para 13,2%
• Por fim, o consumo de doces (que incluem chocolates, biscoitos e pedaços de tortas ou bolos) foi de 41,3% para 47,1%.

Parte dessa diferença entre os estudos pode ser explicada pela forma com a qual os pesquisadores questionaram os voluntários. Ora, métodos diferentes trazem dados diferentes.

Mas outro ponto importantíssimo é o perfil dos entrevistados — e daqui podemos tirar ensinamentos. O próprio relatório do estudo NutriNet, da USP, admite que o trabalho da Fiocruz selecionou um grupo de respondentes com características sociodemográficas mais representativas de toda a população adulta do Brasil.

No caso da NutriNet, 78% do público analisado era composto por mulheres e quase 80% morava no Sul e no Sudeste. Conclusão: estamos falando de um grupo mais feminino e rico do que a média nacional.

Isso sugere que as mulheres podem se cuidar melhor em tempos de pandemia e que o dinheiro é importante para manter a alimentação saudável, especialmente numa crise que afetou a economia.

A habilidade feminina de não deixar o coronavírus sabotar a dieta parece ser confirmada por outro estudo da USP — esse conduzido pela Faculdade de Medicina da instituição. Focado apenas em mulheres (74,5% da região Sudeste), ele coletou respostas de 1 183 participantes entre junho e setembro de 2020. Os dados mostram que elas estão cozinhando mais, abandonando dietas radicais e reduzindo a ingestão de álcool.

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Enquanto o remédio não vem

Quando abre os olhos todos os dias pela manhã, Carlos Eduardo Baptista fica com a visão turva. Minutos depois, se estabiliza, mas não o suficiente para digitar no teclado do celular. Percebe que enxerga cada vez menos e passou a responder com mais frequência às mensagens com recurso de voz. Diagnosticado há cinco anos com diabetes tipo 2, Carlos convive com o medo de um dia acordar cego.

O edema macular diabético (EMD) pode ocorrer em qualquer fase da retinopatia diabética, a complicação ocular mais comum em quem tem a doença e a principal causa de cegueira irreversível em pessoas com idade ativa. Tem caráter progressivo. Durante muito tempo, a terapia padrão foi de fotocoagulação focal, que usa o calor de um laser para selar os vasos sanguíneos na retina. Atualmente, o tratamento que se mostra mais eficiente é com antiangiogênicos, de acordo com guias mundiais de tratamento. Em novembro de 2019, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia – Conitec – do Ministério da Saúde incorporou um dos antiangiogênicos disponíveis comercialmente no Brasil, o aflibercepte (Eylia®), e agregou ao Sistema Único de Saúde (SUS) o referido tratamento do componente especializado. A decisão do Ministério foi publicada por meio da portaria nº 50, de 5 de novembro de 2019, no Diário Oficial da União (DOU). Pela resolução do Ministério da Saúde, o medicamento estaria disponível à população em 180 dias a partir da data da publicação do ato administrativo, ou seja, para aflibercepte: julho de 2020. Após um ano, resolvido? Não. Um atraso angustiante para quem conservou alguma esperança no acesso gratuito como paciente.

Para que os hospitais e centros de referência possam aplicar a injeção intravítrea de Eylia com segurança é necessário que o Ministério da Saúde publique também um PCDT, Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas. E foi nessa etapa que emperrou a oferta do remédio, produzido pela Bayer. Silvia Sfeir, diretora de acesso da empresa no Brasil, afirma que a multinacional “tem feito todos os esforços para apoiar as ações junto ao governo no sentido de disponibilizar a droga para atender os pacientes do SUS tão logo o PCDT seja publicado, evitando, assim, que muitas pessoas venham a perder a visão de forma permanente”. Todos os processos regulamentares de incorporação foram praticados pelo Ministério da Saúde: submissão, análise, consulta pública e discussão em plenárias da Conitec. Inclusive com a dotação orçamentária nos planos anuais 2020 e 2021 definidos, com recursos pactuados com as esferas municipal, estadual e federalA porta-voz diz que a Bayer vem sistematicamente buscando dialogar com o Ministério da Saúde para verificar as razões da não publicação do referido Protocolo Clinico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) e assim o cumprimento dos prazos para disponibilização de aflibercepte no SUS, e as respostas são de que o mesmo será publicado, porém isso não acontece.

O Ministério da Saúde aprovou e disponibilizou o PCDT para o tratamento de Retinopatia Diabética, incluindo aflibercepte para o tratamento do Edema Macular Diabético, para consulta pública em fevereiro de 2020. O protocolo foi aceito pelas sociedades médicas e de pacientes com cerca de 3.000 contribuições favoráveis em sua consulta pública. A partir da validação dessas contribuições, ocorrida em junho deste ano, faltaria – apenas – a assinatura da portaria que autoriza o PCDT para que entrasse em vigor. Em nota, o Ministério da Saúde informou: 

“Está em trâmite interno atualmente a criação de um PCDT para Edema Macular Diabético. A ausência, no entanto, não impede que o medicamento seja incorporado ao SUS e, no caso em questão, o medicamento está incorporado ao SUS. Cabe ressaltar que, independentemente dos processos de incorporação e efetivação da oferta de tecnologias em saúde no SUS, os gestores estaduais e municipais têm autonomia para ofertar aos seus pacientes o medicamento aflibercepte”.

Mas a própria Conitec, vinculada ao Ministério da Saúde, explica a necessidade do PCDT, no Relatório de Recomendação, de 90 páginas, publicado com a decisão da incorporação de aflibercepte ao SUS: 

“São documentos que estabelecem critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS. Devem ser baseados em evidência científica e considerar critérios de eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade das tecnologias recomendadas”.

O Relatório de Recomendação ainda expressa na decisão:

“Incorporar o aflibercepte para o tratamento de pacientes com edema macular diabético, condicionado à negociação de preço a partir da proposta apresentada pelo demandante e à elaboração do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. Dada pela Portaria nº 50, publicada no Diário Oficial da União nº 215, seção 1, página 195, em 06 de novembro de 2019”.

Nesse jogo de empurra-empurra, é Carlos quem vai perdendo a visão. A expectativa pela injeção intraocular de aflibercepte, que apresenta em países europeus resultados significativos na reversão de perda de acuidade visual, logo virou decepção. Desempregado, não tem feito nenhum tipo de prevenção para barrar a cegueira. O único tratamento – possível para ele no momento – é o controle do diabetes e da pressão arterial. Carlos vai recorrer à Justiça. 

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“Ao descumprir uma regra que o governo deu pra si mesmo, acaba frustrando pacientes que convivem com doenças crônicas e hospitais que precisam mudar protocolos de conduta.” A indignação é do advogado sanitarista Tiago Farina Matos, empenhado em garantir direitos de quem padece da demora do governo. O prazo frustrado do Estado afeta a vida dos dependentes de medicamentos de alto custo, como a de Tania Moyses, diagnosticada há dois anos com retinopatia diabética e edema macular diabético. Tem dia em que a visão está boa, tem dia em que piora. Com a dificuldade para enxergar, anda tropeçando nas coisas. Tania iniciou sessões em hospital particular para tratar o edema com laser, até que pesou no orçamento, e ela agora tem esperança que consiga no SUS. Vivendo na incerteza do tratamento, doentes crônicos recorrem à Justiça. O processo é lento e quem acaba “punido” é o paciente. Mesmo quando decisões judiciais são tomadas, a demora no início da terapia – não poucas vezes – resulta em sequelas graves. O timing do Estado, definitivamente, não está ajustado aos prazos de quem corre contra o tempo. Pacientes que enfrentam outras doenças crônicas também se queixam da demora do Estado. O endocrinologista Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (Anad), relaciona as mortes por Covid-19 a atrasos de medicamentos que ainda não foram distribuídos gratuitamente: “Teríamos muito menos mortes por Covid-19 no Brasil se o governo tivesse já os incorporado no SUS”. Um dos entraves, segundo o médico, é a mudança de ministros e secretários executivos do Ministério da Saúde. Cada vez que muda um auxiliar do presidente Jair Bolsonaro, o diálogo volta à estaca zero. “Muitas vidas poderiam ter sido poupadas se o remédio estivesse disponível”, lamenta o presidente da Anad. A Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou um estudo que aponta que as mortes por doenças cardiovasculares aumentaram 70% este ano durante a pandemia.

O advogado Tiago Farina lembra que, embora a Conitec tenha sido criada em 2012, apenas quatro meses atrás as reuniões gravadas começaram a ser disponibilizadas para entidades da sociedade civil que reivindicam direitos de pacientes darem continuidade a terapias na rede pública. Se há oferta publicada no Diário Oficial, o paciente cobra o médico, que cobra o hospital. Investigando a raiz do problema, Farina indaga: “Se o Ministério da Saúde não tem o dinheiro, por que incorpora um medicamento? Se tem a verba, então está gerenciando mal essa questão. Ou não soube negociar valores com o fabricante. O fato é que o remédio não chega ao paciente”, critica Farina. “A Covid-19 desencadeou a morte de portadores de diabetes. Sem dúvida, o vírus foi a causa desencadeante para as mortes”, analisa o dr. Fadlo.

Custo

O Ministério da Saúde não respondeu ao nosso questionamento sobre se a eventual falta de recursos está atrasando o processo. O Relatório de Recomendação do remédio informa que o “preço proposto para a incorporação, Preço Máximo de Venda ao Governo (PMVG), do Eylia Solução injetável 40 mg/mL é de R$ 1.159,52”. A análise demonstrou que “a incorporação pode promover economia de até R$ 903 milhões em 5 anos acumulados. (…), demonstrando no cenário considerado mais próximo à realidade do Sistema Único de Saúde um impacto orçamentário incremental de aproximadamente R$ 223,4 milhões no primeiro ano e R$ 665,7 milhões após cinco anos”.

Maior que o impacto orçamentário da incorporação do remédio é a perda da visão. Pacientes com EMD sem tratamento podem apresentar consequências, como a cegueira, que podem ocasionar mais custos totais ao sistema. De acordo com estudos internacionais, a cegueira apresenta grande impacto na sociedade, não apenas pela grande carga emocional e física ao paciente, mas também pelo enorme peso econômico. O Ministério da Saúde fez um levantamento sobre os gastos médicos da cegueira. Calcula-se que o valor é de R$ 36.791 por evento. Também cabe mencionar que a pessoa cega acaba se aposentando precocemente em idade ativa, tornando-se dependente de familiares, perdendo qualidade de vida e onerando ainda mais a Previdência Social.

Espelho para o mesmo problema

Iracema Miguel, de 43 anos, convive há três décadas com o diagnóstico de asma grave e um quadro de falta de ar cotidiano. Nesse mesmo período, iniciou um tratamento à base de corticoides e, todos os anos, passa por até três internações por conta de sintomas como extrema dificuldade de ventilação pulmonar ou respiração muito rápida, cianose, tosse, chiado e peito inflamado. Diante disso, os médicos responsáveis por Iracema receitaram a aplicação mensal do medicamento omalizumabe, conhecido como Xolair, da farmacêutica Novartis, que teve em 2019 uma resposta positiva da Conitec quanto à sua incorporação ao SUS, por meio da portaria nº 64, assinada no dia 27 de dezembro de 2019. Desde março deste ano, a atualização do PCDT para o tratamento de asma grave está em andamento sem previsão de conclusão. No total, somam-se 318 dias de atraso para que o remédio seja parte da tabela do Sistema Único de Saúde.

Segundo o doutor Rafael Stelmach, presidente da Fundação ProAr e professor doutor da Divisão de Pneumologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o Xolair já é utilizado há quase uma década no laboratório de asma do HCFMUSP, local onde Iracema faz seu acompanhamento. “O omalizumabe já está no mercado brasileiro há algum tempo e está disponível em algumas instituições de saúde suplementar e hospitais públicos de referência. Esse atraso não é apenas de dias, mas de anos de possibilidade de melhores tratamentos para a população. Nesse atraso histórico que já vivemos, a população que mais precisa fica sem acesso e os pacientes vão piorando, até que alcancem a forma grave da doença. Só tem acesso ao tratamento adequado, então, quem pode arcar com uma a duas aplicações mensais do remédio ou quem recorre à judicialização”, conta Stelmach.

Por conta dessa disparidade cronológica de acesso e qualidade de vida, Iracema espera há dois anos pelo momento em que terá suas injeções disponíveis. “Sinto um misto de esperança e frustração por estar há tanto tempo esperando por algo que pode melhorar minha vida”, desabafa. Dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia apontam que 20 milhões de pessoas convivem com asma no Brasil e cerca de 3% a 7% desse grupo desenvolve a forma grave da doença. “A incorporação de imunobiológicos – classe à qual o omalizumabe faz parte – pode representar a diferença entre viver e morrer. O impacto na qualidade de vida é imenso, mas podemos considerar os impactos sociais e econômicos que ela apresenta, porque esse tratamento – que é comparado com uma roupa sob medida, pois atua diretamente na causa do quadro inflamatório – devolve a produtividade a quem o utiliza, reduzindo o número de medicamentos diários e internações. A vida de muitas pessoas pode ser mudada por uma pressão popular porque pede apenas o cumprimento de uma regra e por isso nossa luta é tão importante. Queremos garantir o direito de viver com qualidade”, diz a presidenta da Associação Brasileira de Asmáticos, dra. Zuleid Mattar.

Enquanto o remédio não vem, a vida de quem precisa de um medicamento de alto-custo também ganha uma outra contagem e, por isso, crescem os processos de judicialização. No prazo de 180 dias, determinado pelo próprio Poder Executivo para que um remédio chegue à população, é prevista a abertura de licitações públicas com fornecedores. Contudo, o critério de emergência ao qual se aplica a disponibilização de um remédio via judicial ultrapassa a barreira da transparência quanto à escolha de uma empresa. Para Paulo Benevento, advogado sanitarista e consultor jurídico do Grupo AME/CDD (Amigos Múltiplos pela Esclerose e Crônicos do Dia a Dia), tais compras, então, são feitas por contratação direta. “Os gestores – federais, estaduais e municipais –, quando deparam com a necessidade de adquirir rapidamente determinado remédio, publicam, então, extratos de dispensa de licitação com a única justificativa de emergência. Isso é uma constância em todos os casos que estudamos. Mas penso que emergência ou calamidade pública são cenários muito diferentes do que vemos como uma tendência na incorporação de medicamentos de alto custo. Como a urgência pode existir se tratando de um remédio já deveria estar disponível para a população em todo o país há muito tempo, cujo o prazo de 180 dias já se esgotou há 300, 400 dias? Não há uma emergência, e sim um descumprimento”, conclui.

 

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Vivian Costa pesquisa moléculas com potencial para tratar dengue

Saber se um paciente terá um quadro leve ou grave de covid-19 é a pergunta de um milhão de dólares desta pandemia. Conhecemos alguns agravantes, como a obesidade, idade avançada e doenças crônicas, mas ainda não há como prever como o corpo de cada pessoa vai reagir ao vírus. 

O mesmo vale para a dengue. A doença saiu das atenções da mídia gracas à pandemia, mas continua deixando 400 milhões de pessoas doentes por ano em todo o mundo. Enquanto alguns pacientes apresentam sintomas leves, outros desenvolvem quadros gravíssimos, que podem levar à morte. A que se deve essa diferença? Não tanto ao vírus em si, mas à maneira como lidamos com ele. 

Quando alguém é infectado por um vírus, espera-se que organismo reaja para eliminar a ameaça. Essa é a tal da resposta inflamatória – que possui intensisdades diferentes em cada indivíduo e se manifesta na forma de alguns sintomas clássicos, como a febre (pois é: a febre não é algo causado pelo agente infeccioso. Na verdade, é uma tentativa do seu corpo de transformá-lo em torrada).  

Nosso corpo é capaz de nos curar sem auxílio de remédios na maioria dos causos – mas precisa saber a hora de apertar o freio da inflamação. Se a reação passar dos limites, nossas células de defesa acabam danificando órgãos e tecidos saudáveis, que não têm nada a ver com a história. 

A pesquisadora Vivian Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), usa a analogia do freio para descrever as chamadas moléculas pró-resolutivas. Elas são produzidas por nosso próprio organismo e cuidam de não deixar a inflamação alcanar níveis exacerbados, que piorem o quadro de saúde em vez de melhorá-lo. 

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No mundo ideal, a quantidade de moléculas pró-resolutivas produzidas por nós deveria bastar para manter a reação inflamatória na rédea curta. Mas há variáveis que podem diminuir a presença delas – e o próprio vírus têm meios de interromper sua produção.

Vivian analisou o plasma sanguíneo de pessoas com quadros leves e graves de dengue para tentar descobrir algumas dessas variáveis. Sua equipe percebeu que pacientes com formas mais danosas da doença produziam uma quantidade menor de Anexina A1, nome de uma das moléculas pró-resolutivas.

O próximo passo foi sintetizar a Anexina A1 em laboratório e introduzir a molécula como um medicamento em camundongos infectados pelo vírus. Dessa forma, está sendo possível verificar se a molécula cumpre seu papel de freio em modelos animais, diminuindo a inflamação no organismo. Se der certo, teremos uma molécula promissora para futuros testes em humanos. 

Um diferencial da pesquisa de Vivian é que ela utiliza camundongos manipulados com engenharia genética para expressar certas partes do genoma de maneira semelhante a nós. Isso é importante porque aproximadamente 40% dos medicamentos aprovados nos testes em animais comuns acabam não funcionando em humanos. Usar um organismo humanizado – esse é o nome da prática no jargão – diminui as chances de um falso positivo. 

Outra vantagem é que, como essas moléculas são produzidas pelo corpo naturalmente – o problema é só a quantidade –, há bem menos chance de haver efeitos colaterais.

Vivian Costa é docente da UFMG. Com a pandemia, ela voltou seus estudos à Covid-19 também. A pesquisadora pretende avaliar quais moléculas pró-resolutivas podem estar associadas ao agravamento da doença. O trabalho rendeu a ela o Prêmio Para Mulheres na Ciência de 2020, concedido pela L´Oréal, Academia Brasileira de Ciências e Unesco.

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Vivian Costa pesquisa moléculas com potencial para tratar dengue

Saber se um paciente terá um quadro leve ou grave de covid-19 é a pergunta de um milhão de dólares desta pandemia. Conhecemos alguns agravantes, como a obesidade, idade avançada e doenças crônicas, mas ainda não há como prever como o corpo de cada pessoa vai reagir ao vírus. 

O mesmo vale para a dengue. A doença saiu das atenções da mídia gracas à pandemia, mas continua deixando 400 milhões de pessoas doentes por ano em todo o mundo. Enquanto alguns pacientes apresentam sintomas leves, outros desenvolvem quadros gravíssimos, que podem levar à morte. A que se deve essa diferença? Não tanto ao vírus em si, mas à maneira como lidamos com ele. 

Quando alguém é infectado por um vírus, espera-se que organismo reaja para eliminar a ameaça. Essa é a tal da resposta inflamatória – que possui intensisdades diferentes em cada indivíduo e se manifesta na forma de alguns sintomas clássicos, como a febre (pois é: a febre não é algo causado pelo agente infeccioso. Na verdade, é uma tentativa do seu corpo de transformá-lo em torrada).  

Nosso corpo é capaz de nos curar sem auxílio de remédios na maioria dos causos – mas precisa saber a hora de apertar o freio da inflamação. Se a reação passar dos limites, nossas células de defesa acabam danificando órgãos e tecidos saudáveis, que não têm nada a ver com a história. 

A pesquisadora Vivian Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), usa a analogia do freio para descrever as chamadas moléculas pró-resolutivas. Elas são produzidas por nosso próprio organismo e cuidam de não deixar a inflamação alcanar níveis exacerbados, que piorem o quadro de saúde em vez de melhorá-lo. 

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No mundo ideal, a quantidade de moléculas pró-resolutivas produzidas por nós deveria bastar para manter a reação inflamatória na rédea curta. Mas há variáveis que podem diminuir a presença delas – e o próprio vírus têm meios de interromper sua produção.

Vivian analisou o plasma sanguíneo de pessoas com quadros leves e graves de dengue para tentar descobrir algumas dessas variáveis. Sua equipe percebeu que pacientes com formas mais danosas da doença produziam uma quantidade menor de Anexina A1, nome de uma das moléculas pró-resolutivas.

O próximo passo foi sintetizar a Anexina A1 em laboratório e introduzir a molécula como um medicamento em camundongos infectados pelo vírus. Dessa forma, está sendo possível verificar se a molécula cumpre seu papel de freio em modelos animais, diminuindo a inflamação no organismo. Se der certo, teremos uma molécula promissora para futuros testes em humanos. 

Um diferencial da pesquisa de Vivian é que ela utiliza camundongos manipulados com engenharia genética para expressar certas partes do genoma de maneira semelhante a nós. Isso é importante porque aproximadamente 40% dos medicamentos aprovados nos testes em animais comuns acabam não funcionando em humanos. Usar um organismo humanizado – esse é o nome da prática no jargão – diminui as chances de um falso positivo. 

Outra vantagem é que, como essas moléculas são produzidas pelo corpo naturalmente – o problema é só a quantidade –, há bem menos chance de haver efeitos colaterais.

Vivian Costa é docente da UFMG. Com a pandemia, ela voltou seus estudos à Covid-19 também. A pesquisadora pretende avaliar quais moléculas pró-resolutivas podem estar associadas ao agravamento da doença. O trabalho rendeu a ela o Prêmio Para Mulheres na Ciência de 2020, concedido pela L´Oréal, Academia Brasileira de Ciências e Unesco.

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Covid-19: os cuidados para voltar aos exercícios físicos depois da cura

Os possíveis efeitos do coronavírus no sistema respiratório e, principalmente, no coração podem afetar a prática esportiva. Daí porque a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicaram um documento com orientações para o retorno seguro às atividades físicas após a infecção pelo Sars-CoV-2.

As diretrizes trazem indicações tanto para atletas profissionais como para quem se exercita em busca de saúde e diversão. Confira, abaixo, as principais recomendações.

Quando é seguro voltar aos exercícios?

De acordo com Marcelo Leitão, presidente da SBMEE e um dos criadores do trabalho, há dois pontos a considerar. O primeiro é a capacidade de transmitir a doença.

Afinal, mesmo quando os sintomas cessam, é possível que ainda haja uma carga viral no organismo capaz de infectar outros. É necessário esperar pelo menos 14 dias sem ter quaisquer sinais da Covid-19 para se considerar curado (saiba mais clicando aqui). “E o isolamento vale não apenas para a prática esportiva, mas para o convívio com outras pessoas”, completa.

A outra questão a refletir é o tamanho do estrago que o Sars-CoV-2 provocou. Casos mais graves em geral geram sequelas que demoram mais para sumirem. E cada uma dessas complicações vai exigir uma avaliação profissional para verificar quanto interferem no exercício físico.

“Independentemente de tudo isso, o retorno deve ser gradual”, orienta Leitão. Nem pense em buscar o mesmo desempenho de antes da infecção logo na primeira sessão de ginástica.

Qual a intensidade e frequência dos exercícios?

Após se livrar do coronavírus, aquela recomendação geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) continua valendo. São pelo menos 150 minutos de exercícios aeróbicos leves a moderados por semana ou 75 minutos de atividade intensas. E duas sessões semanais de treinamento de força.

Porém, não esqueça que o retorno aos esportes tem que ser progressivo.

Orientações para quem teve Covid-19 leve ou assintomática

Os autores da diretriz defendem que, mesmo nesses casos, é bom passar por uma consulta e realizar um ecocardiograma (ECG). O exame checa o funcionamento do coração.

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Se houver alguma queixa por parte do paciente, o médico pode solicitar um teste de sangue que verifica a presença de um marcador de lesões miocárdicas, a troponina T. Se tudo estiver ok, desenha-se um plano de retomada da atividade física.

Para quem teve Covid-19 moderada e grave

Aqui é preciso um pouco mais de cautela, porque indivíduos que foram internados em decorrência da pandemia possuem um risco maior de sequelas cardíacas, como miocardite.

No documento da SBMEE e da SBC, são listados exames adicionais que podem ser realizados. O teste cardiopulmonar de exercício (TCPE) seria o principal. Ele é considerado o padrão-ouro na avaliação da capacidade de ventilação dos pulmões.

“Mas a escolha dos exames mais adequados depende do quadro do paciente e das informações repassadas para o médico”, afirma Leitão.

O médico do esporte Luiz Riani, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) que não participou do estudo, acredita que os testes mais importantes após uma triagem inicial são o ecodopplercardiograma, o TCPE e, para bater o martelo, a ressonância cardíaca.

“Eu sugiro que quem pegou o coronavírus, seja qual tenha sido a gravidade, procure um médico do esporte ou cardiologista. Eles têm os conhecimentos específicos para fazer essa análise”, aconselha Riani.

Leitão acrescenta que os pacientes que chegaram a ser entubados ou tiveram lesões cardíacas comprovadas demandam supervisão mais próxima. “Eles precisam passar por um período de reabilitação que dura algumas semanas”, completa.

Acompanhamento prolongado

Principalmente quem sofreu com as formas graves e moderadas da Covid-19 deve voltar a conversa com o doutor após 60 dias (ou conforme a orientação dele). “As pessoas não devem menosprezar os sinais do corpo. Elas não estão livres de manifestações tardias”, alerta Leitão.

Caso você sinta palpitação, falta de ar ou cansaço desproporcional ao suar a camisa (ou depois disso), vá ao consultório. Isso vale mesmo para quem se livrou da Covid-19 sem sofrer muito.

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30 mil anos: bebês escavados na Áustria são gêmeos idênticos mais antigos

Uma escavação no sítio arqueológico de Krems-Wachtberg, na Áustria, revelou esqueletos de dois bebês gêmeos que morreram há 30 mil anos. Eles estavam enterrados a 5 metros de profundidade, protegidos por um enorme osso extraído do ombro de um mamute – moldado para servir de tampa para uma espécie de caixão.

Um dos gêmeos morreu logo ao nascer; o outro, cerca de 50 dias depois. A tumba foi reaberta para colocá-lo com o irmão. Uma terceira criança foi encontrada a alguns metros de distância. Não havia um osso de mamute para protegê-la – por isso, seu esqueleto está em pior estado de conservação. Foi possível, por meio de uma análise de DNA, determinar que ele era primo dos gêmeos.

A cova tinha forma oval e os bebês foram postos lá dentro “de conchinha”. Junto a eles, foram encontradas 53 miçangas feitas de osso de mamute, que costumavam formar um colar. Como as contas não apresentavam sinais de desgaste por uso contínuo, especula-se que foram esculpidas com finalidade ritualística, especialmente para o enterro.

Foi possível calcular a idade que os bebês tinham quando morreram por meio da quantificação de algumas substâncias presentes no leite materno. Elas se acumularam nos dentes do bebê que sobreviveu alguns dias após o nascimento, mas não deixaram rastros nos dentes do outro bebê, que não chegou a ser amamentado.

O artigo científico que relata a descoberta foi publicado no periódico Communications Biology, da Nature, por uma equipe com dezenas de arqueólogos de diversas universidades da Europa e dos EUA.

 

 

 

 

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Um a cada cinco idosos tem diabetes tipo 2, evitável com hábitos saudáveis

O novo coronavírus poderá deixar sequelas físicas até mesmo em quem não foi contaminado. A mudança de hábitos imposta – ou justificada – pelas restrições da pandemia tende a agravar algumas doenças normalmente combatidas por bons hábitos. É o caso do diabetes. Dia 14 de novembro, aliás, é o Dia Mundial do Diabetes.

Para muitos, o #ficaemcasa virou um álibi para o sedentarismo e para a ingestão de comidas calóricas e pouco nutritivas, fatores que aumentam o risco de ganho de peso. É curioso como as pessoas em geral têm medo de doenças cujo ponto de partida é a obesidade, mas negligenciam o excesso de quilos como se ele significasse apenas uma questão estética. A maioria dos casos de diabetes tipo 2 – versão mais comum da doença, que está associada a um processo de resistência à insulina – está relacionada com hábitos de vida não saudáveis.

De acordo com a última edição do Atlas Mundial do Diabetes, mais de 16 milhões de brasileiros possuem esse problema. Nosso país é o quinto com maior incidência, perdendo apenas para Estados Unidos, Índia, China e Paquistão. No mundo, são 436 milhões de adultos (9% da população) com diabetes. Detalhe: 231 milhões não sabem disso.

O Estudo Epidemiológico de Informações da Comunidade – EPICO, da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), revelou que, entre mais de 9 mil pacientes de unidades básicas de saúde de 32 cidades paulistas, somente 25% apresentavam valores de glicemia dentro das metas preconizadas.

O que é o diabetes e qual seu impacto entre os idosos

Trata-se de uma doença crônica, que se caracteriza por níveis constantemente altos de glicemia. Os principais sintomas são sede, rápida perda de peso, fome constante, cansaço inexplicável, muita vontade de urinar, dificuldade para cicatrização, infecções frequentes, visão embaçada. Acontece que, principalmente no começo, essas manifestações podem ser sutis ou mesmo inexistentes. Daí porque o diagnóstico requer exames clínicos.

Além da obesidade e do sedentarismo, pressão alta, colesterol elevado ou uso de certas medicações contribuem para o desenvolvimento da doença.
O diabetes é considerado o terceiro maior fator de risco para doenças ateroscleróticas cardiovasculares, como infarto e AVC, segundo a Diretriz Brasileira sobre Prevenção de Doenças Cardiovasculares em Pacientes com Diabetes. Apesar disso, só um em cada quatro pacientes faz o tratamento de forma adequada. O impacto dessa negligência é grande: estimativas indicam que a doença está ligada a 11% das mortes ocorridas entre os 20 e 79 anos.

Justamente por estar mais sujeita aos fatores de risco, a população acima dos 65 anos é a mais propícia a desenvolver o diabetes tipo 2. A prevalência chega a 20% — cerca de um a cada cinco idosos —, o que corresponde a 5 milhões de idosos diabéticos no Brasil e 100 milhões no mundo. Estudos nacionais apontam incidência 60% maior da doença entre a população idosa na última década.

E tem outra coisa. Os efeitos naturais do envelhecimento e da redução da funcionalidade de vários órgãos, bem como a perda de massa muscular, agrava o diabetes.

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De acordo com a Diretriz de Cardiogeriatria, a mortalidade provocada pelo diabetes aumenta de acordo com faixas etárias maiores. Dos 65 aos 75 anos, cerca de 20% dos óbitos estão relacionados com a doença. Na faixa dos 75 ao 85, o índice sobe para 30%. E, após os 85 anos, atinge 35%.
Idosos com diabetes têm risco aumentado para síndromes geriátricas, como polifarmácia (uso de quatro ou mais medicamentos), déficit cognitivo, incontinência urinária, quedas e dor crônica. Vale ou não vale se precaver?

Descontrole e complicações

Quando o diabetes é negligenciado, pode deflagrar sérias complicações. Entre as principais decorrências do controle ineficiente estão: doença renal, retinopatia (cegueira, glaucoma e catarata) e má circulação nos membros inferiores, o que às vezes exige amputação, uma vez que a doença causa danos aos nervos dos pés.

E se o cigarro já é um mal, para o diabético ele potencializa os malefícios. Isso porque prejudica ainda mais a circulação sanguínea já comprometida. Alguns estudos também relacionam os baixos índices de vitamina D com o aparecimento de doenças, como o diabetes.

Dia Mundial do Diabetes

Como mencionei, ele é celebrado no 14 de novembro e tem como objetivo alertar a população sobre os riscos da doença e apontar caminhos para a prevenção e o diagnóstico precoce.

Os riscos cardiovasculares derivados do diabetes fazem com que a SOCESP também abrace a campanha. Os pacientes precisam levar à sério o controle dessa doença, que reduz em até 20% o risco de um infarto ou AVC. Além disso, o início imediato do tratamento diminui danos ao sistema cardiovascular e ao corpo como um todo.

A American Diabetes Association (ADA) recomenda que indivíduos que apresentem excesso de peso e todos os adultos com idade acima de 45 anos realizem exames clínicos (de sangue) para diabetes no máximo a cada três anos. Idosos devem fazer esses testes com intervalos menores.

A qualidade de vida, com dieta saudável e atividade física desde a infância, é o melhor caminho contra o diabetes. E vale lembrar que sempre é tempo de começar: mesmo para idosos que nunca praticaram, o início dos treinos na terceira idade traz excelentes ganhos, melhorando a massa muscular e diminuindo a fragilidade característica da faixa etária. É uma forma de criar um escudo natural contra esse e outros males.

*Ronaldo Fernandes Rosa é especialista em cardiologia e assessor científico da SOCESP

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Um a cada cinco idosos tem diabetes tipo 2, evitável com hábitos saudáveis Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

Seremos pessoas melhores no pós-pandemia?

Fala-se muito que o coronavírus vai abrir uma nova era na humanidade. Que as pessoas serão mais solidárias, terão maior cuidado com a natureza — os efeitos benéficos do confinamento em relação à poluição, por exemplo, já são evidentes — e estarão um passo mais à frente para uma sociedade mais justa e humanitária. Mas isso não deve ser, de fato, o que acontecerá no pós-pandemia.

A ideia de que as pessoas vão se tornar melhores só por conta dos últimos meses pode ser uma ilusão. Isso vai depender, na verdade, de cada um. O que se percebe é que as virtudes, para quem já tem virtudes, estão intensificadas neste momento. Mas o mesmo vale para quem não as tem: o individualismo também está mais forte agora.

A pandemia representa um laboratório de emoções. O modo como cada um lida com essa situação mostra quem é mais ansioso, mais obsessivo, mais solidário ou mesmo quem tem predisposição à compulsão e ao vício.

De maneira geral, a pandemia e o confinamento aumentaram o consumo de álcool e drogas. Para quem já tem predisposição à compulsão, isso vem se intensificando, numa tentativa de lidar com a ansiedade. Também observamos um aumento no uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, porque as pessoas estão tensas com a falta de controle sobre a situação, além do sentimento de frustração, de não saber o que vai acontecer e de ter adiado ou abandonado planos feitos previamente.

Num primeiro momento, todos estavam muito assustados e não sabiam o que fazer. Existia o receio de que fosse o apocalipse. Mas também tinha muita gente preocupada com a forma que ia se organizar em casa, já que não houve tempo para fazer um planejamento.

Num segundo momento, quando muitas pessoas já estavam se adaptando à nova rotina, trabalhando e estudando no próprio lar, as preocupações foram sendo sentidas nas relações interpessoais. Vimos crises de famílias e de casais, o que se pode verificar na alta de separações durante a pandemia. Segundo levantamento do Colégio Notarial do Brasil (CNB), elas cresceram 1,9% só em junho deste ano em comparação ao mesmo mês de 2019.

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Agora, as preocupações estão também nas questões relacionadas à instabilidade econômica, receio de perder o salário, o emprego, o padrão de vida. As pessoas estão mais adaptadas à rotina da casa. Muitas, inclusive, dizem que não gostariam de voltar ao trabalho presencial. Porém, é preciso ficar atento ao que é vontade e o que é receio. Existem pessoas que estão com medo de voltar à vida normal, sair e encontrar os outros. Esse é um grupo que, em geral, tem menos recursos emocionais para lidar com a situação. É um grupo mais frágil e que tem uma tendência a pânico e a crises de ansiedade.

Essas condições foram intensificadas nos últimos meses, especialmente para quem tem TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). Em tempos de medo do contágio e de necessidade frequente de assepsia, por exemplo, parece que os rituais de TOC são justificados, e essas questões, então, surgem com mais força.

Será possível observar um aumento da ansiedade no pós-pandemia, principalmente causada pela instabilidade econômica e profissional. A ansiedade tem a ver com nosso senso de responsabilidade, com uma necessidade de alta performance e de sucesso. Com a instabilidade, muitos estarão com medo de perder seus empregos e não ter como se manter financeiramente.

No entanto, as lembranças ruins deste período não devem durar muito tempo. Com a vacina, isso deve passar e, em um ou dois anos, não vai fazer mais parte da nossa vida, assim como aconteceu com outras epidemias. A gripe espanhola, por exemplo, é uma memória histórica, mas não está mais presente no cotidiano das pessoas.

Há, entretanto, uma diferença para aqueles que sofrem de alguma questão emocional: o que se percebe, através de pesquisas, é que as pessoas que sofrem de crises depressivas ou de pânico podem ver os efeitos da situação atual reverberarem por anos. E aí pode ser o caso de entrar com ajuda profissional.

A pandemia também nos colocou diante da mortalidade. A morte deixou de ser uma ideia abstrata e passou a fazer parte do nosso dia a dia. Em situações assim, podemos aproveitar para ampliar nosso olhar e trazer novos significados para a maneira como pensamos, sentimos e agimos. Gosto sempre de pensar que toda situação de crise, que nos coloca frente à finitude, pode ser uma oportunidade de questionamento sobre o sentido da vida, sobre as escolhas que fazemos. Então saiba que esse momento pode ser transformador. Pode ser um momento de ressignificação. Mas é preciso querer.

* Ana Gabriela Andriani é psicóloga, mestre e doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

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Filósofos respondem: eu devo fazer mais uma compra impulsiva na internet?

Platão (428 a.C. – 348 a.C.)

Vai com calma. Para o grego, uma alma saudável não deixa o apetite reinar sobre a razão. As concessões ao apetite devem ser poucas e bem pensadas, para não viciar o consumista que há em todos nós. Poucos são os que têm o privilégio de viver dessa maneira comedida, pois ela é a combinação de uma personalidade e uma criação raras.

Detalhando um pouco melhor: Platão formulou a chamada Teoria Tripartite da Alma, e as três partes em questão são a razão, o espírito e o apetite. Em grego, isso fica logos, thymos eros. O logos fica na cabeça e regula os outros dois. Na linguagem dos memes contemporâneos, ele seria algo como cérebro, que tenta (às vezes sem sucesso) explicar ao coração e ao estômago o que eles não devem fazer.

thymos mora no peito. É a parte da alma que entra em ação quando você, em bom português, pu%# da vida. O eros mora na barriga e o cara que quer comer sobremesa, ou comprar algo na Amazon. Para Platão, todos nós temos potencial para expressar essas três partes em equilíbrio, mas sempre vai ter um divertidamente que prevalece.

Arthur Schopenhauer (1788 – 1860)

Faça. Ou não. Tanto faz: você continuará tão infeliz quanto era antes. Somos cronicamente incapazes de satisfazer a nós mesmos. Desejamos coisas que não temos e, quando as conseguimos, passamos a desejar outras coisas, em um ciclo sem fim. A grama do vizinho está fadada a ser mais verde.

É assim porque a vida de todo animal – não só a nossa, ainda que especialmente a nossa – é guiada pelo movimento rumo a um objetivo, e não pela permanência. Se você alcançasse todas as suas metas e se considerasse plenamente satisfeito com o que possui, a existência cessaria de ter sentido. Uma vida realizada não pode ser, ao mesmo tempo, prazerosa de se viver.

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“Até o prazer sensual”, escreve nosso pessimista, “consiste em um esforço árduo e cessa no momento em que o objetivo é alcançado. Toda vez que não estamos envolvidos em algo e nos deparamos com a existência por si só, nós somos tomados por sua vaidade e inutilidade. Essa é sensação chamada tédio.”

Jean-Paul Sartre (1905 – 1980)

Depende: você quer mesmo o novo iPhone? Ou está agindo como um autômato, em resposta à publicidade e ao seu vizinho, que tem um igual? Podemos escolher entre atender às expectativas dos outros ou se impor para construir um “eu” autêntico, com vontade própria. O que leva a uma questão além: quem realmente decide a compra?

Para Sartre, os indivíduos são responsáveis não só por construir a própria identidade, mas também pela maneira como mundo se apresenta para eles durante suas experiências. Mesmo as pessoas que cruzam sua vida são oportunidades de decidir como você vai exercer sua liberdade: você pode permitir que elas tenham papéis em sua vida e importem para você de várias maneiras diferentes.

 

 

 

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Por que luzes distantes no horizonte da cidade piscam ou ficam tremulantes?

Quando você põe uma colher dentro de um copo d’água transparente, o talher parece entortar visto de fora (o mesmo acontece com quem está só com as pernas dentro da piscina). Isso acontece porque a trajetória e velocidade da luz se alteram quando os raios passam da água para o vidro e depois, do vidro para o ar  no caminho até seus olhos. O nome desse fenômeno é refração

A atmosfera é uma estrada irregular para a luz: a temperatura, umidade e densidade do ar variam um bocado sobre uma cidade. Em um bairro, pode haver uma fábrica que libera poluentes; em outro, um parque que aumenta a umidade e diminui a temperatura.

Isso significa que o índice de refração varia ao longo do trajeto. Não muito, mas o suficiente para alterar a trajetória da luz no caminho da fonte para os nossos olhos. Um desvio angular de apenas 0,1 grau, numa distância de 1 km, já altera o local em que a luz vai incidir em cerca de 1,7 m. 

“Pequenas variações do índice de refração ao longo da atmosfera podem provocar desvios relevantes na trajetória da luz provenientes de fontes luminosas distantes: ora a luz chega aos nossos olhos, ora ela é desviada e a impressão é que a fonte luminosa está piscando”, diz o físico Cláudio Furukawa, da USP. “É como se uma pessoa estivesse apontando uma lanterna para os nossos olhos e balançasse ela para dentro e fora do nosso campo de visão.”

Pergunta de @dusampaio_, via Instagram.

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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Fibromialgia: o que é, sintomas, diagnósticos e tratamentos

O que é a fibromialgia

É uma síndrome caracterizada principalmente por dor crônica e generalizada no corpo que dura pelo menos três meses. Esses desconfortos podem surgir sem motivo aparente, ou serem uma reação exagerada a algum acontecimento.

E há outros sintomas de fibromialgia que são importantes: fadiga, sono não restaurador e distúrbios cognitivos como esquecimento, falta de atenção e dificuldade de concentração”, completa o reumatologista José Eduardo Martinez, da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

Causas da fibromialgia

Ainda não foi encontrada uma razão específica para o desenvolvimento da fibromialgia. O que existe até o momento são hipóteses.

“Ela é mais comum entre familiares. Então deve haver uma predisposição genética. Porém, nunca foi encontrado um gene específico ligado à doença”, relata Martinez.

Além disso, a síndrome costuma aparecer em quem sofre de estresse crônico ou passou por situações graves de trauma físico, ou psicológico. “Essas condições liberam hormônios específicos, que geram um desequilíbrio na forma como os indivíduos sentem dor. Eles se tornam mais sensíveis a ela”, explica o reumatologista.

Apesar de não haver uma resposta exata sobre a causa da fibromialgia, sabe-se que ela não é uma doença autoimune nem inflamatória. O mecanismo de desenvolvimento da dor é diferente.

Fatores de risco

A fibromialgia é mais frequente nas mulheres, na faixa etária dos 30 a 50 anos.

“Mas ela pode aparecer em qualquer idade. A prevalência varia de 2,5% a 6% da população mundial”, informa Martinez. Não é pouca gente.

E, como dissemos, estresse e traumas também favorecem o quadro.

Principais pontos de dor da fibromialgia

Martinez explica que os portadores manifestam incômodos fortes em situações que pessoas sem a doença não sentiriam. Exemplo: um leve aperto no pulso poderia disparar dores.

É desse fato, aliás, que nasceu o conceito de “pontos de dor”, criado pelo Colégio Americano de Reumatologia. Seriam locais específicos do corpo em que o paciente com fibromialgia tenderia a sentir mais desconforto.

“Inicialmente, a entidade propôs isso para facilitar os estudos científicos. Além de detectar a dor generalizada, iríamos contar esses pontos nos pacientes na hora de fazer pesquisas”, afirma Martinez.

A ideia original era usar a metodologia somente para fins científicos, de modo a entender melhor a fibromialgia. Mas não para definir o quadro ou sua evolução no dia a dia, como acabou acontecendo em muitos casos. “Tanto que, posteriormente, o Colégio Americano de Reumatologia modificou esses critérios. Hoje, não se conta mais os pontos dolorosos. A gente se concentra no que a pessoa sente”, arremata o profissional da SBR.

Como funciona o diagnóstico

Ele é essencialmente clínico, feito pelo reumatologista a partir do relato e do histórico do paciente. Não existem exames para detectar a fibromialgia.

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“No entanto, há outras enfermidades que provocam dor no corpo. Por isso, acabamos pedindo testes para fazer o que chamamos de diagnóstico diferencial”, pontua Martinez.

É uma espécie de processo de eliminação: o profissional de saúde vai fazendo exames para descartar outras possíveis causas que explicariam as dores, o cansaço, o esquecimento… Conforme essas possibilidades vão se esgotando, o diagnóstico da fibromialgia fica mais claro.

Os testes também são usados para investigar outras condições que não raro aparecem com a fibromialgia. O jeito é conversar com o médico.

Fibromialgia tem cura? Conheça o tratamento

Como qualquer enfermidade crônica, não há cura para a fibromialgia, apenas tratamento para controlar os sintomas. Martinez conta que, nesse caso, ele é dividido entre medidas farmacológicas e não-farmacológicas.

“Nesse último grupo, incluímos educação em saúde, exercícios físicos de qualquer modalidade com acompanhamento médico e, a curto e médio prazo, acupuntura”, lista o reumatologista.

Por causa da sobrecarga emocional vivida por esses pacientes, psicólogos ou psiquiatras integram o tratamento. “Terapia cognitivo-comportamental, mindfulness e psicoterapia são as principais ferramentas nesse processo”, complementa o especialista.

Já os remédios para fibromialgia têm a função de modular a dor. Eles estimulam mecanismos naturais de analgesia ou diminuem a chegada das mensagens dolorosas no cérebro.

“Normalmente, são medicamentos também usados para outras doenças, como antidepressivos e anticonvulsivantes”, informa Martineza. Parte deles — especialmente os que possuem a indicação para fibromialgia na bula — não estão disponíveis na rede pública.

É bom frisar que o tratamento é individualizado e varia de pessoa para pessoa. E mais: a ingestão de analgésicos sem prescrição muitas vezes só piora o quadro.

Infelizmente, nem sempre o paciente adere à terapia. “Às duas maiores razões são os efeitos adversos ou o fato de não se perceber uma melhora imediata”, lamenta Martinez. Isso é observado tanto com as drogas como na prática dos exercícios físicos.

Quais são as complicações da Fibromialgia

A grande complicação da fibromialgia por falta de conhecimento e tratamento adequado é o impacto na qualidade de vida. Não é raro que os portadores sofram de depressão e ansiedade.

“Uma das maiores queixas deles é a falta de apoio da família e de reconhecimento que a dor existe. Isso só agrava o problema”, alerta o profissional.

Fora isso, quando a síndrome não é tratada, ela pode bagunçar a memória e o raciocínio.

Dá para prevenir?

“A única forma que enxergo é manter uma vida saudável. E isso é válido para tantas outras doenças”, finaliza Martinez.

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O que significa a numeração dos sapatos?

Depende do país.

No Brasil, a unidade de medida é o ponto francês, que equivale a dois terços de um centímetro. Contando do calcanhar até a ponta do dedão, adiciona-se um ponto na numeração final para cada
0,66 cm de pé. As patas deste Oráculo, por exemplo, são tamanho 44. Esses 44 pontos franceses equivalem a, aproximadamente, 29 cm.

Esse ponto surgiu em Paris no começo do século 19, época em que o recém-criado sistema métrico ganhava espaço na Europa. Não se sabe por que os sapateiros escolheram um valor tão quebrado – a melhor hipótese é que 2/3 de centímetro equivalem a 1/4 de pouce, a polegada francesa usada antes da introdução do metro.

Isso facilitou a adoção do novo sistema por parte dos sapateiros. Na França, a contagem começa no dois negativo, de modo que os sapatos, por lá, são sempre dois números menores que os nossos: o Oráculo precisaria comprar um 46.

A escolha de marcos diferentes para o início da contagem tem a ver com a diferença na largura média dos pés dos habitantes de cada país.

No resto do mundo, a coisa é igualmente confusa. No Reino Unido e em alguns outros países que costumavam ser colônias britânicas, utiliza-se o chamado ponto inglês. A única coisa óbvia nele é o nome, mesmo: o bichinho equivale a um terço de uma polegada – 0,846 cm.

Dá quase um centímetro inteiro. O problema de uma pontuação com saltos tão generosos é que pés grandes demais para um número podem ser pequenos demais para o número seguinte. Por isso, criou-se o meio ponto (0,423 cm). Ele vigora até hoje: existem sapatos 9,5, 10,5, 11,5…

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O marco zero dos britânicos também não fica exatamente na ponta do calcanhar, e sim 4 polegadas acima. A partir daí adiciona-se um ponto (ou meio) até um máximo de 13,5 pontos (8,5 polegadas ou 21,3 centímetros). 

Acha que acabou? Não, não acabou. O tamanho máximo dos sapatos infantis é um novo marco zero, dessa vez para a numeração adulta. Um sapato 37 brasileiro equivale a um número 19,5 na Inglaterra, mas na prática você precisa pedir um 6, porque a contagem recomeça no 13,5. Haja paciência.

Nos EUA, o modelo é parecido com o inglês, mas a contagem masculina começa no 1, e não no 0 – um número 6 britânico equivale a um 7 americano.

A numeração de mulheres é sempre o equivalente masculino mais um. Ou seja, o 6 britânico seria um 8 feminino nos EUA.

Se você achou que realmente não dava mais para piorar, achou errado: países como Nova Zelândia e Austrália misturam a numerção britânica e a americana em suas numerações, conforme o gênero do comprador. 

Nessa confusão, quem se saiu melhor foi o Japão, que usa o modelo mais óbvio de todos: um ponto para cada centímetro de pé. Se você medir seu pé e ele tiver 24 centímetros, você compra um calçado 24. Simples assim. Viva o Japão. Colonizem nossas sapatarias, por favor. 

Fontes: Palterm, Centro Tecnológico do Calçado SENAI-RS, artigo “Une petite histoire des poids et mesures”, de Louis Drevet.

Pergunta de @filipe.olimpio, via Instagram.
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Enquanto o remédio não vem

Quando abre os olhos todos os dias pela manhã, Carlos Eduardo Baptista fica com a visão turva. Minutos depois, se estabiliza, mas não o suficiente para digitar no teclado do celular. Percebe que enxerga cada vez menos e passou a responder com mais frequência às mensagens com recurso de voz. Diagnosticado há cinco anos com diabetes tipo 2, Carlos convive com o medo de um dia acordar cego.

O edema macular diabético (EMD) pode ocorrer em qualquer fase da retinopatia diabética, a complicação mais comum em quem tem a doença e a principal causa de cegueira irreversível em pessoas com idade ativa. Tem caráter progressivo. Durante muito tempo, a terapia padrão foi de fotocoagulação focal, que usa o calor de um laser para selar os vasos sanguíneos na retina. Atualmente, o tratamento que se mostra mais eficiente é com aflibercepte, conhecido comercialmente como Eylia. Em novembro de 2019, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), do Ministério da Saúde, agregou ao Sistema Único de Saúde (SUS) o referido tratamento do componente especializado. A decisão do ministério foi publicada por meio da portaria nº 50, de 5 de novembro de 2019, no Diário Oficial da União (DOU). Pela resolução do Ministério da Saúde, o medicamento estaria disponível à população em 180 dias a partir da data da publicação do ato administrativo, ou seja, para aflibercepte: julho de 2020. Após um ano, resolvido? Não. Um atraso angustiante para quem conservou alguma esperança no acesso gratuito como paciente.

A aplicação da injeção intravítrea de Eylia é ministrada em ambiente cirúrgico. Para que os hospitais e centros de referência possam realizar o processo com segurança é necessário que o Ministério da Saúde publique também um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). E foi nessa etapa que emperrou a oferta do remédio, produzido pela Bayer. Silvia Sfeir, diretora de acesso da empresa no Brasil, afirma que a multinacional “tem feito todos os esforços para apoiar as ações junto ao governo no sentido de disponibilizar a droga para atender os pacientes do SUS tão logo o PCDT seja publicado, evitando, assim, que muitas pessoas venham a perder a visão de forma permanente”. Todos os processos regulamentares de incorporação foram praticados pelo Ministério da Saúde: submissão, análise, consulta pública e discussão em plenárias da Conitec. Inclusive com a dotação orçamentária nos planos anuais 2020 e 2021 definida, com recursos pactuados com as esferas municipal, estadual e federal. A porta-voz diz que a Bayer também cobra o governo e já sugeriu reuniões adicionais para que o PCDT, que já passou por todas as suas devidas etapas de aprovação e validação, seja publicado o mais rápido possível e os pacientes sejam beneficiados pelas diretrizes estipuladas.

O Ministério da Saúde aprovou e disponibilizou o PCDT para o tratamento de retinopatia diabética, incluindo o edema macular diabético, para consulta pública em fevereiro de 2020. O protocolo foi aceito pelas sociedades médicas e de pacientes com cerca de 3.000 contribuições favoráveis em sua consulta pública. A partir da validação dessas contribuições, ocorrida em junho deste ano, faltaria – apenas – a assinatura da portaria que autoriza o PCDT para que entrasse em vigor. Em nota, o Ministério da Saúde informou: 

“Está em trâmite interno atualmente a criação de um PCDT para Edema Macular Diabético. A ausência, no entanto, não impede que o medicamento seja incorporado ao SUS e, no caso em questão, o medicamento está incorporado ao SUS. Cabe ressaltar que, independentemente dos processos de incorporação e efetivação da oferta de tecnologias em saúde no SUS, os gestores estaduais e municipais têm autonomia para ofertar aos seus pacientes o medicamento aflibercept”.

Mas a própria Conitec, vinculada ao Ministério da Saúde, explica a necessidade do PCDT, no Relatório de Recomendação, de 90 páginas, publicado com a decisão da incorporação de aflibercept ao SUS: 

“São documentos que estabelecem critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS. Devem ser baseados em evidência científica e considerar critérios de eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade das tecnologias recomendadas”.

O Relatório de Recomendação ainda expressa na decisão:

“Incorporar o aflibercept para o tratamento de pacientes com edema macular diabético, condicionado à negociação de preço a partir da proposta apresentada pelo demandante e à elaboração do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. Dada pela Portaria nº 50, publicada no Diário Oficial da União nº 215, seção 1, página 195, em 06 de novembro de 2019”.

Nesse jogo de empurra-empurra, é Carlos quem vai perdendo a visão. A expectativa pela injeção intraocular de aflibercepte, que apresenta em países europeus resultados significativos na reversão de perda de acuidade visual, logo virou decepção. Desempregado, não tem feito nenhum tipo de prevenção para barrar a cegueira. O único tratamento – possível para ele no momento – é o controle do diabetes e da pressão arterial. Carlos vai recorrer à Justiça. 

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“Ao descumprir uma regra que o governo deu pra si mesmo, acaba frustrando pacientes que convivem com doenças crônicas e hospitais que precisam mudar protocolos de conduta.” A indignação é do advogado sanitarista Tiago Farina Matos, empenhado em garantir direitos de quem padece da demora do governo. O prazo frustrado do Estado afeta a vida dos dependentes de medicamentos de alto custo, como a de Tania Moyses, diagnosticada há dois anos com retinopatia diabética e edema macular diabético. Tem dia em que a visão está boa, tem dia em que piora. Com a dificuldade para enxergar, anda tropeçando nas coisas. Tania iniciou sessões em hospital particular para tratar o edema com laser, até que pesou no orçamento, e ela agora tem esperança que consiga no SUS. Vivendo na incerteza do tratamento, doentes crônicos recorrem à Justiça. O processo é lento e quem acaba “punido” é o paciente. Mesmo quando decisões judiciais são tomadas, a demora no início da terapia – não poucas vezes – resulta em sequelas graves. O timing do Estado, definitivamente, não está ajustado aos prazos de quem corre contra o tempo. Pacientes que enfrentam outras doenças crônicas também se queixam da demora do Estado. O endocrinologista Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (Anad), relaciona as mortes por Covid-19 a atrasos de medicamentos que ainda não foram distribuídos gratuitamente: “Teríamos muito menos mortes por Covid-19 no Brasil se o governo tivesse já os incorporado no SUS”. Um dos entraves, segundo o médico, é a mudança de ministros e secretários executivos do Ministério da Saúde. Cada vez que muda um auxiliar do presidente Jair Bolsonaro, o diálogo volta à estaca zero. “Muitas vidas poderiam ter sido poupadas se o remédio estivesse disponível”, lamenta o presidente da Anad. A Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou um estudo que aponta que as mortes por doenças cardiovasculares aumentaram 70% este ano durante a pandemia.

O advogado Tiago Farina lembra que, embora a Conitec tenha sido criada em 2012, apenas quatro meses atrás as reuniões gravadas começaram a ser disponibilizadas para entidades da sociedade civil que reivindicam direitos de pacientes darem continuidade a terapias na rede pública. Se há oferta publicada no Diário Oficial, o paciente cobra o médico, que cobra o hospital. Investigando a raiz do problema, Farina indaga: “Se o Ministério da Saúde não tem o dinheiro, por que incorpora um medicamento? Se tem a verba, então está gerenciando mal essa questão. Ou não soube negociar valores com o fabricante. O fato é que o remédio não chega ao paciente”, critica Farina. “A Covid-19 desencadeou a morte de portadores de diabetes. Sem dúvida, o vírus foi a causa desencadeante para as mortes”, analisa o dr. Fadlo.

Custo

O Ministério da Saúde não respondeu ao nosso questionamento sobre se a eventual falta de recursos está atrasando o processo. O Relatório de Recomendação do remédio informa que o “preço proposto para a incorporação, Preço Máximo de Venda ao Governo (PMVG), do Eylia Solução injetável 40 mg/mL é de R$ 1.159,52”. A análise demonstrou que “a incorporação pode promover economia de até R$ 903 milhões em 5 anos acumulados. (…), demonstrando no cenário considerado mais próximo à realidade do Sistema Único de Saúde um impacto orçamentário incremental de aproximadamente R$ 223,4 milhões no primeiro ano e R$ 665,7 milhões após cinco anos”.

Maior que o impacto orçamentário da incorporação do remédio é a perda da visão. Pacientes com EMD sem tratamento podem apresentar consequências, como a cegueira, que podem ocasionar mais custos totais ao sistema. De acordo com estudos internacionais, a cegueira apresenta grande impacto na sociedade, não apenas pela grande carga emocional e física ao paciente, mas também pelo enorme peso econômico. O Ministério da Saúde fez um levantamento sobre os gastos médicos da cegueira. Calcula-se que o valor é de R$ 36.791 por evento. Também cabe mencionar que a pessoa cega acaba se aposentando precocemente em idade ativa, tornando-se dependente de familiares, perdendo qualidade de vida e onerando ainda mais a Previdência Social.

Espelho para o mesmo problema

Iracema Miguel, de 43 anos, convive há três décadas com o diagnóstico de asma grave e um quadro de falta de ar cotidiano. Nesse mesmo período, iniciou um tratamento à base de corticoides e, todos os anos, passa por até três internações por conta de sintomas como extrema dificuldade de ventilação pulmonar ou respiração muito rápida, cianose, tosse, chiado e peito inflamado. Diante disso, os médicos responsáveis por Iracema receitaram a aplicação mensal do medicamento omalizumabe, conhecido como Xolair, da farmacêutica Novartis, que teve em 2019 uma resposta positiva da Conitec quanto à sua incorporação ao SUS, por meio da portaria nº 64, assinada no dia 27 de dezembro de 2019. Desde março deste ano, a atualização do PCDT para o tratamento de asma grave está em andamento sem previsão de conclusão. No total, somam-se 318 dias de atraso para que o remédio seja parte da tabela do Sistema Único de Saúde.

Segundo o doutor Rafael Stelmach, presidente da Fundação ProAr e professor doutor da Divisão de Pneumologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o Xolair já é utilizado há quase uma década no laboratório de asma do HCFMUSP, local onde Iracema faz seu acompanhamento. “O omalizumabe já está no mercado brasileiro há algum tempo e está disponível em algumas instituições de saúde suplementar e hospitais públicos de referência. Esse atraso não é apenas de dias, mas de anos de possibilidade de melhores tratamentos para a população. Nesse atraso histórico que já vivemos, a população que mais precisa fica sem acesso e os pacientes vão piorando, até que alcancem a forma grave da doença. Só tem acesso ao tratamento adequado, então, quem pode arcar com uma a duas aplicações mensais do remédio ou quem recorre à judicialização”, conta Stelmach.

Por conta dessa disparidade cronológica de acesso e qualidade de vida, Iracema espera há dois anos pelo momento em que terá suas injeções disponíveis. “Sinto um misto de esperança e frustração por estar há tanto tempo esperando por algo que pode melhorar minha vida”, desabafa. Dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia apontam que 20 milhões de pessoas convivem com asma no Brasil e cerca de 3% a 7% desse grupo desenvolve a forma grave da doença. “A incorporação de imunobiológicos – classe à qual o omalizumabe faz parte – pode representar a diferença entre viver e morrer. O impacto na qualidade de vida é imenso, mas podemos considerar os impactos sociais e econômicos que ela apresenta, porque esse tratamento – que é comparado com uma roupa sob medida, pois atua diretamente na causa do quadro inflamatório – devolve a produtividade a quem o utiliza, reduzindo o número de medicamentos diários e internações. A vida de muitas pessoas pode ser mudada por uma pressão popular porque pede apenas o cumprimento de uma regra e por isso nossa luta é tão importante. Queremos garantir o direito de viver com qualidade”, diz a presidenta da Associação Brasileira de Asmáticos, dra. Zuleid Mattar.

Enquanto o remédio não vem, a vida de quem precisa de um medicamento de alto custo também recebe uma outra contagem e por isso os processos de judicialização do acesso ganham força. No prazo de 180 dias, determinado pelo próprio Poder Executivo para que um remédio chegue à população, é prevista a abertura de licitações públicas com fornecedores. Contudo, o critério de emergência ao qual se aplica a disponibilização de um remédio via judicial ultrapassa a barreira da transparência quanto à escolha de uma empresa. Para Paulo Benevento, advogado sanitarista e consultor jurídico do Grupo AME/CDD (Amigos Múltiplos pela Esclerose e Crônicos do Dia a Dia), tais compras, então, são feitas por contratação direta. “Os gestores – federais, estaduais e municipais –, quando deparam com a necessidade de adquirir rapidamente determinado remédio, publicam, então, extratos de dispensa de licitação com a única justificativa de emergência. Isso é uma constância em todos os casos que estudamos. Mas penso que emergência ou calamidade pública são cenários muito diferentes do que vemos como uma tendência na incorporação de medicamentos de alto custo. Como a urgência pode existir se tratando de um remédio já deveria estar disponível para a população em todo o país há muito tempo, cujo o prazo de 180 dias já se esgotou há 300, 400 dias? Não há uma emergência, e sim um descumprimento”, conclui.

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Como a fisioterapia pode ajudar no câncer de próstata

Novembro é o mês destinado à conscientização sobre o câncer de próstata, doença que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), deve acometer só neste ano mais de 65 mil homens. Isso corresponde a quase 30% de todos os tumores. Além da incidência significativa e do impacto nos pacientes e nas famílias, o problema esteve por trás de cerca de 15,5 mil óbitos em 2018 (praticamente 14% dos óbitos decorrentes de câncer). Tirando o câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais comum entre os homens.

O câncer de próstata geralmente aparece em homens acima dos 40 anos de idade, sendo que as alterações patológicas na glândula costumam ocorrer em torno dos 50 anos. Além do câncer de próstata em si, outra doença afeta a próstata com mais frequência com o avançar da idade, a hiperplasia benigna. Esta causa um crescimento e espessamento da glândula, que, atingindo um grande volume, acaba por comprimir a uretra e impedir a passagem da urina. Daí que a micção fica mais difícil e dolorosa, e, em alguns casos, há retenção urinária propriamente dita.

A hiperplasia benigna é diferente do câncer de próstata. Este faz com que a glândula tenha alterações em forma, tamanho e textura. E há risco de a doença se espalhar, comprometendo a qualidade e a expectativa de vida. Se identificado e tratado em fase inicial, há grandes chances de cura. Do contrário, o tumor pode avançar e se disseminar, provocando as metástases, principalmente nos linfonodos (gânglios linfáticos) e nos ossos, e com menor intensidade no fígado e em outros órgãos.

Como em toda doença, a melhor forma de combate está na prevenção. Para tanto, devemos estar atentos a fatores de risco e realizar os exames periódicos. É importante passar pelo médico se você já tem mais de 50 anos; possui histórico do problema na família, com parentes apresentando a doença antes dos 60 anos; está acima do peso ou tem obesidade; e se expõe a componentes químicos presentes infelizmente em nosso dia a dia, como derivados de benzeno, fuligem, dioxinas, produtos do petróleo etc.

Os principais sinais e sintomas de que há algo errado na próstata são:

  • Demora involuntária para começar a urinar
  • Dor e dificuldade ao urinar
  • Interrupção total do fluxo de urina, o que pode provocar inchaço na região da bexiga e refluxo do líquido
  • Infecções urinárias
  • Dor nas costas e dor óssea, em caso de câncer de próstata mais avançado

As principais formas de diagnosticar precocemente o câncer (ou outros problemas) na próstata se dão pela dosagem do PSA — exame de sangue que verifica a quantidade do antígeno prostático específico — e pelo toque retal, em que o médico checa a presença de nódulos, endurecimentos e outras alterações no tecido. Se necessário, o profissional pode pedir uma biópsia da glândula a fim de confirmar o diagnóstico.

O tratamento do câncer de próstata varia de acordo com o estágio de descoberta e pode envolver cirurgias (com a remoção parcial ou total da glândula), medicamentos, terapia hormonal, radioterapia e quimioterapia.

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E como a fisioterapia pode ajudar nesses casos? Bem, primeiramente temos que esclarecer quais as implicações que os tratamentos trazem aos pacientes, caso da incontinência urinária e da disfunção erétil. Na incontinência urinária, o homem passa a ter perda de urina por alterações na bexiga, que não consegue armazená-la e a qualquer pressão ou contração involuntária a deixa escapar, ou pelo déficit do esfíncter, que se manifesta quando há pressão no abdômen e a urina escapa (a chamada incontinência de esforço).

Já a disfunção erétil surge pelo comprometimento de nervos no local devido ao próprio tratamento. O retorno da ereção, sem o uso de medicação, pode variar de três meses a um ano. A variação depende muito da idade e do tipo de tratamento utilizado — quanto mais jovem o paciente e menos invasiva a terapia, mais rápida será a recuperação.

Nesse contexto, a atuação do fisioterapeuta será desenvolvida logo após o tratamento médico. É de suma importância que o profissional observe o mecanismo patológico, a extensão do comprometimento e o tempo pós-operatório. E que ele oriente e conscientize o paciente sobre a proposta das sessões, do trabalho sobre a área afetada, de como funciona o assoalho pélvico…

O tratamento fisioterápico deve ser iniciado quanto antes, pois acelera a recuperação daqueles eventos adversos, como o próprio descontrole sobre a micção. A fisioterapia lançará mãos de técnicas de cinesioterapia, biofeedback e eletroterapia. Através da cinesioterapia será trabalhada, de forma ativa, a musculatura do assoalho pélvico, com o intuito de aumentar a eficácia do esfíncter externo da uretra, que suportará o aumento da pressão intra-abdominal, evitando o escape da urina.

O biofeedback também atuará na musculatura do assoalho pélvico, a fim de fortalecê-la e treiná-la, aumentando a resistência e a coordenação, para a regulação do controle urinário. Essa técnica, que utiliza um eletrodo intrarretal, mostra ao fisioterapeuta a proporção da contração e do relaxamento muscular do paciente, de forma individualizada, além de ser capaz de identificar fenômenos relacionados às disfunções musculares.

Por fim, mas não menos importante, a eletroterapia agirá, de forma mais passiva, na estimulação da musculatura do assoalho pélvico, agora fortificando e dando tônus muscular. A prática é feita através de eletrodos que podem ser transcutâneos ou intrarretais.

Sim, a fisioterapia pode melhorar muito a reabilitação e a qualidade de vida de quem enfrentou ou enfrenta o câncer de próstata. Aproveitemos este Novembro Azul para trabalhar a prevenção e a conscientização sobre a doença. Fique atento ao seu corpo!

* Márcio Renzo é fisioterapeuta e capitão do Corpo de Bombeiros de São Paulo

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Testes Coronavírus: entenda os tipos e diferenças entre eles

Especialistas pelo mundo afora são enfáticos em dizer que o controle da Covid-19 em qualquer país depende em boa medida da capacidade de testar a população. Em agosto de 2020, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19) apontava: entre o início da pandemia e o mês de julho, quase 13,5 milhões de pessoas, pouco mais de 6% da população, tinham feito algum teste para saber se haviam sido infectados pelo Sars-Cov-2. Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram ainda que 4,7 milhões de brasileiros fizeram o teste RT-PCR e 6,4 milhões passaram pelo teste rápido.

O Ministério da Saúde, por sua vez, informou que até meados de setembro mais de 15 milhões de kits de testagem haviam sido enviados aos estados, 7 milhões de RT-PCR e 8 milhões de testes rápidos. O órgão contabilizou ainda que, até o dia 19 de setembro, haviam sido realizados mais de 6,4 milhões de exames de RT-PCR – 3,75 milhões na rede pública e 2,67 milhões nos laboratórios privados. 

Quais são os tipos de teste do coronavírus

O esforço conjunto para detectar a presença do vírus em nosso território se justifica. Afinal, é preciso conhecer a sua disseminação para criar estratégias capazes de conter a expansão da Covid-19. Esse desafio deu origem, por exemplo, ao Centro de Diagnóstico Emergencial (CDE), instalado em Alphaville, em São Paulo – uma parceria da Dasa com o Ministério da Saúde que rendeu a doação, por parte do laboratório, do processamento de exames para o diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus

Em setembro, a iniciativa foi lembrada no evento on-line de lançamento do Prêmio Abril e Dasa de Inovação Médica, que, em sua terceira edição, é voltado a trabalhos sobre a Covid-19. “Mais de 2 milhões de pessoas já fizeram exames para a doença dentro de nosso grupo”, contou Emerson Gasparetto, Chief Medical Officer (CMO) do Grupo Dasa. 

Seja para identificar a presença do vírus e isolar e tratar o paciente, seja para contribuir com estudos epidemiológicos no contexto da Covid-19, os testes disponíveis apresentam variados graus de sensibilidade e têm um momento ideal para serem feitos. 

“Na Dasa, observamos uma queda da taxa de positividade dos testes entre o terceiro trimestre e início do quarto trimestre. Essa taxa, que chegou a 30% de resultados positivos, hoje está em torno de 20%, porém neste momento temos algumas regiões específicas que estão com novas elevações de casos positivos”, conta Gustavo Campana, diretor médico da Dasa. “Isso reflete a diminuição total no número de casos que a gente vem acompanhando nas estatísticas da doença no país e a questão da regionalidade”, pondera Campana, que é também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. 

TIPOS DE TESTE: MOLECULAR

RT-PCR 

Considerado o padrão ouro para diagnosticar a Covid-19, o RT-PCR constata a presença do material genético do Sars-Cov-2 na amostra do paciente. Por isso, o ideal é que seja feito na primeira semana de sintomas, de preferência não ultrapassando o 12º dia. É que nesse período a carga viral está mais elevada, o que permite detectar o RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada. 

Como é feito: o material de escolha para análise é a secreção respiratória, colhida no nariz e na garganta por meio do swab, instrumento semelhante a um cotonete. 

Os resultados são seguros? Feito na janela de tempo correta, o exame tem alto grau de confiabilidade, acima de 90%, e dificilmente apresenta um resultado falso positivo. Os laudos costumam sair em até dois dias.

Quais as vantagens? Com o resultado positivo do RT-PCR, são determinadas estratégias, como o isolamento do paciente, e traçado o plano de tratamento. Sem contar que a confirmação da doença em uma pessoa serve para guiar a testagem de assintomáticos que tiveram contato com ela.

Onde fazer? O RT-PCR é feito nos atendimentos hospitalares, públicos ou privados, e está disponível nas principais redes de laboratórios privados. Tem cobertura dos planos de saúde para pacientes depois do oitavo dia do aparecimento de sintomas, desde que haja pedido médico. 

POCT-PCR 

Do inglês point of care test para PCR, o exame também é feito pela coleta de secreção do nariz e garganta pelo swab e igualmente é capaz de detectar o material genético do vírus – é realizado em laboratórios hospitalares e tem a vantagem de os resultados saírem em minutos, o que agiliza as condutas clínicas de pacientes dentro dos hospitais. 

Sequenciamento Genético, Sanger 

Exclusividade dos laboratórios da rede Dasa, o teste usa metodologia de sequenciamento e não precisa de reagentes para extrair o RNA do Sars-Cov-2, o que o coloca em vantagem para a ampliação da testagem no país. Apresenta a mesma precisão do RT-PCR.

CRISPR

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Igualmente disponível apenas na Dasa e com acurácia também semelhante ao RT-PCR, trata-se de uma técnica de edição gênica que demanda menos tempo para flagrar o RNA do vírus – cerca de uma hora. O material biológico é coletado da mesma forma que o RT-PCR.

TIPOS DE TESTE: IMUNOLÓGICOS

Sorologia 

Esse tipo de teste não detecta o vírus, mas sim a presença de anticorpos, isto é, a resposta do nosso organismo frente à infecção. Ou seja, identifica quem já teve contato com o Sars-Cov-2 ou quem já teve a doença. Após alguns dias do aparecimento da doença, a quantidade de vírus vai diminuindo e começam a surgir os anticorpos – por essa razão, nesse exame a amostra de sangue deve ser coletada após sete ou dez dias dos sintomas.

Os anticorpos são proteínas fabricadas pelo nosso sistema de defesa para reconhecer e barrar micro-organismos nocivos. Os testes sorológicos para Covid-19 detectam a presença dos anticorpos da classe das imunoglobulinas – IgA, IgM (que aparecem mais precocemente, em geral em torno de dez dias após a infecção) e IgG (estes chamados de memória tardia, ou seja, aparecem quando a exposição ao agente infeccioso ocorreu há mais tempo, depois de cerca de 15 dias). Uma característica interessante na Covid-19 é o aparecimento destes diferentes tipos de anticorpos em um mesmo momento, o que é chamado sincronismo. Esta característica tem gerado um grande desafio na interpretação destes exames.

O teste sorológico é realizado a partir de diferentes tecnologias. O imunoensaio enzimático (ELISA) revela a presença de IgA e  IgG. o sorológico por quimioluminescência (CLIA) é baseado na emissão de luz produzida por reações químicas e discrimina IgM (fase aguda da doença) e IgG (os anticorpos de memória). A sorologia eletroquimioluminescência (ECLIA), por sua vez, identifica os anticorpos totais, sem fazer diferenciação entre eles. 

Como é feito: a sorologia é realizada em sangue venoso, coletado por meio de uma punção do sangue da veia do paciente. O sangue é coletado e armazenado em tubos para ser analisado em laboratório.  

Os resultados são seguros? Os sorológicos apresentam menor sensibilidade para o diagnóstico da doença quando comparados ao RT-PCR, por isso não é recomendado para este fim. Se forem feitos logo no início dos sintomas, há um risco maior de dar um resultado falso negativo, uma vez que a produção de anticorpos pode ainda não ser suficiente. Mais raramente é possível ocorrer ainda a chamada reação cruzada: diante da presença de anticorpos contra outros vírus, como o do H1N1, o exame revela um falso positivo para Covid-19.

Quais as vantagens? São úteis para avaliação da exposição prévia ao vírus de forma tardia após o início dos sintomas ou mesmo em assintomáticos. Como avaliam o grau de exposição de determinados grupos ou populações, são usados também em estudos epidemiológicos e ajudam na tomada de decisão sobre medidas de controle da doença. No fim de setembro, por exemplo, a Prefeitura de São Paulo anunciou que vai testar mais de 770 mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários da rede municipal de ensino, para programar de forma mais segura o retorno às aulas presenciais. 

Onde fazer? Na rede pública, são solicitados quando o paciente procura as unidades de saúde com sintomas da doença. Está disponível nas principais redes de laboratórios privados e, em agosto, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deu andamento na cobertura dos planos de saúde, mediante solicitação médica e quando o RT-PCR deu negativo. Os resultados costumam sair em dois ou três dias

Testes rápidos

O nome técnico é teste de imunocromatografia de fluxo lateral. Recebe essa denominação porque o resultado corresponde a uma alteração de cor quando o sangue colhido entra em contato com o reagente. 

Como é feito: a amostra é obtida por meio de uma pequena incisão na ponta do dedo e colocada num kit, com indicação visual do resultado.

Os resultados são seguros? A confiabilidade do resultado varia muito, podendo apresentar alta taxa de falso negativo. Os testes rápidos têm menor sensibilidade. Individualmente há um risco de interpretação, ou seja, a pessoa pode ter sido exposta ao vírus, mas o resultado é negativo, principalmente em populações de baixa prevalência”, avalia Gustavo Campana. “Por isso, na nossa visão, eles podem ter uma aplicação como ferramenta de inquérito sorológico, mas não indicamos como teste de diagnóstico de exposição prévia ao vírus ou não”, conclui. 

Quais as vantagens? Não necessita de equipamentos laboratoriais e os resultados saem em poucos minutos. Também podem ser uma boa estratégia na investigação de grandes grupos da população, fornecendo informação a gestores de saúde na hora de elaborar a reabertura das atividades.  

Onde fazer? Algumas redes de laboratório, a exemplo da Dasa, não fazem esse tipo de teste. Eles estão disponíveis em farmácias e não têm cobertura dos planos de saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela aprovação dos testes de Covid-19 em uso no país, disponibiliza uma gina em que é possível acompanhar o status dos pedidos de registro dos exames, incluindo os testes rápidos.

Diagnosticar para controlar

Diante de um 2020 tão desafiador, a terceira edição do Prêmio Abril e Dasa de Inovação Médica vai reverenciar médicos e demais profissionais do nosso país que se engajaram em pesquisas e demais iniciativas voltadas ao combate do Sars-Cov-2. Para controlar a Covid-19, diz o mantra da Organização Mundial da Saúde, o primeiro passo é testar, testar e testar. E uma das categorias da premiação, Medicina Diagnóstica, contempla justamente estudos e demais projetos realizados nas áreas de análises clínicas, patologia, radiologia e diagnóstico por imagens relacionados não apenas à detecção da doença, mas também aos impactos do vírus no organismo.

Para avaliar os trabalhos dessa e das outras quatro categorias – Prevenção, Genética, Tratamento e Medicina Social – a premiação conta com um júri técnico formado por grandes nomes da ciência e da medicina brasileira, entre eles o radiologista Emerson Gasparetto, Chief Medical Officer (CMO) do Grupo Dasa; a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Gustavo Campana, especialista em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e diretor médico da Dasa; e a infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Conheça todos os demais nomes do júri no site da premiação. Os ganhadores serão anunciados em um evento virtual no começo de dezembro.

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