quarta-feira, 1 de abril de 2020

Hospitais de campanha: como vão funcionar e por que são tão importantes

Em vez dos tradicionais jogos de futebol, o estádio do Pacaembu, na capital de São Paulo, vai receber pessoas infectadas com o novo coronavírus (chamado de Sars-CoV-2). Do dia 6 de abril em diante, funcionará ali um hospital de campanha com duas tendas e 200 leitos. Mas como esse e outros locais parecidos vão funcionar? Quem receberá tratamento? E qual a importância deles?

Comecemos pela última pergunta. “Essa pandemia exige muitas internações, que devem saturar o sistema de saúde. Os hospitais de campanha ajudam principalmente a desafogar a demanda por leitos para pacientes com Covid-19 de baixa complexidade”, explica Fabio Racy, especialista em Medicina do Desastre e coordenador médico do hospital de campanha do Pacaembu, que será gerenciado pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Por baixa complexidade, entenda: indivíduos que devem permanecer internados, mas que dispensam a necessidade de cuidados em UTIs. Eles estão em uma zona cinzenta de gravidade, assim por dizer.

As autoridades locais podem definir os critérios de quem será atendido nesses hospitais temporários. A maioria deles deve cuidar de vítimas do novo coronavírus que já podem deixar a UTI, porém que ainda não estão aptos a ter alta e voltar para casa.

Isso porque muitos casos de Sars-CoV-2 demoram entre sete e dez dias para manifestar complicações que exijam respiradores mecânicos, monitoração detalhada e outros cuidados disponíveis apenas em uma UTI. Logo, se um hospital temporário sediasse brasileiros que estão começando a exibir sintomas que pedem uma internação (como falta de ar persistente), não raro seria necessário tirá-los de lá para levá-los a um estabelecimento com UTI em decorrência do agravamento do caso.

“Ao nos concentrarmos em quem está saindo da UTI, minimizamos a necessidade de remoções com ambulância, que não são boas para as pessoas e sobrecarregam o sistema de saúde”, esclarece Racy.

Ainda assim, se os hospitais públicos entrarem em colapso, é possível que os de campanha acolham também a turma que está iniciando o tratamento do coronavírus. Lembrando que a orientação para quem apresenta sintomas leves é ficar em casa.

No dia 1º de abril, Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, participou de uma coletiva de imprensa em que fez uma declaração sobre outro benefício dos hospitais temporários: “Eles vão ser cada vez mais comuns no Brasil. Ao deixarmos as pessoas que estão em uma zona cinzenta de gravidade nesses lugares, evitamos a contaminação de todos os hospitais, inclusive dos que não têm UTI”.

E atenção: não adianta ir até um desse locais ao apresentar sintomas suspeitos da Covid-19. Quem encaminha o paciente para lá são as unidades básicas de saúde, a depender de certos critérios.

Além do hospital de campanha do Pacaembu, uma estrutura semelhante está sendo montada no Anhembi (também em São Paulo), com 1 800 leitos. A capital do Rio de Janeiro, Boa Vista (Roraima), Brasília (Distrito Federal), Fortaleza (Ceará) e vários outros municípios também vêm montando espaços semelhantes.

Fora do país, ficou marcada a construção de um hospital de campanha no Central Park, um dos parques mais famosos do mundo, localizado em Nova York (EUA). Em Wuhan, cidade da China onde o Sars-CoV-2 causou suas primeiras vítimas, mais de uma dezena de estruturas do tipo foram erguidas. Agora que o número de novos casos arrefeceu por lá, eles estão sendo desmontados.

“O contrato que temos para o hospital de campanha do Pacaembu é de três meses, podendo ser ampliado. Mas imagino que ele vai permanecer ativo de quatro a seis meses, embora a gente só vá saber disso ao certo com o avançar da crise”, calcula Racy.

Como será tratamento do coronavírus nos hospitais de campanha

Nesses espaços, os profissionais de saúde terão todos os medicamentos necessários para controlar sintomas, infecções oportunistas… “Nós ainda dispomos de tubos de oxigênio para administrar via cateter, se for necessário”, diz Racy.

Via de regra, os hospitais temporários não contarão com respiradores mecânicos e equipamentos de monitorização mais rebuscados — esses estarão nas UTIs tradicionais.

Os leitos serão separados de acordo com certas características do paciente. Casos suspeitos ficarão em uma ala, enquanto os confirmados em outra, por exemplo. A evolução do paciente será acompanhada constantemente até o momento de sua alta.


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