segunda-feira, 6 de julho de 2020

Combinar vacinas poderia ampliar a proteção contra o coronavírus

Mesmo antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocar o novo coronavírus (Sars-CoV-2) como uma emergência de saúde pública de importância internacional, em março deste ano, a busca por uma vacina já tinha começado em diversas partes do mundo. Alguns desses estudos têm avançado com uma velocidade sem precedentes na história e, apenas sete meses após o surgimento da Covid-19, 18 das mais de 140 formulações criadas a partir de diferentes conceitos já estão sendo testadas em seres humanos.

Duas das candidatas que estão no estágio mais avançado de desenvolvimento – conhecido como ensaio clínico de fase 3, cujo objetivo é avaliar a eficácia da vacina em um grande grupo de voluntários – começam a ser aplicadas experimentalmente no Brasil. Uma delas, a ChAdOx1 nCoV-19, foi desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e licenciada para o laboratório AstraZeneca. A outra, nomeada Coronavac, é fruto do trabalho feito pela empresa chinesa Sinovac Biotech, que firmou um acordo com o Instituto Butantan.

Por ser um dos locais onde o novo coronavírus mais circula atualmente e onde mais casos são confirmados todos os dias, o Brasil se converteu no local ideal para estudos de eficácia de vacinas. Em breve, outras potenciais candidatas devem aportar por aqui. Mas não se trata de uma corrida para ver qual é a melhor ou qual conseguirá obter primeiro a aprovação das agências reguladoras, afirmam os pesquisadores envolvidos nos ensaios clínicos. Quanto mais vacinas se mostrarem capazes de proteger ao menos em parte os imunizados, mais chance a Humanidade terá de transformar a Covid-19 em uma doença possível de ser controlada, como a gripe.

A avaliação foi feita pelos participantes do seminário on-line “As vacinas contra a Covid-19 em teste no Brasil”, realizado pelo Canal Butantan em parceria com a Agência FAPESP.

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“Ter várias vacinas aprovadas pode ser útil, porque é possível que a melhor estratégia para induzir uma resposta imune protetora seja combinar várias formulações. Além disso, esses estudos em andamento nos permitem aprender mais sobre a resposta imune contra o Sars-CoV-2”, disse o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Esper Kallás, que coordena no Brasil o ensaio de fase 3 com a Coronavac. A pesquisa, que incluirá quase 9 mil voluntários brasileiros em diferentes estados, é patrocinada pelo Instituto Butantan.

Feita com uma cepa viral isolada de uma paciente em janeiro, e depois inativada em laboratório por meio de processos químicos, a Coronavac avançou rapidamente graças ao conhecimento gerado quando se buscava uma vacina contra o Sars-CoV-1, o coronavírus que entre 2002 e 2003 causou a epidemia de síndrome respiratória aguda grave (SARS) na China e em alguns outros países, contou Ricardo Palacios, diretor médico de Pesquisa Clínica do Instituto Butantan.

“A vacina contra a Sars avançou até a fase 1 dos testes clínicos. Depois o vírus foi contido e o projeto, interrompido. Mas o conhecimento de como desenvolver vacinas contra um coronavírus foi aproveitado. A empresa seguiu um caminho bem tradicional em um tempo muito curto. Normalmente, as diferentes etapas de testes pré-clínicos e clínicos são feitas uma após a outra, mas eles fizeram várias ao mesmo tempo”, contou Palacios.

A segurança da Coronavac e sua capacidade de induzir no organismo uma resposta de defesa foram testadas em diferentes espécies de animais. Observou-se que a imunização reduziu significativamente a carga viral na mucosa nasal dos animais infectados e conferiu proteção significativa contra a infecção do pulmão.

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Já nas fases 1 e 2 dos ensaios clínicos foram testados a segurança e o potencial imunogênico de diferentes doses da vacina, com diferentes intervalos entre as duas doses administradas. Até o momento, observou-se que 90% dos voluntários que receberam as duas doses desenvolveram anticorpos neutralizantes contra o Sars-CoV-2.

O tempo de permanência desses anticorpos no organismo e seu potencial protetor contra a Covid-19 – ou ao menos contra o desenvolvimento de sintomas severos da doença – é algo que somente os ensaios clínicos de fase 3 poderão informar, comentaram os pesquisadores durante o webinar.

De acordo com os participantes do evento, tanto a Coronavac quanto a ChAdOx1 nCoV-19 parecem ser capazes de induzir tanto a produção de anticorpos neutralizantes quanto a chamada imunidade celular, que é o treinamento de determinados tipos de linfócito (células de defesa) para que se tornem capazes de reconhecer e atacar o Sars-CoV-2.

Já a estratégia por trás da vacina britânica vinha sendo desenvolvida em Oxford havia alguns anos originalmente contra a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), causada pelo coronavírus Mers-CoV. Isso permitiu ao grupo avançar rapidamente para a fase clínica da ChAdOx1 nCoV-19, contou Pedro Folegatti, pesquisador do Jenner Institute, o centro de pesquisa em imunizantes da universidade britânica.

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“As negociações para trazer o ensaio de fase 3 para o Brasil começaram em maio. O país estava com uma curva ascendente de infecção e a cidade de São Paulo, então, era o epicentro das infecções no país. Em segundo lugar estava o Rio”, contou a professora da Universidade Federal de São Paulo Lily Weckx, que coordena o braço paulista da pesquisa com a vacina de Oxford.

“O Brasil tem grandes grupos envolvidos em vários estudos de vacina contra a Covid-19. A meu ver, isso é algo estratégico para o país. Já que infelizmente nossa situação epidêmica nos fez o local ideal para ensaios de fase 3, que ao menos isso facilite a negociação com as empresas para que, se uma ou mais vacinas forem aprovadas, elas fiquem disponíveis aos brasileiros, inclusive aos mais desfavorecidos”, afirmou Kallás.

Este conteúdo é da Agência Fapesp. Clique aqui para ler o conteúdo completo


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