O médico alemão Edzard Ernst dedicou duas décadas de pesquisa na Universidade de Exeter, no Reino Unido, para testar de forma rigorosa as técnicas da medicina alternativa, como homeopatia, acupuntura e cura espiritual. Esse tipo de teste, porém, precisa de um placebo. No caso de um remédio comum, basta dar uma pílula de açúcar a um grupo, uma de verdade para outro e comparar os resultados, certo ? Mas como criar placebos equivalentes para terapias menos palpáveis? O próprio Ernst explica.
SUPER: Como vocês fizeram o placebo de acupuntura?
Ernst: Projetamos uma agulha que parece penetrar a pele, mas enrola dentro de si própria. É como uma faca falsa, de lâmina retrátil, dessas usadas no teatro. Ela aderia à pele, não tinha nenhum efeito fisiológico e era indistinguível de uma agulha real. Só depois de garantir tudo isso é que pudemos fazer um teste clínico, comparando os efeitos. E ele comprovou que acupuntura não funciona. Tem o mesmo efeito do placebo.
Qual é o seu caso de placebo favorito?
O de cura espiritual. Tivemos a ideia de usar cinco curandeiros de verdade e, depois, recrutar cinco atores muito parecidos com eles. Cada ator aprendeu com seus respectivos curandeiros como simular o procedimento. Aí chamamos pacientes com dor crônica. Eles eram tratados ora pelos curandeiros verdadeiros, ora pelos falsos. Ninguém sabia quem era quem. Ao final do estudo, a única coisa que percebemos, ainda que sutilmente, foi que os atores eram melhores que os curandeiros em reduzir a dor dos pacientes.
Alguém já desconfiou do placebo?
Só em um teste de remédio comum. Os pacientes tomavam tanto o medicamento ativo quanto o placebo por quatro semanas. Depois de avaliar um indivíduo, ele disse: “Você mudou meu remédio”. Eu me impressionei: “Mas como você sabia? O placebo e o remédio são idênticos”. Ele confessou que jogava as pílulas na privada. “O que você me deu antes flutuava. Esse aqui afunda.” Bruno Vaiano
O arquiteto dos placebos impossíveis Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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