A malária é uma doença infecciosa conhecida por causar febre, fadiga e dores de cabeça. A maior parte dos casos ocorre nos períodos chuvosos, já que seu parasita – uma das cinco espécies do gênero Plasmodium – infecta hospedeiros com ajuda dos mosquitos. Estes, como já sabemos, são mais abundantes em épocas quentes do ano, pois precisam da água para se reproduzir.
Mas uma coisa sobre a doença intriga os cientistas. Durante os períodos de seca, há menos mosquitos transitando e, consequentemente, o plasmodium encontra dificuldades para se reproduzir. Se considerarmos ambientes que enfrentam a falta de chuva por muitos meses, é esperado que o parasita suma do mapa – mas não é isso que acontece. Então, para onde vai o causador da malária, que infecta cerca de 200 milhões de pessoas por ano?
De acordo com um estudo feito por cientistas do Hospital Universitário de Heidelberg, na Alemanha, e publicado na revista Nature Medicine, o plasmodium se esconde no próprio corpo humano. Na pesquisa, o parasita estudado foi o Plasmodium falciparum, responsável por causar a malária em sua versão mais grave.
O P. falciparum infecta os glóbulos vermelhos de seu hospedeiro. Quando ele está dentro das células, produz proteínas que tornam as células mais pegajosas, fazendo com que elas grudem nos vasos sanguíneos e não sejam transportadas para o baço. O baço, por sua vez, é o órgão incumbido de filtrar o sangue, removendo quaisquer sinais de impurezas. Se a célula não chega até ele, o parasita também não é eliminado do corpo e causa a doença.
Mas, nos períodos de seca, os cientistas notaram que essa aderência não acontece. Isso porque o P.falciparum altera a expressão de seus genes, fazendo com que as tais proteínas não sejam produzidas. Com isso, as células infectadas viajam até o baço e são eliminadas. As poucas que sobram fazem os parasitas permanecerem no organismo, mas sem conseguir desenvolver a doença ou gerar resposta imune. É como um estado de hibernação.
Os cientistas observaram a mudança de comportamento do parasita em diferentes estações após analisar 600 pessoas infectadas com malária no Mali, país da África, em 2017 e 2018. Durante a temporada de chuva, foram registrados, respectivamente, 386 e 347 casos de malária com febre. Na estação seca, foram 12 e cinco casos com febre nos dois anos. No entanto, 20% desses voluntários tinham sinais do parasita escondido em seus organismos, mas não desenvolveram sintomas.
Como o parasita faz para diferenciar as estações de chuva e seca permanece um mistério. Entre as hipóteses, está o fato do parasita ser submetido ao estresse, reação parecida com a gerada por medicamentos. O parasita se transforma em gametócito, estágio do ciclo de vida sexual que permite que eles sejam ingeridos pelos mosquitos e transportados para outro hospedeiro. Outra hipótese é que na saliva dos mosquitos exista uma proteína que alerta os parasitas de que eles podem sair da toca. Nenhuma delas foi comprovada.
A pesquisa também não analisou os parasitas em estágios de vida semelhantes. Sendo assim, ainda é preciso fazer mais estudos para comprovar que há realmente uma mudança no comportamento do P. falciparum. Compreendê-la pode ajudar os cientistas a criar maneiras de combater o parasita quando este se encontra em seu nível mais inofensivo.
Nos períodos de seca, parasita da malária se esconde no sangue de hospedeiros Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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