Dos poderosos povos que prosperavam na América Central antes da chegada dos espanhóis na região, em 1492, os maias certamente estão entre os maiores e mais misteriosos. Até hoje os especialistas debatem questões como o que estaria por trás da queda da grande capital Chichén Itzá no século 13 ou até que ponto as diversas culturas mesoamericanas que coexistiam trocavam influências entre si. Um novo achado arqueológico deve lançar luz sobre esses mistérios.
Em uma coletiva de imprensa realizada na Cidade do México, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do país latino-americano informou que uma equipe de arqueólogos descobriu, sem querer, uma verdadeira cápsula do tempo maia. Nas profundezas de uma caverna sob as ruínas da antiga e monumental Chichén Itzá, na Península de Yucatán, foram encontrados mais de 150 objetos utilizados pelos maias.
São incensários, vasos, pratos decorados e outros itens que passaram pelo menos os últimos mil anos ocultos entre as rochas. O arqueólogo Guillermo de Anda, que liderou a exploração, diz ter ficado sem palavras e chorado ao se deparar com o tesouro perfeitamente intacto. “Você quase sente a presença dos maias que depositaram essas coisas lá dentro”, disse à revista National Geographic.
De Anda é investigador do INAH e diretor do Great Maya Aquifer Project, organização que atua para explorar, entender e proteger o grande aquífero que há no subsolo da região. Para acessar a câmara que abriga os objetos ritualísticos, os arqueólogos precisam rastejar por horas em meio a túneis estreitos. O sistema rochoso é conhecido como Balamku, ou caverna do deus jaguar. Entre os artefatos, alguns exibem o rosto de Tláloc, deus da chuva do povo tolteca, outros têm imagens da árvore ceiba, representação do universo maia.
É a segunda vez que um tesouro do gênero é encontrado em um antigo lugar de culto dos maias: a caverna Balankanché, próxima de Balamku, foi escavada em 1959 e continha 70 objetos. De Anda suspeita que a segunda seja uma espécie de “mãe” da primeira. “Eu não quero dizer que quantidade é mais importante do que informação, mas quando você vê que há muitas, muitas oferendas em uma caverna que também é de muito mais difícil acesso, isso nos diz alguma coisa”, ressalta o arqueólogo.
Cavernas eram tidas pelos maias como locais transcendentais, verdadeiros portais para o submundo. Tamanha sacralidade as tornava elementos centrais para aquela civilização, influenciando no planejamento das cidades e na organização social. Acontece que, até os anos 80, os arqueólogos especializados em escavações do povo maia priorizavam o estudo de monumentos e limpavam os artefatos encontrados em cavernas. Mas o material orgânico dentro dos incensários e outros resíduos também são uma fonte valiosa de informações.
Por isso, a ideia agora é empregar as tecnologias mais avançadas da arqueologia de cavernas, como mapeamento 3D e paleobotânica, na tentativa de entender como eram os rituais maias, bem como a ascensão e declínio de Chichén Itzá. É uma oportunidade única.
Por algum motivo desconhecido, o arqueólogo Víctor Segovia Pinto visitou Balamku em 1966 com fazendeiros locais, fazendo um inventário inicial do que encontrou ali dentro, mas em seguida ordenou que a caverna fosse lacrada novamente e deu um fim em todos os registros. Cinco décadas depois, exploradores terão a chance de vasculhar cada cantinho do complexo à procura de respostas — e talvez esclarecer alguns dos grandes mistérios maias.
Tesouro intocado por 1.000 anos pode ajudar a desvendar mistérios da civilização maia Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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