Os acidentes com serpentes são considerados uma doença tropical negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Academia Brasileira de Ciência. Todo ano, aqui no Brasil, cerca de 28 mil pessoas passam por um episódio dessa natureza e procuram atendimento médico.
Ocorre, porém, que há um número expressivo de brasileiros que sofrem um acidente e, por diversas razões, não buscam assistência, seja pela distância do local da residência até o centro de atendimento, seja pelo desconhecimento da possível gravidade do problema. Infelizmente, muita gente ainda prefere acreditar em crendices e soluções caseiras (como chás e ervas) que supostamente anulariam a ação do veneno, mas não o fazem.
Em nosso país, quatro grupos de serpentes causam acidentes que podem ser fatais: as jararacas (Bothrops), responsáveis por mais de 85% dos episódios; as cascavéis (Crotalus), com cerca de 7%; as surucucus (Lachesis), com 4%; e as corais verdadeiras (Micrurus), com menos de 1% dos registros.
Mas mesmo as mordidas de serpentes consideradas não venenosas exigem atendimento médico, pois dessa forma podem inocular bactérias no indivíduo e levar a um quadro de infecção.
O verão é a época em que diversas espécies de serpentes têm seus filhotes. Dessa forma, o número de animais na natureza tende a aumentar. Os filhotes já apresentam veneno desde o seu primeiro dia de vida, o que potencialmente aumenta o risco de acidentes por aí.
Os acidentes normalmente acontecem quando a pessoa não vê a serpente e involuntariamente pisa ou toca nela. Aquelas histórias de que cobras fazem emboscadas para os humanos ou correm atrás deles para picá-los são apenas crenças antigas e sem nenhum fundamento científico.
Em caso de acidente, é fundamental manter a calma e realizar os primeiros socorros. A pessoa que sofreu a picada deve ficar em repouso, ser hidratada e manter o local do ferimento elevado. Exemplo: se o acidente ocorreu no pé, a recomendação é ficar deitado e levantar a perna. Isso ajuda a evitar que o veneno, muitas vezes com ação necrosante, se acumule na região afetada, acelerando a morte dos tecidos.
A vítima precisa ser conduzida quanto antes ao hospital de referência para atendimento de acidentes ofídicos mais próximo. Ser atendido no menor tempo possível é crucial para o êxito do tratamento.
Apesar de o soro antiofídico (que anula os efeitos do veneno) ser específico para cada um dos quatro grupos de serpentes, não há necessidade nem se recomenda tentar capturar o animal que causou o acidente — isso só tende a a ocasionar mais perda de tempo. A partir dos sintomas apresentados, um médico treinado reconhecerá o tipo de acidente e administrará, se for necessário, o soro correto.
É importante lembrar que não se deve cortar ou furar o local da picada nem aplicar qualquer substância como alho ou pó de café. Além disso, nunca amarre o local da picada fazendo garrotes ou torniquetes. Essas medidas, em vez de ajudar, só agravam a situação, muitas vezes transformando um acidente leve em um de difícil tratamento.
* Claudio Machado é biólogo e criador do site e canal de vídeos Papo de Cobra
Acidentes com cobras: o que fazer? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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