quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

É verdade que saiu o pâncreas artificial? Estamos quase lá, mas ainda não

No apagar das luzes de dezembro de 2019, recebemos do FDA (órgão americano que regula medicamentos, equipamentos médicos e alimentos) a notícia da aprovação de um software que é capaz de analisar o valor da glicose de um paciente com diabetes por meio de um sensor acoplado na pele e, em seguida, “informar” à bomba de insulina o que fazer. Seria esse o sonho concretizado de vermos o primeiro pâncreas artificial disponível no mundo? Vou responder essa questão em partes.

Começando pelo software: ele foi criado pelo Centro de Tecnologia do Diabetes da Universidade da Virginia, nos Estados Unidos, e é chamado de Control-IQ. Trata-se de uma espécie de inteligência artificial que conecta duas pontas no controle do diabetes.

Ao inferir a glicemia pela pele do paciente, essa inovação consegue antecipar aumentos ou quedas nessa taxa nos minutos seguintes e, a partir daí, indica a dose de insulina a ser infundida. Inicialmente, o Control-IQ será comercializado pela Tandem Diabetes Care nos Estados Unidos para maiores de 14 anos.

Para mostrar sua eficiência, foi feito um estudo com pessoas de 14 a 71 anos com diabetes tipo 1. Elas foram acompanhadas por seis meses — e os resultados saíram em 2019 numa importante revista científica americana. Em resumo, mostrou-se que a bomba com a inteligência artificial atinge um controle mais adequado da glicose em comparação com as bombas convencionais que temos hoje, sem esse “cérebro” acoplado.

Mas calma! Antes que todos corram para os Estados Unidos e tentem comprar o sistema formado pelo sensor de glicose, bomba de insulina e o software do Control-IQ, é importante saber de um detalhe. Isso ainda não é um pâncreas totalmente artificial.

Ora, todos os softwares do tipo desenvolvidos e pesquisados até hoje não são capazes de controlar a glicose durante as refeições — como um pâncreas normal faz, diga-se de passagem. É justamente nesse momento que a glicemia se eleva rapidamente e depende de inúmeras variáveis, como tipo e quantidade de alimentos, rapidez na mastigação, mistura de diferentes comidas etc.

Nenhuma inteligência artificial conseguiu, até o momento, antever a flutuação da glicose nas diferentes refeições e indicar a aplicação de insulina sem apoio e supervisão do paciente. E esse AINDA é o caso do novo lançamento aprovado pelo FDA.

Mesmo com o Control-IQ, todas as vezes que o paciente come, ele deve contar corretamente a quantidade de carboidratos e, muitas vezes, até pesar os alimentos para indicar à bomba de insulina os gramas exatos desse nutriente que foram ingeridos. O indivíduo também precisa “ordenar” à bomba qual a proporção de insulina e carboidratos em cada refeição.

Em outras palavras: a bomba não faz tudo sozinha, como seria de se esperar de um pâncreas artificial. Ela até regula muito bem a glicemia na madrugada e no intervalo entre as refeições (situações em que a glicose é mais estável). Porém, quando o paciente se alimenta, deve tomar as rédeas do tratamento e dar sua mãozinha (ou seu cérebro) para o correto controle da sua doença.

Conclusão: estamos pertíssimos de um pâncreas totalmente artificial, mas ainda falta um pouco para chegarmos lá. E eu estou aqui de dedos cruzados esperando esse momento!


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