quarta-feira, 4 de março de 2020

Vasectomia: entenda o que é e se dá para reverter e refazer depois

Como é feita a vasectomia? É um método de contracepção eficiente e seguro. O procedimento é bastante simples e feito com anestesia local. Consiste em cortar e ligar os ductos deferentes, dois pequenos tubos que saem de cada um dos testículos e por onde passam os espermatozoides no momento da ejaculação. Dessa forma, eles não conseguem chegar ao corpo da parceira.

Cerca de 60 dias após a cirurgia, o paciente é orientado a colher um exame de esperma (o espermograma) para garantir a eficácia do procedimento. Durante esse período, alguma outra forma de contracepção deve ser utilizada.

Como o volume de espermatozoides corresponde apenas a cerca de 1% do volume do sêmen, o homem que se submete à vasectomia continua ejaculando normalmente e não há nenhuma alteração no volume de sêmen que sai do corpo.

A cirurgia de vasectomia também não altera a produção do hormônio masculino, a testosterona, nem altera a ereção e a micção. Por isso, não há qualquer alteração na libido (desejo sexual), na rigidez do pênis durante o ato sexual ou na forma como o indivíduo urina.

Apesar de ser um procedimento simples, a cirurgia é, a princípio, definitiva. Por isso a decisão de realizar algo tão importante deve ser feita de forma bastante ponderada. O candidato ideal à vasectomia é o indivíduo que está decidido a nunca mais ter filhos. Estima-se que cerca de 50 milhões de homens ao redor do mundo sejam vasectomizados hoje.

Mesmo assim, aproximadamente 5% dos homens optam por fazer a reversão da vasectomia ao longo da vida. Os principais motivos são um novo matrimônio associado ao desejo de ser pai novamente, uma mudança na situação financeira que leve ao desejo de aumentar a prole ou a morte de um filho.

Ao contrário da realização da vasectomia, a reversão é um procedimento bem mais complexo. Não é feita por todos os urologistas, requer um tempo de repouso maior e acarreta um custo financeiro mais elevado — nem todos os planos de saúde tampouco o SUS cobrem o procedimento. Além disso, nem sempre a cirurgia é um sucesso e parte dos homens que se submete à reversão não conseguirá ter filhos naturalmente.

A primeira reversão de vasectomia foi realizada em 1902. De lá pra cá, a melhora das técnicas cirúrgicas e o aparecimento de lupas e microscópios cirúrgicos vêm melhorando os índices de sucesso do procedimento.

A princípio, todo homem vasectomizado que queira ter filhos novamente é candidato à reversão. Entretanto, indivíduos que tiveram dificuldade para ter filhos antes da vasectomia, aqueles que foram vasectomizados há mais de dez anos ou pacientes em que a parceira tem 40 anos ou mais têm resultados piores na reprodução após a cirurgia. Por isso, a maior parte é encaminhada à realização de técnicas de fertilização assistida.

O sucesso de uma cirurgia de reversão é medido através de duas variáveis: a taxa de patência e a taxa de gravidez. A patência significa que a emenda dos ductos deferentes foi bem sucedida e é verificada através da detecção de espermatozoides em um exame de espermograma, feito geralmente cerca de 40 dias após a cirurgia. A taxa de gravidez — que é o que realmente interessa ao casal — é o percentual de homens que, após uma cirurgia de reversão, conseguirão engravidar a parceira.

As taxas de sucesso da reversão da vasectomia são difíceis de serem avaliadas porque há uma grande variação de um centro para o outro. Em média, a literatura médica reporta uma taxa de patência de entre 80 e 90% e uma taxa de gravidez de 30% a 40%. A variação leva em conta aqueles fatores como tempo decorrido entre a vasectomia e sua reversão e a idade da parceira.

É importante lembrar que, apesar de verificarmos a eficácia da cirurgia de reversão cerca de 40 dias após a cirurgia, pode levar até um ano para que o esperma volte a ter o número normal de espermatozoides. Reforço que a reversão não é um procedimento simples ou barato tampouco seu completo sucesso está atrelado à qualidade da cirurgia. Daí porque recomendamos que a decisão de realizar a vasectomia seja tomada com calma, equilíbrio e ponderação.

Homens que realizaram a cirurgia de reversão podem se submeter a uma nova vasectomia caso decidam, novamente, que não querem ter mais filhos. Esse foi o caso do presidente Jair Bolsonaro, que passou pelo procedimento em janeiro de 2020. Uma nova reversão pode até ser possível, mas suas chances de sucesso serão bem menores.

* Dr. Henrique Rodrigues é urologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e membro da Associação Americana de Urologia e da Associação Europeia de Urologia


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