Enquanto a pandemia avança, a ciência corre para testar formas eficazes de combater a Covid-19. Nesta semana, uma pesquisa publicada no periódico científico Nature sugere que um remédio usado desde os anos 1940 contra a malária pode ser uma arma contra o vírus SARS-Cov-2.
O medicamento é a cloroquina (CQ) – mais especificamente, um derivado dela, a hidroxicloroquina (HCQ), sintetizada pela primeira vez em 1946 e 40% menos tóxica que a primeira, criada ainda nos anos 1930.
A cloroquina foi um remédio amplamente usado no combate à malária – doença causada por parasitas do gênero Plasmodium e transmitida por mosquito. Com o tempo, novos fármacos contra ela foram descobertos, e a cloroquina ficou escanteada. Sua produção, porém, continua, inclusive sob versões genéricas.
Por que ela pode ser eficaz?
Tanto a CQ quanto a HCQ alteram o pH da vesícula das células, deixando-as mais alcalinas. Essa alteração estrutural no interior das células bagunça aqueles “espinhos” do coronavírus, que são os receptores que o ele utiliza para infectá-las. Dessa forma, ele não consegue penetrá-las nem se multiplicar. E morre.
A hidroxicloroquina também tem ação anti-inflamatória, o que seria ótimo nos estágios mais avançados da Covid-19, já que ela mata inflamando os pulmões. “Prevemos que o medicamento tem um bom potencial para combater a doença”, escreveram os cientistas que participaram da pesquisa. Vale dizer que, em 2005, pesquisas com cloroquina mostraram que a substância era eficaz no combate à SARS, que foi causada por um outro tipo de coronavírus.
O estudo consistiu num teste in vitro – ou seja, injetando o medicamento não em pessoas, mas em culturas de células misturadas com o vírus. Na última segunda (17), outra pesquisa, ainda não publicada, testou os efeitos da cloroquina – desta vez, em pacientes de Covid-19. No estudo, realizado na França, 36 pacientes foram submetidos a doses diárias de Plaquenil, nome da marca do remédio de hidroxicloroquina e que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratar malária, artrite reumatoide e lúpus.
Após seis dias, 100% dos que estavam infectados testaram negativo para Covid-19. Nos EUA, uma pesquisa da Universidade de Stanford testou uma combinação de hidroxicloroquina com azitromicina, um antibiótico. De acordo com os cientistas, todos os 40 pacientes se livraram do vírus no mesmo intervalo de tempo.
A situação nos EUA
Quem também anda otimista em relação à HCQ é o presidente dos EUA, Donald Trump. Nesta quinta-feira (19), ele fez um pedido para o FDA (a Anvisa do país) para que ela acelere a aprovação do medicamento como forma de combate ao novo coronavírus. O bilionário Elon Musk, dono da Tesla, é outro que endossa a ideia.
Declarações como essas necessitam cautela, claro. O FDA pode não ter autorizado o uso expresso do medicamento para Covid-19, mas, nos EUA, médicos podem legalmente prescrever um remédio para qualquer doença ou condição que eles considerem apropriado. Tanto lá como no Brasil várias empresas fabricam genéricos de hidroxicloriquina.
Outras formas de combate
Outros remédios estão sendo testados para combater a Covid-19. É o caso do Remdesivir, que age na síntese do RNA do vírus.
Mas ao contrário do HCQ, o Remdesivir ainda está sob patente na norte-americana Gilead. Os testes clínicos começaram em 2015, e apesar de ter sido usado em dois surtos recentes de ebola, ainda não há resultados conclusivos.
A Gilead afirmou que novos testes, focados em Covid-19, acontecerão nos EUA no próximo mês. Mesmo assim, os cientistas chineses sugerem que a HCQ, por ser mais barata, acessível e com décadas de eficácia, pode ser a aposta mais certeira.
Enquanto isso, há também a corrida por uma vacina contra o coronavírus. Na última terça (18), os EUA fizeram o primeiro teste em humanos. Você pode ler os detalhes do experimento neste texto da SUPER.
Hidroxicloriquina: um remédio genérico contra a malária, de 1946, pode ser eficaz contra o coronavírus Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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