quarta-feira, 13 de março de 2019

Elétrons podem “voltar no tempo”, diz estudo

Desde que Einstein provou que o espaço e o tempo formam um único tecido inseparável, a visão que temos sobre o tempo nunca mais foi a mesma. Como se não bastasse essa revolução trazida pela relatividade geral (a gravidade dos corpos distorce o tecido), agora a física quântica vem bagunçar ainda mais nossa cabeça. Expandindo as fronteiras do conhecimento na área, um novo estudo desenvolvido em conjunto por físicos russos, americanos e suíços calculou a probabilidade de um elétron voltar no tempo. E descobriu que, sim, isso é possível.

É claro que a questão é muito mais complexa do que isso. Afinal, estamos falando do mundo quântico e, como bem sintetizou o grande físico teórico Richard Feynman, se você pensa que entendeu mecânica quântica, você não entendeu absolutamente nada. Então vamos todos respirar fundo e tentar decifrar o experimento. Uma equipe internacional de físicos quânticos, formada por profissionais do MIPT (Rússia), ETH (Suíça) e do Laboratório Nacional Argonne (EUA), investigou fenômenos que se passavam dentro de um computador quântico.

Eles observaram dois computadores quânticos: um mais simples, capaz de fazer operações matemáticas usando dois qubits (bits quânticos), e outro mais complexo, com três qubits. Os qubits são partículas utilizadas para transmitir informação nesses sistemas, levando em conta características físicas como a orientação da rotação dos elétrons ou o sentido da polarização da luz. 

Imagine a experiência como se fosse um jogo de sinuca. O primeiro estágio, que corresponde à ordem, consiste na etapa em que todas as bolas estão distribuídas sobre o veludo da mesa no formato tradicional, com a branca próxima de uma extremidade, e todas as demais próximas da oposta em formato triangular. O estágio seguinte é o da degradação: assim como uma tacada na bola branca traria o caos à mesa, um algoritmo faz o mesmo com os qubits. Só que de forma controlada.

E isso é essencial para a próxima etapa do experimento. Nela, o software começa a trazer de volta os qubits à sua configuração inicial, seguindo o mesmo caminho que eles percorreram antes do caos (a tacada). Esse é o terceiro estágio, de reversão temporal. Por último, temos a regeneração, onde as posições iniciais dos qubits (ou das bolas de bilhar) são recuperadas.

Os físicos descobriram que, em 85% dos casos, um computador quântico com dois qubits era capaz de retornar a seu estado inicial. No computador de três qubits, a taxa era menor, 50% (mas isso se deve principalmente à instabilidade dessa máquina, que ainda é rudimentar). 

Segundo os pesquisadores, o estudo tem uma aplicação prática: melhorar os computadores quânticos. Mas, na esfera teórica, as implicações são bem mais intrigantes.

Antes de chegarem a essa fase experimental, os cientistas calcularam a chance de um elétron viajando livremente pelo espaço interestelar voltar no tempo. Ou seja, retornar naturalmente à posição em que estava uma fração de segundo atrás. Acontece que, para as leis da física, não há diferença entre passado e futuro. Suponha que só existam duas bolas na mesa de bilhar: a branca e a amarela. Com a mesma equação, é possível descrever os movimentos delas tanto antes quanto depois da batida.

Apertando o botão de rewind, ambas as tacadas parecem plausíveis. Mas se a bola branca acerta a pirâmide inicial contendo todas as bolas, a coisa muda. Se assistíssemos a um boomerang (vídeo ao contrário, típico do Instagram) dessa jogada, saberíamos na mesma hora qual delas é a real — afinal, como seria possível um jogador fazer as bolas retornarem ao formato triangular? Isso é um entendimento intuitivo da segunda lei da termodinâmica: um sistema isolado ou permanece estático, ou evolui para um estado de caos, quando submetido a uma força externa.

É por isso que não testemunhamos tacadas como essa, assim como não vemos chás voltando para seus saquinhos de infusão, ou vulcões entrando em erupção para
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