A palavra “gótico” tem data de nascimento: 1518, numa carta do pintor Rafael ao papa Leão 10º. Foi a primeira vez que alguém usou o termo para se referir não a um povo, mas a um estilo artístico: tudo o que existia entre a queda de Roma e a Renascença. Rafael acreditava, e fazia coro ao espírito da época, que a grande arte que tentavam recuperar havia sido destruída pelas invasões bárbaras. O nome vem de um dos povos invasores, os godos, chamados de gothi em latim. Assim, arte gótica – medieval – quer dizer, em sua origem, arte bárbara.
Os artistas não “desaprenderam” a pintar e esculpir com a queda de Roma. A primeira coisa a se entender sobre o estilo medieval é que ele não nasceu na Idade Média. É característico do fim da Antiguidade, o que é bem visível na arte do Império Bizantino, a parte do Império Romano que não caiu e não passou pela “barbarização” vista por Rafael.
Com a mudança da capital do Império para Constantinopla, em 330, e a chegada de religiões como o mitraísmo persa e o cristianismo da Judeia, a arte romana já havia se orientalizado, abandonando o realismo e se focando em ornamentação em materiais preciosos. E, além dessa influência do Oriente, havia uma mudança nas ideias. Nascido no Egito, o filósofo Plotino (205-270) ressuscitou o platonismo. O neoplatonismo, como o original, fala na essência das coisas: ideias perfeitas, que existem antes e além do ser humano. Sob o pensamento neoplatônico, a arte passa a ser essencialista. No lugar de retratar a natureza, importa captar a essência das coisas, mais real que a realidade, como Deus as enxergaria.
Figuras consideradas mais importantes passam a ser retratadas em tamanho maior. Traços minimalistas também se focam no que é essencial: os olhos, o nariz, a boca. Isso explica também as expressões plácidas medievais, em choque com as ideias atuais de expressividade. Em pinturas medievais, alguém pode estar matando ou sendo morto e ainda assim não expressar fúria, dor ou surpresa. No lugar de um momento vulgar de desespero, o que se queria retratar era a essência eterna das pessoas.
Outra coisa importante: a arte valia o que pesava. O material utilizado – ouro, joias, pinturas em tintas raras como o lápis-lazúli em pó – era mais valorizado que o trabalho. Livros ilustrados, tapetes e esculturas, na Idade Média, eram comprados como investimento, pensado em sua futura revenda. Assim, muita coisa se perdeu, particularmente quando a arte medieval passou a ser desprezada na Renascença. Quase tudo o que sobrevive é de coleções de Igreja, o que passa a falsa impressão que a maioria da arte medieval era religiosa.
A evolução da arte da queda de Roma à Renascença.
FIM DO IMPÉRIO – século. 4
TESOURO REAL – 778
ARTE PORTÁTIL – 1066
PARA GUARDAR – 1228
QUASE NA RENASCENÇA – 1399
NOVA PERSPECTIVA – 1425
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