domingo, 24 de fevereiro de 2019

5 filmes do Oscar 2019 para entender racismo

Desde a primeira edição do Oscar, em 1929, apenas seis diretores negros foram indicados ao prêmio de Melhor Diretor – o primeiro deles, somente em 1991. Jordan Peele, indicado em 2018 por Corra!, tornou-se, naquele ano, o único na história a levar o troféu de Melhor Roteiro Original.

Em 2016, a questão da representatividade no Oscar atingiu o ápice com o movimento que ficou conhecido como #OscarsSoWhite (“#OscarTãoBranco”, em inglês). Surgido na internet, ele pedia por mais diversidade na premiação, já que, na edição daquele ano, todos os vinte indicados nas categorias de atuação eram brancos – o mesmo havia acontecido em 2015.

A Academia respondeu com uma mudança nas regras de votação, a fim de incluir mais diversidade entre os votantes. Até 2016, dos mais de 6 mil membros que escolhiam os vencedores do Oscar, 75% eram homens e 92%, brancos. A transformação, apesar de lenta, rendeu resultados: novos membros de diversas etnias entraram, e a vitória de Moonlight em 2018 (drama que acompanha as fases da vida de um jovem negro e homossexual) pode ser vista como um dos efeitos de toda essa discussão.

Oscar 2019

Seja qual for o resultado do Oscar dessa noite, a edição de 2019 seguiu o movimento trazendo, pelo menos, cinco produções nas quais temas como racismo, representatividade, discriminação e desigualdade social aparecem em algum nível. Para Celso Prudente, professor, cineasta e curador da Mostra Internacional de Cinema Negro, isso pode ser um reflexo da chamada “era de consciência da diversidade”, pela qual o cinema dos EUA está passando.

“Nessa era, as minorias fazem uma espécie de revolução da auto-imagem”, explica. De acordo com ele, a tendência é que grupos como negros, mulheres, LGBTs e demais minorias não sejam apenas um objeto no cinema, mas que eles comecem a filmar a si próprios, assumindo o controle e a visão das narrativas. “O cinema negro vem do cinema crítico, que denuncia a opressão vivenciada pelas pessoas vulneráveis”.

A seguir, as cinco obras do Oscar deste ano que abordam estas temáticas:

Pantera Negra

Pantera Negra é um dos poucos filmes de super-herói que se sobressai a este rótulo. É claro, você pode apenas interpretá-lo como apenas uma aventura do bem contra o mal, ambientada no reino fictício de Wakanda, mas fica o aviso: esta é apenas uma das diversas camadas deste filme da Marvel.

“Você tem filmes de super-heróis que são dramas ou comédias de ação, mas Pantera Negra lida com questões de descendência africana”, disse o diretor Ryan Coogler à revista Time. A produção do longa se inspirou em diversas comunidades da África para criar as roupas dos povos que aparecem em tela, trabalho reconhecido nas indicações ao Oscar de figurino e design de produção.

A história do Rei T’Challa virou um fenômeno nos Estados Unidos. A atriz Octavia Spencer, assim como outros artistas de lá, comprou uma sessão inteira para que crianças negras carentes pudessem conferir o filme. Além disso, a Disney, distribuidora do longa, organizou sessões gratuitas em janeiro deste ano, em comemoração ao Mês da História Negra. Pantera Negra, certamente, merece ser visto.

Infiltrado na Klan

Em 1978, um policial negro consegue se infiltrar na Ku Klux Klan, organização dos EUA que defende a supremacia branca – racistas, em bom português. Parece uma história inventada, ao estilo dos filmes de Quentin Tarantino, mas acredite, é real.

Infiltrado na Klan é mais um trabalho do diretor Spike Lee, conhecido pelos seus filmes que abordam a cultura e o movimento negro. De acordo com alguns críticos, o longa merece o Oscar desse ano tanto pelo tema abordado quanto pelo histórico do cineasta. Lanre Bakare, do The Guardian, escreveu: “[Com Infiltrado na Klan,] Lee não apenas apresentou uma lição oportuna sobre como a história se repete, mas também mostrou por que ele é um dos poucos verdadeiros heróis cinematográficos que operam hoje.”

Green Book – O Guia

Sul dos Estados Unidos, 1962. O pianista negro Don Shirley roda o país em uma turnê acompanhado do seu chofer/guarda costas Tony Vallelonga, descendente de italianos. Durante a viagem, eles utilizam o livro verde que dá título ao filme, um guia da época que ajudava a encontrar hotéis, restaurantes e demais estabelecimentos onde negros eram aceitos normalmente.

Pois é. Até meados dos anos 1960, a segregação racial era institucionalizada nos EUA, e Green Book é mais um dos filmes que retrata esse período. Com boas atuações e um roteiro que alterna entre a comédia e o drama, o longa é um dos favoritos para levar o prêmio máximo de 2019.

Se a Rua Beale Falasse

Baseado no livro homônimo do escritor James Baldwin, Se a Rua Beale Falasse acompanha a história de Tish, uma jovem negra que, nos anos 1970, luta para provar a inocência do namorado, Fonny, preso injustamente pela polícia de Nova York.

O filme é o terceiro trabalho de Barry Jenkins, que também dirigiu Moonlight, vencedor do ano passado, e é um sensível relato sobre como a discriminação e a violência policial pode impactar uma família. Helen O’Hara, crítica de cinema da revista Empire, ressalta a valorização que Jenkins faz de seus personagens: “É um filme lindo, mas pesado também. Ele humaniza os homens negros de uma forma que a mídia, muitas vezes, não faz.”

Rua Beale não veio com a mesma força que o seu antecessor e concorre em apenas três categorias (atriz coadjuvante, roteiro adaptado e trilha sonora), mas tinha mérito suficiente para ficar com uma das vagas que sobraram para Melhor Filme.

Black Sheep

Este documentário, produzido pelo jornal The Guardian, concorre ao prêmio de Melhor Documentário em Curta-Metragem. Em 25 minutos, é possível acompanhar a história do jovem Cornelius. Quando criança, ele presenciou um brutal assassinato de outro jovem negro. Assustada com o fato, sua família decide se mudar de Londres para uma pequena cidade no interior da Inglaterra, a fim de escapar da violência.

No entanto, o que eles encontram ao chegarem é uma sociedade extremamente racista, na qual a discriminação está intrínseca desde cedo nas crianças de lá. Black Sheep, narrado em primeira pessoa, fala de uma maneira crua e direta sobre preconceito, aceitação e sobre como é preciso se adaptar para sobreviver em um ambiente hostil.


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