terça-feira, 28 de julho de 2020

Em nova missão, Nasa vai devolver rocha de Marte que veio parar na Terra

Na próxima quinta-feira (30), a Nasa lançará a Perseverance, sua próxima missão com destino a Marte. Além de inaugurar uma nova era da corrida espacial, já que a China enviou sua própria nave em direção ao planeta vermelho poucos dias atrás, a empreitada também contará com um tripulante especial: uma pequena rocha que se se soltou do solo de Marte há 600 mil anos e veio parar na Terra, e agora poderá voltar para a casa em uma jornada interplanetária inédita.

A pedra em questão se chama Sayh al Uhaymir 008, or SaU 008. Ela é formada por basalto e se desprendeu de Marte em algum momento entre 600 mil e 700 mil anos atrás, provavelmente por conta de uma colisão com um outro grande objeto sólido vindo do espaço.

Desde então, ela ficou vagando pelo espaço até cair na Terra no formato de um meteorito, há mais ou menos mil anos, segundo estimativas. Em 1999, o fragmento de rocha foi encontrado no Omã, e análises científicas revelaram que dentro da pedra havia microbolhas que continham a mesma composição da atmosfera de Marte, o que provou que o planeta vermelho era sua origem. Desde 2000, a SaU 008 estava no Museu de História Natural de Londres, onde também foi extensamente estudada.

<span class="hidden">–</span>NASA/JPL/Divulgação

Agora, o meteorito vai pegar uma carona no veículo espacial Perseverance, que está marcado para ser lançado ao espaço pela Nasa na próxima quinta-feira (30) e deverá pousar em Marte em fevereiro de 2021, levando a pedra de volta para sua casa original. Mas engana-se quem acha que a passageira mineral é apenas simbólica: a SaU 008 também terá um papel científico importante na missão. Isso porque alguns equipamentos tecnológicos que o robô Perseverance está carregando precisam ser calibrados antes de serem usados, tanto aqui na Terra como após o pouso. É o caso do SHERLOC, por exemplo, que utiliza um laser para analisar as propriedades de rochas que encontrar.

A SaU 008 foi escolhida para ser o modelo utilizado nesses testes, já que é de fato uma rocha marciana tem uma composição parecida com outras amostras que os equipamentos analisarão. Além disso, o meteorito é considerado duro e resistente o bastante para aguentar a viagem e o pouso, ao contrário de outras pedras com origem em Marte que temos aqui, que provavelmente se fragmentariam no processo. Obviamente, essa não é a única maneira de se ajustar os equipamentos da missão, mas a equipe argumenta que usar uma rocha nativa de Marte é mais eficaz do que utilizar amostras da Terra. De qualquer forma, outros nove materiais, de origem terrestre, também estarão a bordo da missão e serão usados para o mesmo fim.

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Apesar de ser a primeira pedra marciana a voltar ao solo do planeta, a SaU 008 não é exatamente a primeira a embarcar em uma missão com destino a Marte. Esse posto pertence a um pedaço do meteorito Zagami, a maior rocha de Marte já encontrada na Terra. Em 1996, a sonda Mars Global Surveyor foi lançada também pela Nasa para estudar Marte a partir de sua órbita, e carregava consigo um pedaço da rocha, que ainda está orbitando seu planeta original.

Além de levar de volta uma rocha de Marte, a nova missão da Nasa também pretende fazer o contrário: trazer amostras do solo marciano aqui para a Terra. O veículo espacial também fará análises diretamente no local em que pousar, na cratera de Jezero. Astrônomos acreditam que a cratera era um lago cheio de água, e por isso é uma das melhores apostas para se procurar pistas sobre presença de vida no planeta no passado (ou, quem sabe, até no presente, embora a ideia seja um pouco otimista demais). O laser do SHERLOC, por exemplo, foi especialmente desenvolvido para procurar compostos orgânicos nas amostras do solo que analisar – na natureza, esses compostos são sintetizados por seres vivos.

Estudar uma possível presença da vida em Marte não será o único objetivo da Perseverance. Também serão coletados dados sobre o clima do planeta, sua geologia e diversas outras características para entender melhor nosso vizinho vermelho. Atualmente, Marte é um dos alvos que mais chamam atenção da astronomia internacional, após várias missões ajudarem a entender a Lua melhor. Até então, a americana Nasa tinha mantido um certo monopólio nas missões a Marte, mas, na semana passada, a China enviou sua primeira nave ao planeta. Poucos dias antes, os Emirados Árabes Unidos também já haviam lançado sua missão própria. Agora, muitos estão interpretando essa disputa como uma “nova corrida espacial”, análoga à disputa entre os EUA e a União Soviética pela exploração da Lua.


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