O dia 14 de setembro de 2020 foi um dos mais importantes dos últimos anos para a astronomia. Um estudo publicado na Nature Astronomy revelou a presença de fosfina nas nuvens de Vênus. A detecção por si só não diz muita coisa – mas o que ela representa, sim. Após simulações, os cientistas concluíram que as condições de pressão e temperatura do planeta não permitiriam a produção dessa substância de forma espontânea. A explicação, portanto, poderia ser a presença de microorganismos anaeróbios.
Somente a presença de fosfina em Vênus não é suficiente para confirmar a descoberta de vida fora da Terra. É possível que algum processo químico desconhecido esteja acontecendo nas nuvens – e além disso, a atmosfera do planeta é considerada muito quente e ácida para abrigar vida. Mesmo assim, a presença do gás é um bom indicador de que vale a pena investigar nosso vizinho planetário.
Se realmente existirem microorganismos produzindo fosfina em Vênus, é possível que a Nasa já os tivesse detectado – mas deixado a informação passar. É o que concluiu a equipe do bioquímico Rakesh Mogul, da Universidade Politécnica da Califórnia, após analisar dados antigos da agência espacial. O artigo foi submetido à Nature e ainda não passou por revisão de pares.
A sonda LNMS fazia parte da missão Pioneer 13, da Nasa, e foi lançada em agosto de 1978, chegando a Vênus em dezembro do mesmo ano. O instrumento astronômico era composto por uma sonda grande que soltou quatro sondas menores na atmosfera de Vênus, como você pode ser na ilustração do início desta matéria. Enquanto as sondas eram puxadas pela gravidade do planeta, elas coletavam e enviavam os dados aos astrônomos da Terra.
A Pioneer 13 coletou informações sobre radiação, luminosidade, temperatura, pressão e composição da atmosfera, entre outras características do planeta. Segundo os autores do artigo, a sonda já havia detectado fosfina em Vênus naquela época, mas ninguém deu muita atenção.
A equipe já havia trabalhado e estava familiarizada com os dados da missão dos anos 1970. “Para nós, foi natural dar uma segunda olhada nos dados. Depois de consultar com meus colegas, nós identificamos os artigos científicos originais e começamos a procurar por compostos com fósforo”, disse o autor ao site LiveScience.
A fosfina nada mais é do que uma molécula com três átomos de hidrogênio ligados a um de fósforo. Na época, os pesquisadores não se aprofundaram nos compostos envolvendo fósforo, resolvendo focar mais em outros químicos.
A equipe da Califórnia reavaliou os dados dos gases entre 50 e 60 quilômetros de altitude – região que poderia abrigar vida. Encontrou sinais de fosfina e átomos de fósforo, que possivelmente teriam vindo desse gás. A sonda não foi construída para ser sensível à fosfina, então poderia confundir gases de massa semelhante. Mesmo assim, a amostra analisada mostrou evidência de moléculas com massa igual à fosfina e em níveis semelhantes aos que foram publicados no meio de setembro.
Mas porque ninguém deu atenção a isso na época? “A evidência de substâncias químicas que poderiam ser indicadoras de vida foram deixados de lado porque não se acreditava que elas poderiam existir naquela atmosfera” diz Mogul. Somado ao fato de que a sonda não era tão sensível a esses compostos, os dados podem ter sido interpretados como erros. “Muitas pessoas agora estão repensando a noção de Vênus como um ambiente que não suportaria esses tipos de substâncias”, completa.
Os dados de 1978 não acrescentam nenhuma novidade à possibilidade de vida no planeta, mas reforçam a presença da fosfina na atmosfera. Se a empreitada pela busca dos microorganismos em Vênus tivesse começado há 40 anos, talvez já vivêssemos em um mundo em que a vida fora da Terra não fosse apenas uma hipótese, e sim um fato.
Cientistas dizem que sonda encontrou fosfina em Vênus em 1978 – mas ninguém percebeu Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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