terça-feira, 7 de abril de 2020

Mapa interativo monitora casos de Covid-19 em terras indígenas no Brasil

Com o avanço da Covid-19, que soma mais de 11 mil casos pelo Brasil, aumenta a preocupação quanto a propagação do novo coronavírus em comunidades remotas. As aldeias indígenas, por exemplo, carregam um histórico de epidemias que devastaram suas populações locais desde o descobrimento do Brasil. E o histórico de vulnerabilidade social e econômica nessas áreas pode contribuir para que a situação fuja do controle.

Como forma de acompanhar os casos dentro das aldeias e proximidades, a ONG Instituto Socioambiental (ISA) criou uma plataforma online interativa, em que é possível monitorar o avanço do vírus pelas reservas indígenas do país. 

De acordo com a plataforma, a até o momento o registro de quatro indígenas infectados. Todos seguem em quarentena. O primeiro caso entre indígenas foi diagnosticado recentemente, no dia 1º de abril. A paciente, que trabalha como agente de saúde na cidade de Santo Antônio do Içá (AM), tem 20 anos e pertence à etnia Kokama. Não há registros de mortes pelo novo coronavírus entre indígenas.

Na verdade, não oficialmente. Na prática, a história é outra. A Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), responsável pelos registros, não está colocando na conta os indígenas considerados “não aldeados”, ou seja, que moram nas cidades ou outros locais fora das aldeias.

Uma anciã da etnia Borari, de 87 anos, faleceu na última semana em Alter do Chão, no Pará. Sua morte foi registrada apenas pelo Sistema único de Saúde (SUS), e não pelo Sesai. A mulher morreu em meados de março e seu funeral contou com centenas de conhecidos. Apenas no início de abril foi confirmada a causa: Covid-19.

De toda forma, o Ministério Público Federal divulgou em nota que é obrigação da Sesai atender toda a população indígena, independentemente do local em que vivem. Dados coletados pelo IBGE em 2010, no último Censo do Brasil, mostram que, dos quase 897 mil indígenas brasileiros, cerca de 325 mil vivem em zonas urbanas.  

Hábitos da cultura indígena favorecem a propagação de doenças infecciosas. Primeiro, porque costumam moram em locais distantes, de difícil acesso a serviços de saúde. Muitos vivem em casas compartilhadas com várias famílias, dividindo mesmos utensílios de cozinha. Eles também têm menos acesso a itens de higiene como sabão e álcool em gel, fortemente indicados para a pandemia de coronavírus.

Problema antigo

A plataforma desenvolvida pelo ISA conta com uma linha do tempo com diferentes epidemias que dizimaram populações indígenas desde a chegada dos colonizadores no Brasil. Entre 1562 e 1564, por exemplo, surtos de sarampo e varíola derrubaram aldeias jesuítas inteiras da Bahia.

Como forma de evitar que o vírus se alastre, o Ministério Público Federal divulgou uma série de medidas. Entre elas, o fechamento total das aldeias. Isso significa que não se pode sair ou entrar nas tribos, a não ser que a pessoa tenha autorização para entregar alimentos ou promover atendimentos médicos para os moradores. Indígenas que estavam fora das aldeias antes do começo da doença devem permanecer afastados, cumprindo quarentena. 

É incentivada também a aquisição e distribuição de kits de oxigênio e equipamentos de proteção individual aos profissionais das Equipes Multidisciplinares de Saúde Pública. Todas as aldeias devem receber uma equipe médica e o transporte, seja terrestre, fluvial ou aéreo, deve ser facilitado pelas autoridades. A população indígena também foi incluída no grupo prioritário de vacinação contra a gripe.

Em nota, o MPF ainda reforça que a invasão de garimpeiros, madeireiros e outros criminosos é comum nesses espaços, o que também pode colocar os indígenas em risco de contaminação. Por isso, a Fundação Nacional do Índio (Funai) deve intensificar as medidas de proteção territorial.

Pessoas que tiverem interesse em ajudar comunidades indígenas a combater o novo coronavírus por meio de doações, pode saber melhor como fazê-lo consultando a página criada pelo ISA.


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