A tecnologia transformou o modo como nos relacionamos e consumimos informação. São 230 milhões de celulares ativos no Brasil, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Ou seja, mais de um smartphone por habitante. Além disso, os brasileiros ficam em média três horas e 34 minutos por dia nas redes sociais e 66% são ativos nelas. Somos sociais e sociáveis.
Isso reflete também em como e onde buscamos informações sobre saúde. Uma análise feita pela Bites, empresa de inteligência de dados parceira do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL), apontou que são feitas 60,5 mil buscas por mês sobre câncer — número menor se comparado às buscas pelo signo de câncer (135 mil por mês). Mas o interesse pela doença aumenta após o diagnóstico, já que há um crescimento nas buscas por tipos específicos de tumores.
No segundo semestre de 2019, o LAL, em parceria com a SAÚDE, realizou uma pesquisa com 2 405 homens de todas as regiões do Brasil e 56% afirmaram que se informam sobre saúde com o médico, 53% no Google, 38% em sites de notícias e 34% pelas redes sociais. Ou seja, precisamos estar onde a população está, oferecendo conteúdo de qualidade sobre temas relacionados à saúde.
Somado a isso, o uso de dispositivos eletrônicos para monitorar batimentos cardíacos, atividade física e seu impacto no corpo tem disponibilizado uma série de informações valiosas para quem os usa e os profissionais de saúde. Como não podia ser diferente, o acesso à informação na palma da mão transformou também a relação entre instituições ou profissionais de saúde e os pacientes.
O paciente 4.0 tornou-se um “agente 4.0”, muito mais informado para argumentar e discutir sobre seu tratamento. A decisão consentida, em que o médico apresentava a ele uma opinião especializada, esperando apenas que fosse aceita ou não, está cada dia mais no passado. Evoluímos para a decisão compartilhada, na qual a opinião do médico, baseada em evidências, é também influenciada pelo paciente, que divide suas preferências e valores. O processo de decisão de um tratamento começa, assim, na evidência científica e termina em quem está recebendo atendimento.
A pergunta que precisamos responder com toda essa transformação provocada pela tecnologia é: estamos preparados para esse paciente 4.0? Ele quer ser ouvido e precisamos escutá-lo. A escuta é essencial para que ele se sinta acolhido e entendido. Outro ponto crucial é que o profissional entenda sobre acesso e as possibilidades do paciente, inclusive as financeiras, na hora de indicar um tratamento, uma tecnologia ou um medicamento, para que o cidadão não se frustre ao não conseguir que o SUS, seu plano de saúde ou sua conta bancária possam pagar por ele.
Toda a experiência vivida pelo paciente, desde a entrada no serviço médico (público ou privado) até sua saída, ganha ainda mais importância. Ele é o protagonista e o centro do atendimento. Por isso, a abordagem humanizada precisa ser perseguida por todos nós. Além disso, caminhamos para que equipes cada vez mais multi e interdisciplinares estejam envolvidas no atendimento ao paciente.
Contudo, ainda vivemos em um Brasil bastante desigual. Então, mesmo que muito se tenha evoluído, ainda há realidades extremamente diferentes de Norte a Sul do país. Não podemos sob hipótese alguma nos esquecer da população que ainda não tem acesso ao mínimo, quando pensamos em saúde.
Nosso trabalho, como organização da sociedade civil, é fazer com que a distância entre as diferentes realidades brasileiras no que tange à saúde diminua a cada dia, para que todos sejam beneficiados pelos avanços tecnológicos e possam ter garantido seu direito a saúde, conforme determina nossa Constituição.
* Marlene Oliveira é fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL)
Estamos preparados para o paciente 4.0? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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