Sete meses após o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, a pandemia deixou de ser vista como uma situação passageira. Seja via home office, aulas online ou na adoção de máscaras em locais públicos, todo mundo tenta restaurar uma rotina “normal” adaptada ao coronavírus.
Ainda em abril, milhares de pessoas começaram a reportar que estavam tendo sonhos mais vívidos durante a quarentena. O site I dream of Covid (Eu sonho com Covid) foi criado para que os internautas possam descrever seus sonhos intranquilos – e possivelmente encontrar alguém que compartilhe das mesmas agonias.
No entanto, foi só em setembro que começaram a surgir pesquisas científicas mais robustas sobre os sonhos pandêmicos. O periódico Dreaming publicou quatro novos estudos em sua edição mais recente. Tratam-se de pesquisas feitas na América do Norte e Itália, duas regiões fortemente afetadas pelo vírus.
Uma dessas pesquisas foi feita pela Universidade Trent, no Canadá. Ela analisou diários de jovens universitários que escreveram seus sonhos por duas semanas durante o espalhamento da doença pelo continente. Eles foram comparados com um grupo controle, que já havia escrito o diário antes da pandemia.
Não é surpresa que os estudantes passaram a sonhar mais com eventos relacionados à pandemia. Um dos cenários que mais apareceu foi esperar em filas durante a visita cotidiana ao supermercado – que, para muita gente, se tornou o único contato com o mundo exterior. Algo ainda mais estranho que apareceu nos sonhos foi imagens de rostos e cabeças, parte do corpo associada à transmissão da Covid-19.
Outro estudo, conduzido por uma professora de medicina da Universidade de Harvard, usou um questionário online para coletar os sonhos de quase 3 mil norte-americanos. Por meio de algoritmos, ela classificou os sonhos com base nos temas e emoções, como “raiva”, “morte”, “tristeza”, “saúde”, entre outros.
Nesse caso, o mais surpreendente foi perceber a diferença entre os sonhos de homens e mulheres. Enquanto os primeiros tendem a ter pesadelos relacionados a morte, medo de pegar a doença e preocupações com a saúde, os sonhos delas estiveram mais relacionados a depressão, raiva e tristeza, emoções que não tiveram aumento significativo nos sonhos deles. “As mulheres têm sofrido mais os efeitos secundários. De maneira geral, elas são as que se encarregam de cuidar dos familiares adoecidos. Acredito que essa seja uma das principais fontes de tristeza nos sonhos delas”, diz Deirdre Barrett, líder do estudo, ao New York Times.
Essa tendência se repetiu num outro estudo, também realizado via questionário online nos Estados Unidos. Sonhos negativos relacionados à pandemia foram mais frequentes em mulheres do que em homens. Na pesquisa, pessoas com maior nível de escolaridade também tiveram sonhos mais negativos.
Uma quarta pesquisa, realizada na Itália, mostrou que, entre 800 participantes entrevistados, 20% dos sonhos faziam referência direta à doença. Além disso, pessoas que perderam pessoas próximas para a doença também relataram emoções mais fortes e sonhos mais vívidos. Mais uma vez, as mulheres foram maioria quando se trata de pesadelos.
Boa parte dos sonhos relatados nessa pesquisa se passam em ambientes externos, em que a falta de respeito pelo distanciamento social são motivo de frustração e sensação de perigo.
Mas nem todos os sonhos são trágicos. Os estudos também mostraram uma tendência a sonhos que envolvem reunião entre amigos e família, além da descoberta da cura para a Covid-19 ou o momento em que a população terá acesso à vacina.
A verdade é que cada pessoa tem vivências diferentes e sua própria maneira de dar sentido ao que está acontecendo. Por isso, cada sonho é único. Esta repórter, por exemplo, sonha constantemente que esqueceu a máscara ao sair de casa – hoje, uma sensação tão ruim quanto sonhar que se está nu em locais públicos.
Andou sonhando com a Covid-19? Você não está sozinho Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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