sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Escócia é a maior potência futebolística do mundo

Na última vez que a seleção da Escócia marcou presença em um mundial da Fifa, o mp3 player era a grande novidade tecnológica da época – e o Google, um projeto que sequer havia saído do papel.

Em 1998, na Copa da França, os escoceses fizeram uma participação discreta, sendo eliminados na fase de grupos. Em todas as oito vezes que participaram do torneio (de um total de 21 edições), o roteiro foi o mesmo: jamais avançaram para a fase mata-mata.

Mesmo com esse retrospecto pouco relevante a nível internacional, os escoceses podem se gabar de serem os maiores campeões de futebol do planeta. Isso, claro, segundo o ranking alternativo de contagem de títulos UFWC (sigla em inglês para Campeonato Mundial de Futebol Não-Oficial).

O levantamento é elaborado pelo jornalista e escritor britânico Paul Brown, que define a ideia como “a mais desconhecida porém mais excitante competição de futebol do planeta”.

Seu conceito é bastante simples, e segue a lógica de lutas de boxe ou MMA. Cada vez que uma seleção derrota o atual campeão, é como se tomasse seu cinturão, e passasse a defender o título de país do futebol. Esse status, porém, dura apenas até sua próxima derrota. Dessa forma, cada jogo se torna uma final, com peso de decisão de campeonato.

Como nenhuma equipe no mundo costuma passar longos períodos invictos, é natural que o troféu viva trocando de mãos. Pobre da França, que apesar de ter feito uma campanha irretocável na Copa do Mundo da Rússia em 2018, já desceu do primeiro lugar do pódio. A derrota por 2 a 0 para a Holanda em 17 de novembro, em jogo válido pela Liga das Nações da Europa, foi o primeiro revés desde a final contra a Croácia.

Tirando a faixa de Mbappé e companhia, os holandeses arremataram mais um título para sua vasta coleção. Sim, vasta. Apesar de a Fifa dizer o contrário, a Holanda já foi, sim, campeã do mundo. 51 vezes, no caso, o que a coloca no top 4 de países mais vencedores.

No total, a Holanda já participou de 85 finais mundiais. A primeira defesa recente de título, inclusive, foi bem-sucedida. Ao segurar um empate em 2 a 2 contra a Alemanha em 19 de novembro, também pela Liga das Nações da Europa, o país garantiu a manutenção da coroa. Pelo menos, até a próxima partida internacional.

Segundo Brown, criar essa disputa “tudo ou nada” é uma forma de esquentar as coisas. Confrontos casuais sem grande apelo, dessa forma, são alçados a finais de campeonato. Há bons exemplos disso em um passado recente. Jogos como Peru e Arábia Saudita, em junho de 2018, Nicarágua X Bolívia ou Chile X Islândia, no ano passado, por exemplo, valeram título. E uma oportunidade de países sem tradição alguma no esporte acumulares certas façanhas.

Que o digam Venezuela, Antilhas Holandesas ou Israel, por exemplo. Apesar da tradição nula no futebol, cada um desses países pode se orgulhar de ter vencido um mundial ao menos uma vez. O mesmo vale para Geórgia ou Equador, bicampeões, ou então o surpreendente heptacampeão Zimbábue. A lista completa de campeões, bem como o número de finais disputadas, está disponível para apreciação neste link.

“E a Escócia? O que explica essa vocação anormal como papa-títulos?” Você, leitor, deve estar se perguntando agora. O motivo é simples – e, embora pareça, não tem a ver com as origens britânicas de Paul Brown, autor da brincadeira.

Seleções como a escocesa e a inglesa, líder e vice-líder do ranking, respectivamente, têm o tempo a seu favor. Afinal, o futebol não é chamado de esporte bretão por acaso: foi em terras britânicas que ele se desenvolveu e teve seus primeiros capítulos até ganhar a Europa – e o resto do mundo.

Antes mesmo da existência da Fifa, fundada em 1904, ou da Copa do Mundo, que teve sua primeira edição em 1930, o futebol de seleções já era disputado. A primeira partida do tipo aconteceu em 1872. Na ocasião, a Escócia recebeu a Inglaterra na cidade de Glasgow para um amistoso, que terminou empatado em 0 a 0. Por décadas, e antes mesmo disso ser moda entre seleções, os vizinhos travavam partidas oficiais entre si. E alternavam, portanto, o título de melhor do mundo.

Isso ajuda a explicar no número anormal de “finais disputadas”. No caso da Escócia, foram 149, contra 145 dos ingleses – bem distante da Argentina, que ocupa o terceiro lugar, com 105 embates decisivos. Seleções tradicionais, como as tetracampeãs Alemanha e Itália, ocupam a sétima e décima posição, respectivamente, no ranking de títulos.

Mesmo ostentando cinco estrelas no peito na vida real, o Brasil é somente o sexto para o ranking UFWC: de 71 finais valendo taça, ganhamos singelas 38. E faz tempo que não levantamos o caneco. A última vez que o título esteve com a seleção, em 2015, tudo não durou sequer um campeonato: ganhamos vencendo a Argentina e perdemos para a Colômbia durante a Copa América daquele ano.

Tem saudade do futebol-arte da amarelinha e ficou saudoso do penta de 2002? Não enxergue o copo meio vazio. Quem sabe arrumamos um amistoso contra a Holanda no ano que vem. Ou com quem a tiver derrotado, que seja.


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